Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Confiar, desconfiando - VINICIUS TORRES FREIRE



FOLHA DE SP - 22/12/11

Crédito ao consumidor sobe pouco, salários param de crescer: não houve "explosão" na economia


HÁ UMA EXPLOSÃO do valor dos salários no Brasil.

Há uma bolha imobiliária.

Há bolha de crédito em geral.

Há uma explosão do endividamento das famílias.

As medidas "macroprudenciais" não vão ter efeito no crédito.

As medidas de contenção de gastos do governo são desprezíveis.

As medidas macroprudenciais e de contenção de gastos não vão funcionar e vão levar o Banco Central a aumentar a taxa de juros de novo.

Quem lê comentários de analistas e mídia econômicos, daqui ou de fora, foi informado de que tais coisas aconteceriam ou estavam acontecendo no Brasil.

Erros de previsão, análise e interpretação são o pão com manteiga e o arroz com feijão de quem observa a economia. Projeções estatísticas, então, são como essas capas de chuva de plástico vagabundinho, que vendem em dias de chuva em estádio de futebol: você acaba usando, mas sai molhado e joga logo tudo fora. Não tem muito jeito: sendo o assunto enrolado como é, espantoso é que não sejam ainda mais erradas. Mas considerem:

1) Debates sobre política econômica são debates políticos. Há debates melhores, com emprego mais inteligente da(s) teoria(s), da estatística e dos dados disponíveis. Mas ainda assim se trata de debates políticos no começo, nos meios e nos fins. Logo, como Floriano Peixoto, é preciso confiar desconfiando;

2) "X implica Y, mostra estudo"; "X acaba com Y, dizem analistas": quanto mais enfático, mais duvidoso. Quanto mais "analistas" a gente ouve, mais a convicção se dispersa. Faça duas perguntas boas a um "analista" até então convicto e ele já passa a relativizar o estudo, lembrar que nem tudo é "preto no branco" e que, claro, a conclusão depende de "tudo mais" ficar constante.

ALGUNS FATOS

Ontem saiu o relatório mensal do BC sobre crédito no Brasil. O total de novos empréstimos ao consumidor deve subir 5% neste ano, em termos reais (se o resultado de dezembro vier na média do resto do ano. A conta é do economista Adriano Lopes, do Itaú, em relatório).

No ano passado, o crédito ao consumidor cresceu mais de 15%. Em 2009, ano de pequena recessão no Brasil, cresceu 5%. Como em 2011.

Então, era essa a explosão do crédito no Brasil. As medidas "macroprudenciais e a alta de juros não iriam funcionar". Uhm.

Nesta semana, saiu o resultado da criação de empregos formais em novembro. Quase tão ruim como a de outubro. Nas contas da consultoria LCA, o número médio mensal de empregos formais criados em 2011 deve ser 25% menos que o de 2010. Não chega a ser horrível, pois 2010 foi um ano forte. Mas quede a explosão de salários-preços?

Em setembro e outubro, segundo o IBGE, o rendimento praticamente estagnou em relação aos mesmos meses do ano passado.

Enfim, por falar em exageros, considere-se o resultado das contas externas, divulgado nesta semana: as empresas brasileiras voltaram a captar dinheiro e refinanciar dívidas no exterior. Sim, a situação europeia é crítica, o mundo dança no abismo e pode haver seca de crédito radical. Mas o dado de apenas um mês não faz um verão, nem um inverno de crédito.

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