O Globo - 09/12/2011 |
Ocrescimento zero no terceiro trimestre não deixa dúvida sobre a rapidez da desaceleração da economia. A questão agora é se o governo saberá enfrentar a adversidade sem perder de vista objetivos de longo prazo, sem cair no ativismo improvisado e sem deixar que a reação da política econômica fique ao sabor de interesses especiais que, a cada dia, parecem ganhar mais força em Brasília.
Na discussão sobre as causas da rápida desaceleração do crescimento, muita atenção tem sido dada à queda do consumo. Mas é bom não esquecer a retração do investimento. Para justificar a guinada brusca da política monetária anunciada há alguns meses, o Banco Central teve de carregar nas cores do agravamento do quadro econômico mundial. Especialmente no que diz respeito à rapidez da deterioração que deveria ser esperada. A insistência do BC no aviso de que, dessa vez, não se tratava de simples "marolinha", e, sim, de um maremoto, e de que o perigo era iminente, parece ter provocado parada súbita no investimento privado, além de forte desestímulo a decisões mais ousadas de consumo. Não tivesse tal alarme sido acionado só no fim de agosto, os efeitos sobre o nível de atividade do terceiro trimestre teriam sido ainda mais fortes do que foram.
O impacto da retração do investimento privado foi agravado pela queda, em paralelo, do investimento público. Por razões completamente distintas. O governo jamais teve intenção de cortar investimentos em 2011. Sempre deixou isso mais do que claro. Mas, na esteira da interminável onda de escândalos dos últimos meses, viu-se obrigado a desmantelar as cadeias de comando que acionavam o investimento público em vários ministérios. E, como até hoje não conseguiu remontá-las, vai investir este ano muito menos do que havia programado. E bem menos do que foi investido no ano passado.
Na verdade, a gestão do investimento público na esfera federal é hoje um dos pontos mais vulneráveis do governo. Sobre isso, mais eficaz que 10 mil palavras é a foto do canal de transposição do Rio São Francisco, inacabado e já em ruínas, publicada no Estadão de domingo passado. É difícil imaginar retrato mais contundente do desleixo e do desperdício que têm marcado a gestão de programas de investimento público no país. Quem não viu a foto, pode vê-la em www.estadao.com.br/e/transposicao
Para enfrentar a desaceleração do crescimento, o melhor que o governo poderia fazer seria restaurar tão rapidamente quanto possível sua capacidade de investimento e, ao mesmo tempo, criar condições propícias para a recuperação do investimento privado. O problema é que o governo poderá ficar tentado a simplesmente insistir em novas medidas específicas de incentivo ao consumo.
É preciso ter em mente que o cálculo político do Planalto se tornou bem mais adverso. O horizonte encurtou. Lá se foi o primeiro ano do mandato. E, com ele, a expectativa de que, em alguma medida, a prosperidade de 2010 poderia ser reproduzida em 2011. Tudo indica que o crescimento do PIB mal chegará a 3%. A inflação permanece bem acima da meta. E no mês que vem uma economia estagnada terá de absorver um reajuste do salário mínimo de mais de 14%. As perspectivas da economia mundial não são nada promissoras. E a complexa coalizão governista já começa a reposicionar forças para, em menos de dez meses, disputar eleições municipais.
Não será surpreendente se, nesse quadro, a reação da política econômica à crise for marcada pelo ativismo improvisado e imediatista, ao sabor de lobbies de todo tipo. É o mínimo que se pode concluir quando se vê que, em vez de privilegiar medidas horizontais e bem concebidas de estímulo à demanda, o governo se permitiu incluir no pacote anunciado na semana passada algo tão particularista como, por exemplo, a desoneração de eletrodomésticos da linha branca. É por isso que, dia a dia, cresce o número de empresas que constatam que o melhor uso que seus executivos podem dar ao tempo é tomar um avião para Brasília, e tentar extrair favores especiais do governo.
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, dezembro 09, 2011
Crise, improvisação e lobby:Rogerio Furquim Werneck
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
dezembro
(192)
- "O Expresso Berlim-Bagdá"
- Hotéis sem vagas - CELSO MING
- Na ponta do lápis - MIRIAM LEITÃO
- Crescimento exige medidas estruturais - GUSTAVO LO...
- Confusão na defesa comercial - EDITORIAL O ESTADÃO
- Luiz Carlos Mendonça De Barros - Sucesso e fracasso
- Alberto Goldman - O primeiro ano de Dilma: governo...
- Hélio Schwartsman - Brasil potência
- Exército e polícia Editorial - Folha
- Quem pode julgar o juiz? - NELSON MOTTA
- A pedagogia da marquetagem Elio Gaspari
- MARTHA MEDEIROS - Natal para ateus
- O 'sumiço' do gás Claudio J. D. Sales
- Chance desperdiçada Suely Caldas
- Como lidar com os bancos Celso Ming
- Protegendo as crianças João Ubaldo Ribeiro
- Marco Antonio Villa 'Na luta contra a cidadania, ...
