Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 15, 2011

Agenda cheia - Míriam Leitão


O Globo - 15/09/2011
 
Até o fim de setembro tem muito dia em vermelho no calendário econômico mundial. Hoje o programa de ajuste grego começa a ser avaliado. Dia 21 tem reunião do Fed. Nos dias 23 e 24 o FMI e o Banco Mundial fazem a reunião anual. No dia 29 o Parlamento alemão vai aprovar - ou não - a ampliação do Fundo Europeu de Estabilização. Por isso o mercado continuará na gangorra.
O dólar no Brasil subiu 8,2% em 14 dias. Era isso que os ministérios da área econômica queriam e o Banco Central alertava que poderia acontecer. Os ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda torciam para que o dólar invertesse a curva. O BC alertou várias vezes e tomou decisões preventivas para evitar o excessivo endividamento em dólar, exatamente porque em momento de crise o câmbio pode se inverter, como já ocorreu no passado.
Mesmo sendo desejado e previsto, quando o dólar começou a subir voltou a preocupação com o efeito inflacionário. No governo o que se diz é que hoje os canais de transmissão da alta do dólar são menores do que já foram. Apesar de o Brasil estar mais integrado ao mundo, é uma economia maior, mais capaz de absorver a mudança na cotação. Pelo sim, pelo não, o Banco Central ontem não comprou dólares no fim do dia pela primeira vez desde dezembro de 2010.
Para o economista Luiz Roberto Cunha o efeito pode ser menor do que já foi no passado, mas diz que o país terá mais uma pressão:
- Perde-se a válvula de escape e agora tudo pressiona a inflação, mas o impacto mais imediato é em bens de consumo duráveis que estão num contexto industrial mais fraco com a desaceleração do crédito. A dúvida é se continuará subindo quando o BC anuncia que está entrando no ano US$70 bilhões de investimento externo. A alta do dólar continua dependendo da situação externa.
A situação no mundo continuará incerta por mais algum tempo. Este mês será ainda de expectativas e sobressaltos. O programa grego está sendo avaliado pelo trio que está no comando do problema europeu: FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Eles vão analisar se a Grécia está fazendo esforço dentro do combinado de ajuste das contas públicas e podem concluir que mesmo se esforçando a Grécia não consegue atingir os objetivos pela queda do crescimento econômico. Vão também ver se houve a adesão de 90% dos bancos privados na parcela que cabe a eles de renegociação da dívida. Ontem, esse percentual ainda estava em torno de 75%. Ou seja, as três instituições terão que dizer que passo será dado.
Na reunião do Fed a grande questão é se o banco central americano vai fazer a terceira injeção de liquidez ou se tomará outra medida. A avaliação feita no Brasil é que talvez o Fed procure outro caminho, como o de comprar mais títulos de longo prazo para forçar a curva de juros mais para baixo. Isso quer dizer que através dessa medida de política monetária a instituição confirmaria o que tem falado: de manter os juros em quase zero até 2013. Mas esse é um dos últimos cartuchos que tem a autoridade monetária americana para tentar elevar um pouco o ritmo da atividade econômica do país. O resto é torcer para que o pacote pró-emprego do presidente Barack Obama seja aprovado, o que é muito incerto.
Na Europa, ontem os dois maiores líderes, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, elevaram o tom das declarações em favor da ajuda à Grécia. O melhor cenário - mas ainda bem difícil de ser atingido - é de aprofundar o federalismo fiscal da região. O que significa aumentar a união e estabelecer parâmetros de controle das contas públicas que todos os países se comprometeriam a cumprir. Mas esse é o segundo passo. O primeiro seria aprovar o Fundo de Estabilização de 440 bilhões em todos os parlamentos. O mais importante teste será dia 29, em Berlim. A dúvida é: e se tudo der certo, e o Fundo for aprovado, ele será suficiente para evitar a propagação em contágio da crise da dívida?
Por isso o Brasil tem que estar preparado. O governo tem instrumentos na mão para usar em caso de algum pânico que ocorra no mercado por algum agravamento repentino. O Banco Central tem reservas, empréstimo compulsório para liberar, formas de aumentar a liquidez na economia. Ajudaria mais se o governo estivesse fazendo o que promete em termos fiscais.
Enquanto o mundo oscila nessa corda bamba, o Brasil está com o seu velho problema inflacionário. Hoje mesmo quem tem uma visão mais otimista, como Luiz Roberto Cunha, que ainda acha possível que a inflação feche o ano sem estourar o teto da meta - isso significa cair de 7,3% atuais para 6,5% no fim do ano - está elevando as previsões para 2012. Apesar do agravamento da situação externa, as commodities continuam com preço alto, principalmente as agrícolas.
Até o fim do mês a agenda do mundo está lotada vivendo de notícia em notícia. Ontem o dia começou mal pelo rebaixamento dos bancos franceses, melhorou com a declaração de Merkel-Sarkozy e teve esperança quando o primeiro-ministro Wen Jiabao avisou que pode ajudar no socorro à Europa. Mas pediu contrapartida: o reconhecimento de que a China é uma economia de mercado. A China não dá ponto sem nó.

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