O Globo
O desfecho da crise dos "restos a pagar" das emendas parlamentares só
fez reforçar a percepção disseminada pela classe política de que o
governo não tem estrutura para aguentar as pressões da sua própria
base aliada. Depois de ter recuado na decisão de não pagar as emendas
de 2009, o governo teve que voltar atrás outra vez, desautorizando o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, que anunciara que, para não
prejudicar o equilíbrio fiscal, seriam suspensos os pagamentos das
emendas de 2010 nos próximos 3 meses.
Nova rebelião da base aliada e nova mudança do governo, com a ministra
das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, vindo a público para
garantir que tudo não passara de um mal-entendido e que as emendas de
2010 serão liberadas juntamente com as de 2009.
Com isso, o governo está dando "um péssimo sinal", conforme definição
da própria Dilma, que, antes do recuo, comentara que seria impossível
aceitar o pleito dos aliados, sob o risco de passar uma mensagem
negativa de afrouxamento, carregada do simbolismo de que o governo
estaria abrindo mão do ajuste fiscal.
Segundo esses comentários com políticos, publicados nos jornais e não
desmentidos, Dilma considera que controle inflacionário e estabilidade
econômica são preceitos fundamentais para a credibilidade do governo.
Agora, as autoridades econômicas correm para dizer que o equilíbrio
fiscal não está ameaçado pelo pagamento das emendas parlamentares.
Os permanentes recuos não combinam com o propalado estilo assertivo da
presidente Dilma, que, aliás, foi motivo de outro princípio de crise
que não se sabe se foi superado.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao fazer uma homenagem aos 80 anos
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro da
Justiça e por quem foi indicado para o Supremo Tribunal Federal,
provocou constrangimentos nos petistas presentes ao afirmar que FHC
nunca levantou a voz para ninguém, nunca criou tensionamento entre
aqueles que o assessoravam.
A referência foi interpretada como uma indireta ao tal estilo
"assertivo" da presidente Dilma.
Em seguida, Nelson Jobim fez um desabafo dizendo que os tempos mudaram
e hoje é obrigado a conviver com "idiotas", num discurso que o
ex-senador Tasso Jereisatti classificou de "cheio de recados".
A presidente Dilma, que teria ficado irritada com o discurso, pediu
explicações ao ministro Jobim em uma audiência ontem pela manhã, e
este disse que esclareceria o mal-entendido em uma nota oficial, que
não foi divulgada por enquanto.
Se por um lado o fato de o ministro da Defesa ser um civil, ainda por
cima político, ameniza o que poderia ser uma crise séria se o ocupante
do cargo fosse um militar. A reação da presidente aos comentários do
ministro Jobim, que é do PMDB, está sendo considerada como mais uma
prova de que ela não encontrou a justa medida para exercer seus
poderes presidenciais.
Ou não está segura de que tenha força política para exercê-los.
Essa diferença entre o que aparenta e o que faz na realidade faz com
que suas mudanças constantes de opinião passem a impressão de que a
presidente Dilma é mais de fazer bravatas do que de decidir.
Mudar de opinião pode ser um bom sintoma, desde que essa mudança venha
através do convencimento, da discussão política.
Foi o que disse o ex-presidente Fernando Henrique ao afirmar que está
na hora de voltarmos a fazer política na base do convencimento, e não
da pressão.
Mas a presidente Dilma tem a tendência de ser autoritária, anunciar
posições definitivas, que quando não se concretizam passam a sensação
de que ela fala mais do que faz.
Isso está dando à classe política a sensação de que ela não aguenta
uma pressão. É ruim qualquer presidente ficar com a imagem de
fraqueza, de que não tem força para manter suas posições.
Ter um presidente autoritário, que não muda de posição por nada nesse
mundo, é muito ruim também, mas a mudança de posição tem que
corresponder a um diálogo, a uma negociação, senão essa relação do
Executivo com o Legislativo se transforma em um eterno enfrentamento
em que a presidente não pode perder sempre, como vem acontecendo.
Faz toda diferença mudar de opinião porque foi convencida num processo
democrático, ou porque foi derrotada.
A mesma situação vem se repetindo nas nomeações para cargos públicos
ou lideranças do governo, onde ela em determinadas ocasiões parece
enfrentar o PMDB ou o PT, mas depois recua.
Há um enfrentamento silencioso entre ela e o presidente do Senado José
Sarney, um de seus maiores aliados, mas que está agastado com a
nomeação de Flavio Dino do PCdoB para a Embratur.
Dino foi derrotado por Roseana Sarney na disputa pelo governo do
Maranhão, e acabou sendo nomeado para o mais importante cargo do
Ministério do Turismo, onde está alocado um protegido de Sarney.
O PT, por sua vez, não gostou da nomeação do deputado Mendes Ribeiro,
do PMDB, para líder do governo no Congresso.
Esse foi outro caso em que a presidente foi vencida pelo PMDB. Ela
chegou a vetar o nome de Mendes Ribeiro, alegando que ele não se
comportara bem na votação do Código Florestal.
Pensou em nomear o senador Eduardo Braga, também do PMDB, mas do
Senado, que ensaia uma atuação independente.
Para tentar constranger o PMDB, que insistia em Mendes Ribeiro, chegou
a ameaçar nomear o petista Pepe Vargas. Ao fim e ao cabo, nomeou mesmo
o indicado inicialmente pelo PMDB, passando a sensação de que as
dissidências nas votações polêmicas como o Código Florestal acabarão
sendo absorvidas pelo governo.
Os sinais de fragilidade de posições já estão sendo captados pelos
radares sensíveis dos políticos, especialmente do PMDB, e é quase
certo que veremos novos testes dentro em breve em votações importantes
do Congresso.
Entrevista:O Estado inteligente
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