FOLHA DE SP - 07/12/11
Apesar da inflação ainda alta, observadores econômicos erraram muito sobre o ritmo da atividade
QUE DIFERENÇA faz um trimestre. No primeiro dia de setembro, a gente ouvia choro, ranger de dentes e insultos na praça do mercado, irritado pelo fato de o Banco Central ter cortado os juros. Ontem, a gente viu o Pibinho. Que dirá o "mercado"?
Entre os observadores mais prestantes e intelectualmente honestos, o ceticismo em relação à atitude do BC e ao declínio suficiente da inflação permanece.
Goste-se ou não da trincheira teórica, política ou empresarial de onde falam tais observadores, eles têm bons argumentos. Mas se trata aqui de outra história, de um surto de comportamentos estereotipados e enviesados, com ares técnicos.
Ninguém sabe muito bem que bicho a inflação vai virar lá por março, quando de fato vai ser testada a hipótese do BC sobre o comportamento dos preços. Mas a histeria vista até quase outubro ia muito além da avaliação econômica.
O pessoal do BC acredita que a combinação de arrocho econômico doméstico do primeiro semestre com o tumulto extra da economia europeia na segunda metade do ano reduziria a atividade econômica de modo a levar o IPCA para bem perto da meta de 4,5% em 2012.
Os economistas do governo, de resto, acreditavam que o barrigão inflacionário do início de 2011 havia sido causado por alguns choques passageiros de preços.
Em setembro, porém, muita gente na praça acreditava que:
1) "Haveria uma espiral de preços e salários, com descontrole inflacionário." Sindicatos mais organizados obteriam aumentos fortes de salários e influenciariam reajustes em outras categorias. A economia ficaria mais aquecida, os preços seriam mais contaminados.
Aumentos grandes houve. Mas não se sabe quantos trabalhadores ainda estarão empregados para recebê-los. Empresas maiores não estão conseguindo repassar tal custo para os preços. A inflação cedeu um pouquinho, e muito aumento vem do desorganizado (também em termos sindicais) setor de serviços. Enfim, o mercado de trabalho está apertado, mas por influências que, no curto prazo, seriam dissipadas apenas com altas brutais de juros.
2) "A economia estava aquecida demais, cresceria mais de 4%." As ações do governo não seriam capazes de esfriá-la. Isto é, a contenção de gastos, a alta de juros e outros arrochos de crédito da primeira metade do ano não eram relevantes.
Mas a economia parou de crescer no terceiro trimestre. O gasto federal cresceu um terço do registrado em 2011 (foi um ajuste ruim, pois cortou investimento. Mas foi).
3) "A crise europeia não seria tão ruim." Ou não afetaria o Brasil.
Mais perdoável: a Europa é um tumulto. Mas um observador profissional de economia deveria perceber que, não importa qual solução se adotasse na eurozona (ou nenhuma delas), a bagunça por lá tenderia a durar até 2012, pelo menos.
4) "O BC fez uma "aposta" na piora mundial." Tomou a decisão apressada de baixar juros quando deveria ser o guardião prudente.
O BC poderia de fato ter esperado outra reunião do Copom, mais um mês e meio -não faria muita diferença. Poderia ter apostado também na direção inversa, como já se fez tanta vez no Brasil, desperdiçando produto. Qual o risco melhor?
Os "analistas" deram um vexame ainda mais feio neste ano.
Apesar da inflação ainda alta, observadores econômicos erraram muito sobre o ritmo da atividade
QUE DIFERENÇA faz um trimestre. No primeiro dia de setembro, a gente ouvia choro, ranger de dentes e insultos na praça do mercado, irritado pelo fato de o Banco Central ter cortado os juros. Ontem, a gente viu o Pibinho. Que dirá o "mercado"?
Entre os observadores mais prestantes e intelectualmente honestos, o ceticismo em relação à atitude do BC e ao declínio suficiente da inflação permanece.
Goste-se ou não da trincheira teórica, política ou empresarial de onde falam tais observadores, eles têm bons argumentos. Mas se trata aqui de outra história, de um surto de comportamentos estereotipados e enviesados, com ares técnicos.
Ninguém sabe muito bem que bicho a inflação vai virar lá por março, quando de fato vai ser testada a hipótese do BC sobre o comportamento dos preços. Mas a histeria vista até quase outubro ia muito além da avaliação econômica.
O pessoal do BC acredita que a combinação de arrocho econômico doméstico do primeiro semestre com o tumulto extra da economia europeia na segunda metade do ano reduziria a atividade econômica de modo a levar o IPCA para bem perto da meta de 4,5% em 2012.
Os economistas do governo, de resto, acreditavam que o barrigão inflacionário do início de 2011 havia sido causado por alguns choques passageiros de preços.
Em setembro, porém, muita gente na praça acreditava que:
1) "Haveria uma espiral de preços e salários, com descontrole inflacionário." Sindicatos mais organizados obteriam aumentos fortes de salários e influenciariam reajustes em outras categorias. A economia ficaria mais aquecida, os preços seriam mais contaminados.
Aumentos grandes houve. Mas não se sabe quantos trabalhadores ainda estarão empregados para recebê-los. Empresas maiores não estão conseguindo repassar tal custo para os preços. A inflação cedeu um pouquinho, e muito aumento vem do desorganizado (também em termos sindicais) setor de serviços. Enfim, o mercado de trabalho está apertado, mas por influências que, no curto prazo, seriam dissipadas apenas com altas brutais de juros.
2) "A economia estava aquecida demais, cresceria mais de 4%." As ações do governo não seriam capazes de esfriá-la. Isto é, a contenção de gastos, a alta de juros e outros arrochos de crédito da primeira metade do ano não eram relevantes.
Mas a economia parou de crescer no terceiro trimestre. O gasto federal cresceu um terço do registrado em 2011 (foi um ajuste ruim, pois cortou investimento. Mas foi).
3) "A crise europeia não seria tão ruim." Ou não afetaria o Brasil.
Mais perdoável: a Europa é um tumulto. Mas um observador profissional de economia deveria perceber que, não importa qual solução se adotasse na eurozona (ou nenhuma delas), a bagunça por lá tenderia a durar até 2012, pelo menos.
4) "O BC fez uma "aposta" na piora mundial." Tomou a decisão apressada de baixar juros quando deveria ser o guardião prudente.
O BC poderia de fato ter esperado outra reunião do Copom, mais um mês e meio -não faria muita diferença. Poderia ter apostado também na direção inversa, como já se fez tanta vez no Brasil, desperdiçando produto. Qual o risco melhor?
Os "analistas" deram um vexame ainda mais feio neste ano.