O GLOBO - 14/12/11
Com quatro anos de atraso - oficialmente o Brasil foi anunciado como promotor da Copa de 2014 em outubro de 2007, mas desde 2006 sabia-se que a decisão da Fifa seria essa - o país começa a tentar montar um mínimo de organização para receber a competição, e já dá demonstrações de que assumiu compromissos maiores do que sua capacidade de realização de grandes eventos.
Questões relacionadas com os estádios de futebol e seu entorno são perfeitamente negociáveis e é aceitável que algumas regras ou leis mudem temporariamente, como a permissão de venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo.
Fez bem o relator da Lei Geral da Copa em não aceitar que a mudança sobre venda de bebidas fosse definida como permanente.
Mesmo que ache ridículo dar meia-entrada para índios e participantes do Bolsa Família, mais essa agora para quem entregar armas de fogo, tudo bem que se negocie com a Fifa essas nossas "especificidades".
Essa categoria mais barata de ingressos faz parte do chamado "grupo quatro", que prevê uma cota de 300 mil entradas, da mesma maneira como foi feito na África do Sul. Nesse caso específico, a Fifa já tem essa experiência com países "emergentes" e não deve haver problemas.
Metade seria para os estudantes e o restante dividido entre torcedores de baixa renda, indígenas e aqueles que entregarem armas, incentivo ao desarmamento que deverá ser regulamentado pelo Congresso.
Idosos e estudantes já teriam esse direito por lei, mas agora também aprovaram o "estatuto do menor", que abrange pessoas de 15 a 29 anos. Exageros brasileiros, mas nada também que "quebre" a poderosa Fifa.
A Fifa, como todos sabem, tem seus patrocinadores, seus interesses econômicos, e o governo brasileiro, que assinou o compromisso de aceitar as suas regras, fez muito bem de não colocar a "soberania nacional" no meio da discussão sobre a meia-entrada e a venda de bebidas alcoólicas.
Proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol faz parte de uma legislação federal, e sua suspensão no período da Copa do Mundo tem que ser negociada com o Congresso.
Mas é uma negociação de fácil resolução, já que não temos razões de fundo religioso nem cultural para proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol.
Trata-se de uma medida preventiva, para evitar brigas e confusões entre as torcidas, que pode ser substituída naquele mês da Copa por outra.
O fato é que quando se candidatou a sediar a Copa do Mundo - ninguém obrigou o país a fazer isso -, o Brasil sabia dos interesses econômicos da Fifa, e se comprometeu a acatá-los.
Ou você quer realizar o evento e aceita as regras, ou chega à conclusão que não vale a pena e não aceita sediar a Copa do Mundo, que no final das contas não passa de um negócio, um grande negócio, que movimenta bilhões e bilhões de pessoas e de dólares em todo o mundo.
É bom para a Fifa que se realize aqui, no país do futebol, único pentacampeão mundial. As imagens que as televisões transmitirão para todo o mundo certamente serão das mais belas já mostradas, mas nos pareceu ser também um bom negócio para o país.
Mas mudar as férias escolares e decretar feriado em dias de jogos, isso é o retrato de um país desorganizado, que não consegue promover um evento dessa magnitude sem mudar a rotina de seu cidadão.
Mostra que o país não conseguiu, apesar do tempo mais que suficiente, fazer as obras viárias que permitiriam a circulação da massa de turistas pelas ruas das cidades que receberão os jogos da Copa do Mundo, juntamente com os seus habitantes.
Trata-se de uma confissão de que não haverá tempo suficiente para terminar as obras necessárias, como corredores de transporte rápido, ampliação do metrô, além dos problemas de atrasos por denúncias de corrupção.
Os aeroportos serão improvisados com puxadinhos patéticos e até mesmo aeroportos militares precisarão ser utilizados para que o trânsito dos turistas seja possível.
Quando há Copa do Mundo, em muitas cidades brasileiras é decretado ponto facultativo, e a maioria das empresas dispensa seus funcionários, ou faz uma pausa durante os jogos, coloca telões para que possam ver os jogos.
Mas nesse caso é uma questão cultural, todos estão empenhados em torcer pela Seleção Brasileira e a produtividade seria fatalmente afetada se os trabalhadores, de todos os níveis, não pudessem acompanhar os jogos.
Mas mudar a rotina do país porque não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo é simplesmente ridículo.
Vamos ter feriado em cidades, como o Rio, que não verá nenhum jogo da Seleção Brasileira, a não ser se ela chegar à final.
A cidade vai parar para que os torcedores de outras seleções possam se locomover com comodidade pelo Rio, ou outra das 12 sedes da Copa, sem notar nossas falhas.
Mas elas continuarão lá, a denunciar nossa incúria.
A versão para a palavra inglesa lobby, que em português já existe com a mesma grafia, que deu origem à denominação de grupos de pressão, tem origem controversa.
Além daquela que dei na coluna de ontem, de conversas de membros do Parlamento com amigos nos lobbies do Congresso, há a história de que o termo se originou no Willard Hotel em Washington DC, frequentado pelo General Ulysses S. Grant, comandante das tropas federais durante a Guerra Civil e presidente dos Estados Unidos.
Grant ia lá para fumar charutos, tomar brandy e conversar, ocasião em que políticos e comerciantes ficavam no lobby tentando aproximar-se dele.
