- 17/07/11
Governo de Dilma Rousseff conseguirá domar economia em 2011, mas já negligencia providências para sustentar o crescimento até 2015
O primeiro ano de Dilma Rousseff será de contenção na política econômica e de freio na alta de preços, no gasto público e no crescimento exagerado. É provável que o governo tenha relativo sucesso na realização dessas metas.
Ainda assim, o esforço de aparar excessos não terá sido bastante para que mesmo o crescimento de médio prazo, até 2015, seja possível sem que se acumulem desequilíbrios perigosos.
A inflação ainda será alta demais no ano que vem, em que está prevista a retomada do gasto do governo tanto em transferência de renda (programas sociais e INSS) quanto em investimento (impulsionado pelo pré-sal e pelos desperdícios das obras esportivas).
Governos municipais e estaduais, depois dos habituais freios de primeiro ano de mandato, voltarão a gastar; 2012, de resto, é ano de eleição -e 2014 também.
O aumento nominal do salário mínimo será de 14% (e de 9% a 10% até o final do mandato). Assim, subirão as despesas da Previdência e de governos regionais.
O nível de emprego ainda será historicamente elevado. O aumento da renda das famílias pressionará ainda mais a alta inflação no setor de serviços, que não é afetado imediatamente pela restrição de crédito imposta de modo gradual pelo Banco Central.
O real forte, que encarece o produto nacional, e o aperto no crédito têm contido a produção industrial, que está quase no mesmo nível de abril de 2010. Ainda assim, a inflação persiste.
A retomada do gasto público e a elevação do nível de investimento e do consumo das famílias são incompatíveis no curto prazo com inflação menor e com deficit externo moderado (pois a importação compensa a insuficiência da oferta doméstica). Um desses três itens da demanda no país tem de ser reprimido para se preservar algum equilíbrio econômico.
O aumento do preço de produtos brasileiros de exportação tem mantido sob controle o deficit externo, mas também colabora para pressionar a inflação.
A perspectiva é, pois, de juros altos pelo menos até 2013. Em decorrência, haverá valorização do real e encolhimento da indústria. A economia continuará dependente de exportação de commodities, desperdícios em obras e transferências de renda.
O acúmulo dessas tensões vai limitar o crescimento. Exigirá um ajuste, que não deve vir antes da eleição de 2014. Ou que pode sobrevir no caso de crise externa grave, que terá reflexos tanto piores no país quanto maiores forem os desarranjos na economia.
O governo não parece se incomodar com a gradual deterioração macroeconômica. Perde, assim, a oportunidade de acelerar o crescimento numa conjuntura mundial e demográfica favorável.
Entrevista:O Estado inteligente
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