- 2012 no rescaldo de 2011 - VINICIUS TORRES FREIRE
- Brasil x EUA: afastamento gradual - MERVAL PEREIRA
- Pequeno grande João - NELSON MOTTA
- Pleno emprego Celso Ming
- Um ano inusitado Dora Kramer
- O lobby do fechamento Rogério Furquim Werneck
- A China é vizinha Fernando Gabeira
- Euroduto - CELSO MING
- Conflito de interesses - ROGÉRIO GENTILE
- Caixa-preta - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Cristina une-se à pior "patota" - CLÓVIS ROSSI
- Ataque à imprensa - MERVAL PEREIRA
- O povo não é bobo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
- Caminho livre - DORA KRAMER
- A injustiça e a revolta - DEMÉTRIO MAGNOLI
- O papel do "Clarín" - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Confiar, desconfiando - VINICIUS TORRES FREIRE
- Sem razão para pessimismo - ALBERTO TAMER
- O governo que não começou - JOSÉ SERRA
- Fascismo quase disfarçado - JOSÉ SERRA
- Já foi tarde - ELIO GASPARI
- Obama, o fraco, respira - VINICIUS TORRES FREIRE
- IED recorde Celso Ming
- Espécieis em extinção Dora Kramer
- A USP dá exemplo para o Brasil seguir José Nêumane...
- O galo cantou Merval Pereira
- Ocupe a sala de aula? Dani Rodrik
- Antes, pode - RICARDO NOBLAT
- O que aprendi com a crise econômica - LUIZ CARLOS ...
- A verdade fica ao longe - DENIS LERRER ROSENFIELD
- A 'marola' da crise já chegou às nossas praias - M...
- Liderança feminina Ateneia Feijó
- A Bolsa Fiemg vale o IPI de 10 mil armários Élio G...
- "Todo en el Estado, todo por el Estado, nada sin e...
- La alarmante devaluación de la democracia Por Joaq...
- Melhor não adoecer João Ubaldo Ribeiro
- JK e o exílio Celso Lafer
- Colapso de um sistema Celso Ming
- O poder supremo de Brasília - Suely Caldas
- Reflexos da crise Míriam Leitão
- A ficção do Amaury Merval Pereira
- 'Não é um caso de governo', diz a presidente Dilma
- A oportunidade perdida dos países árabes Gilles La...
- Visão atual Míriam Leitão
- "RESSACA ÉPICA DA CHINA COMEÇA"!
- Balas na agulha Celso Ming
- O alarme de Krugman e a austeridade Amity Shlaes
- Elogio à impunidade - DORA KRAMER
- Migração da violência é tragédia nacional - EDITOR...
- O outro lado de uma tragédia brasileira - PAULO TA...
- Calor do Nordeste - MIRIAM LEITÃO
- Melhor para os mensaleiros - EDITORIAL O ESTADÃO
- Suspeição Merval Pereira
- Demóstenes Torres -O engodo contra o crack
- Ano incerto - MIRIAM LEITÃO
- Confissão - MERVAL PEREIRA
- E o câmbio? - ANTONIO DELFIM NETTO
- Uma lição para a vida - ROBERTO DaMATTA
- Convidada de honra Dora Kramer
- Cadeados para o Tesouro Rolf Kuntz
- A democracia sob risco Celso Ming
- Risco para a liberdade Gabriel Wedy
- Protecionismo às avessas Clóvis Panzarini
- A mão inteligente Claudio de Moura Castro
- O que é lobby? Merval Pereira
- Responde aí, Pimentel!-Ricardo Noblat
- Litígio supremo - DORA KRAMER
- Uma novela comprida e o Brasil - VINICIUS TORRES F...
- Azedou - CELSO MING
- Triste Judiciário - MARCO ANTONIO VILLA
- Clima do clima - MIRIAM LEITÃO
- Visão estratégica da América do Sul-Rubens Barbosa,
- Mais um consultor - REVISTA VEJA
- Proteção às avessas - JANIO DE FREITAS
- Sem tempo para chorar - RAUL VELLOSO
- O enigma da produtividade - DAVID KUPFER
- Remédio vencido - RUBENS RICUPERO
- Iluminar a história - CARLOS ALBERTO DI FRANCO
- Dilma: bem na foto, mal na foto - MARCELO DE PAIVA...
- Um país resignado - MARCELO COUTINHO
- Adeus à ilusão - RICARDO NOBLAT
- Abaixo Chapeuzinho - JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Sem querer interromper - MARTHA MEDEIROS
-
▼
dezembro
(192)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA