Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Hélio Schwartsman - Brasil potência


Folha

SÃO PAULO - A notícia de que o Brasil desbancará o Reino Unido do posto de sexta potência do planeta diz mais sobre as nossas mentes do que sobre a situação da economia de cada uma dessas nações.


Para começar, o conceito utilizado, o valor do PIB, reflete mais o tamanho da população do que a riqueza de seus habitantes. Em quinto lugar na lista de países mais populosos, o Brasil, com 192 milhões de pessoas, detém o sexto PIB -o que significa que estamos um pouco mais pobres do que "deveríamos". Já o Reino Unido, com 63 milhões, o 22º na lista dos mais povoados, exibe a sétima economia -bom para eles, mesmo porque desenvolvimento não é um jogo de soma zero, no qual, para um país ganhar, outro precisa perder.

Se quiséssemos avaliar a riqueza propriamente dita, uma medida mais adequada seria o PIB "per capita", critério em que o Brasil, com US$ 8.300 por habitante por ano, despenca para a 63ª posição. Os britânicos, com US$ 43.700, ficam em 20º lugar.

Perceber esses mecanismos não exige mais do que noções rudimentares de matemática. O interessante é que, mesmo cientes de que o título de "sexta potência" é um engodo, não deixamos de experimentar um lampejo de satisfação quando lemos no jornal que desbancamos o Império-onde-o-sol-nunca-se-põe. Por quê?

Seres humanos são incapazes até mesmo de pensar sem mobilizar emoções, preferências e outras manifestações inconscientes do cérebro primitivo, as quais influenciam sutil ou descaradamente decisões juízos que acreditamos racionais.

Basta um pequeno viés, como a vontade de que os brasileiros sejam mais ricos ou o desejo de vingança contra as políticas imperialistas britânicas, para que o cérebro se deixe seduzir pela notícia da "sexta potência" e lhe atribua veracidade e relevância. Cair nessa armadilha tem algo de delirante, mas é bem mais fácil do que parece. Na verdade, resistir a esses impulsos é que exige esforço.

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