Com quatro anos de atraso - oficialmente o Brasil foi anunciado como promotor da Copa de 2014 em outubro de 2007, mas desde 2006 sabia-se que a decisão da Fifa seria essa - o país começa a tentar montar um mínimo de organização para receber a competição, e já dá demonstrações de que assumiu compromissos maiores do que sua capacidade de realização de grandes eventos.
Questões relacionadas com os estádios de futebol e seu entorno são perfeitamente negociáveis e é aceitável que algumas regras ou leis mudem temporariamente, como a permissão de venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo.
Fez bem o relator da Lei Geral da Copa em não aceitar que a mudança sobre venda de bebidas fosse definida como permanente.
Mesmo que ache ridículo dar meia-entrada para índios e participantes do Bolsa Família, mais essa agora para quem entregar armas de fogo, tudo bem que se negocie com a Fifa essas nossas "especificidades".
Essa categoria mais barata de ingressos faz parte do chamado "grupo quatro", que prevê uma cota de 300 mil entradas, da mesma maneira como foi feito na África do Sul. Nesse caso específico, a Fifa já tem essa experiência com países "emergentes" e não deve haver problemas.
Metade seria para os estudantes e o restante dividido entre torcedores de baixa renda, indígenas e aqueles que entregarem armas, incentivo ao desarmamento que deverá ser regulamentado pelo Congresso.
Idosos e estudantes já teriam esse direito por lei, mas agora também aprovaram o "estatuto do menor", que abrange pessoas de 15 a 29 anos. Exageros brasileiros, mas nada também que "quebre" a poderosa Fifa.
A Fifa, como todos sabem, tem seus patrocinadores, seus interesses econômicos, e o governo brasileiro, que assinou o compromisso de aceitar as suas regras, fez muito bem de não colocar a "soberania nacional" no meio da discussão sobre a meia-entrada e a venda de bebidas alcoólicas.
Proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol faz parte de uma legislação federal, e sua suspensão no período da Copa do Mundo tem que ser negociada com o Congresso.
Mas é uma negociação de fácil resolução, já que não temos razões de fundo religioso nem cultural para proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol.
Trata-se de uma medida preventiva, para evitar brigas e confusões entre as torcidas, que pode ser substituída naquele mês da Copa por outra.
O fato é que quando se candidatou a sediar a Copa do Mundo - ninguém obrigou o país a fazer isso -, o Brasil sabia dos interesses econômicos da Fifa, e se comprometeu a acatá-los.
Ou você quer realizar o evento e aceita as regras, ou chega à conclusão que não vale a pena e não aceita sediar a Copa do Mundo, que no final das contas não passa de um negócio, um grande negócio, que movimenta bilhões e bilhões de pessoas e de dólares em todo o mundo.
É bom para a Fifa que se realize aqui, no país do futebol, único pentacampeão mundial. As imagens que as televisões transmitirão para todo o mundo certamente serão das mais belas já mostradas, mas nos pareceu ser também um bom negócio para o país.
Mas mudar as férias escolares e decretar feriado em dias de jogos, isso é o retrato de um país desorganizado, que não consegue promover um evento dessa magnitude sem mudar a rotina de seu cidadão.
Mostra que o país não conseguiu, apesar do tempo mais que suficiente, fazer as obras viárias que permitiriam a circulação da massa de turistas pelas ruas das cidades que receberão os jogos da Copa do Mundo, juntamente com os seus habitantes.
Trata-se de uma confissão de que não haverá tempo suficiente para terminar as obras necessárias, como corredores de transporte rápido, ampliação do metrô, além dos problemas de atrasos por denúncias de corrupção.
Os aeroportos serão improvisados com puxadinhos patéticos e até mesmo aeroportos militares precisarão ser utilizados para que o trânsito dos turistas seja possível.
Quando há Copa do Mundo, em muitas cidades brasileiras é decretado ponto facultativo, e a maioria das empresas dispensa seus funcionários, ou faz uma pausa durante os jogos, coloca telões para que possam ver os jogos.
Mas nesse caso é uma questão cultural, todos estão empenhados em torcer pela Seleção Brasileira e a produtividade seria fatalmente afetada se os trabalhadores, de todos os níveis, não pudessem acompanhar os jogos.
Mas mudar a rotina do país porque não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo é simplesmente ridículo.
Vamos ter feriado em cidades, como o Rio, que não verá nenhum jogo da Seleção Brasileira, a não ser se ela chegar à final.
A cidade vai parar para que os torcedores de outras seleções possam se locomover com comodidade pelo Rio, ou outra das 12 sedes da Copa, sem notar nossas falhas.
Mas elas continuarão lá, a denunciar nossa incúria.
A versão para a palavra inglesa lobby, que em português já existe com a mesma grafia, que deu origem à denominação de grupos de pressão, tem origem controversa.
Além daquela que dei na coluna de ontem, de conversas de membros do Parlamento com amigos nos lobbies do Congresso, há a história de que o termo se originou no Willard Hotel em Washington DC, frequentado pelo General Ulysses S. Grant, comandante das tropas federais durante a Guerra Civil e presidente dos Estados Unidos.
Grant ia lá para fumar charutos, tomar brandy e conversar, ocasião em que políticos e comerciantes ficavam no lobby tentando aproximar-se dele.