Blog Noblat
14.12.2011
| 16h08m
POLÍTICA
As sugestões que peço durante as conversas no Twitter apresentam boas surpresas e uma delas foi o projeto de lei do Senado nº 111 de 2010. Verdadeiros pedidos de socorro poderiam ser resumidos na frase: “Temos de fazer alguma coisa para conter a epidemia de crack”.
O eixo das vindícias, a internação compulsória dos dependentes, foi fulminada pela turma do afrouxamento penal. Na semana passada, virou estrela de projeto lançado pela presidente Dilma Rousseff.
Tamanha era a objeção à iniciativa que o governo se valeu de sua matilha na mesma internet para aviltar o PLS.
Para granjearem a ira da juventude, os lobos nomeados no Diário Oficial comparavam-no ao filme “Bicho de Sete Cabeças”, em que um rapaz é mandado para o hospício depois de o pai achar um cigarro de maconha em seu casaco.
Em outra frente, o governo enviou técnicos ao Congresso para dizerem, entre outras imposturas, que se a proposição for aprovada as cadeias explodirão de gente cujo único erro é usar droga.
Pela fragilidade dos argumentos se conclui que não leram o texto, síntese das ideias enviadas: fechar as fronteiras para o tráfico, com as Forças Armadas junto às polícias Federal e Rodoviária Federal, Civil e PM; apoio aos familiares e tratamento obrigatório do usuário, após consultado por especialistas, a mando do juiz; punição a gestor público que não fizer estabelecimentos em número suficiente, com profissionais e equipamentos modernos.
Até agora omissa e resistente, Dilma resolveu agir. Assim, de repente, não mais que repente.
Mas nas entrelinhas do gesto nobre escondia a vontade de cessar o tiroteio contra o amigo Fernando Pimentel, o mágico que consegue ao mesmo tempo coordenar campanha presidencial e fazer a própria para o Senado. Nas horas vagas, era consultor de empresas interessadas em contratos milionários com o poder municipal do qual saíra e no federal em que acabava de entrar.
Em vez de ações sérias, planejadas, o Planalto saiu-se com um programa elaborado às pressas. Na típica conta de mentiroso, os números são sempre quebrados (2.462, R$ 670,6, R$ 128,8) e não resistem a uma checagem simples.
Um exemplo são as prometidas 408 Unidades de Acolhimento feitas por R$ 265,7 milhões: para os prédios, o tratamento (internações de seis meses), os remédios, o maquinário – tudo a R$ 650 mil cada.
Estima dados sem qualquer base e inventa figuras como o líder comunitário capacitado para combater entorpecentes. Promete 170 mil. Repetindo: 170 mil líderes comunitários. Num ano de eleições locais como o próximo, os partidos aliados vão adorar a farra: 170 mil líderes comunitários.
O projeto inteiro terá, garante a presidente, R$ 4 bilhões.
Difícil acreditar. Neste ano, segundo a Confederação Nacional de Municípios, o governo empregou somente cerca de R$ 4 milhões contra as drogas. Mil vezes menos.
Apelar para a politicagem e anunciar medidas fictícias é um desrespeito à dor das famílias, uma cratera na esperança de vencer o mal do século.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM/GO)