Nos centros do mundo, aparecem alertas sobre endividamento excessivo e outros defeitos do país
No final da década passada, houve uma bolha de interesse pelo Brasil. A inflação de informações positivas ficou evidente em 2009, quando se notou que o país não iria à breca devido à crise financeira no centro do mundo, como de costume.
Uma imagem sintomática e caricata dessa mania foi a capa da revista britânica "The Economist" de novembro de 2009, aquela do Cristo Redentor decolando como um foguete. Faz uns dois, três meses, começaram a aparecer furos na bolha de simpatia pelo país.
Críticas a respeito de taras e defeitos nacionais nunca cessaram, é verdade. Mas, quando o país cresceu e muita gente ganhou dinheiro, os muxoxos ficaram mais discretos, maquiados pelo jorro de dinheiro, de investimento direto, empréstimos ou aplicações em títulos de dívida.
Agora, a gente pode ouvir e ler estrangeiros a reclamar do seguinte:
1) A economia brasileira está "superaquecida". Cresce acima de suas possibilidades, o que causa inflação e pode provocar "bolhas";
2) O real está supervalorizado. O país, ainda pobre, é agora um dos mais caros do mundo. Isso seria sinal de desarranjo grave da política econômica e/ou da bonança temporária, resultado de excesso de crédito barato no mundo e de preços exageradamente altos de commodities que exportamos. Pior, o real forte dá mais impulso à bolha e prejudica a indústria;
3) Os consumidores estão superendividados. A inadimplência cresce mesmo com a renda ainda alta e o desemprego historicamente baixo. Isso é sinal de que os consumidores não sabem administrar seu caixa e também de que os bancos concederam crédito ruim.
Mas o "superaquecimento" passou. A economia se desacelera, embora exista grande controvérsia sobre o ritmo adequado do PIB, as taxas de juros, a política fiscal, mas se trata do assunto de sempre.
O real está de fato fortíssimo, pelos motivos apontados pelos nossos críticos (crédito mundial, commodities, desarranjo da política econômica). No caso de alguma reviravolta, podemos levar um tombo feio. Numa crise financeira aguda, com seca de capitais ou com a queda abrupta do preço de commodities, pode haver desvalorização, inflação e anos de crescimento medíocre, para pensar apenas no curto prazo.
O alerta mais interessante trata do excesso de endividamento dos consumidores. Não porque seja mesmo verdade, mas porque o assunto é novidade.
As estatísticas de endividamento das famílias pelo mundo são complexas de fazer, entender e comparar. O nível de endividamento médio pode ser indicador enganoso (o do Brasil é baixo, na média).
A capacidade dos novos consumidores brasileiros de crédito de lidar com suas dívidas e rendas é uma incógnita, assim como a distribuição do peso da dívida pelas famílias (pode haver gente sem dívida e gente pendurada, "fora da média").
A Febraban soltou ontem um comentário a respeito. Diz que não há risco de estouro da inadimplência (tudo o mais constante), que os bancos têm provisões enormes (reservas para cobrir calotes) e que o crédito que mais se expandiu (consignado e veículos) é dos mais seguros, e que o crédito imobiliário é pífio. O risco maior, diz a associação dos bancos, é o de haver menos espaço para o consumo crescer via crédito.
Uma imagem sintomática e caricata dessa mania foi a capa da revista britânica "The Economist" de novembro de 2009, aquela do Cristo Redentor decolando como um foguete. Faz uns dois, três meses, começaram a aparecer furos na bolha de simpatia pelo país.
Críticas a respeito de taras e defeitos nacionais nunca cessaram, é verdade. Mas, quando o país cresceu e muita gente ganhou dinheiro, os muxoxos ficaram mais discretos, maquiados pelo jorro de dinheiro, de investimento direto, empréstimos ou aplicações em títulos de dívida.
Agora, a gente pode ouvir e ler estrangeiros a reclamar do seguinte:
1) A economia brasileira está "superaquecida". Cresce acima de suas possibilidades, o que causa inflação e pode provocar "bolhas";
2) O real está supervalorizado. O país, ainda pobre, é agora um dos mais caros do mundo. Isso seria sinal de desarranjo grave da política econômica e/ou da bonança temporária, resultado de excesso de crédito barato no mundo e de preços exageradamente altos de commodities que exportamos. Pior, o real forte dá mais impulso à bolha e prejudica a indústria;
3) Os consumidores estão superendividados. A inadimplência cresce mesmo com a renda ainda alta e o desemprego historicamente baixo. Isso é sinal de que os consumidores não sabem administrar seu caixa e também de que os bancos concederam crédito ruim.
Mas o "superaquecimento" passou. A economia se desacelera, embora exista grande controvérsia sobre o ritmo adequado do PIB, as taxas de juros, a política fiscal, mas se trata do assunto de sempre.
O real está de fato fortíssimo, pelos motivos apontados pelos nossos críticos (crédito mundial, commodities, desarranjo da política econômica). No caso de alguma reviravolta, podemos levar um tombo feio. Numa crise financeira aguda, com seca de capitais ou com a queda abrupta do preço de commodities, pode haver desvalorização, inflação e anos de crescimento medíocre, para pensar apenas no curto prazo.
O alerta mais interessante trata do excesso de endividamento dos consumidores. Não porque seja mesmo verdade, mas porque o assunto é novidade.
As estatísticas de endividamento das famílias pelo mundo são complexas de fazer, entender e comparar. O nível de endividamento médio pode ser indicador enganoso (o do Brasil é baixo, na média).
A capacidade dos novos consumidores brasileiros de crédito de lidar com suas dívidas e rendas é uma incógnita, assim como a distribuição do peso da dívida pelas famílias (pode haver gente sem dívida e gente pendurada, "fora da média").
A Febraban soltou ontem um comentário a respeito. Diz que não há risco de estouro da inadimplência (tudo o mais constante), que os bancos têm provisões enormes (reservas para cobrir calotes) e que o crédito que mais se expandiu (consignado e veículos) é dos mais seguros, e que o crédito imobiliário é pífio. O risco maior, diz a associação dos bancos, é o de haver menos espaço para o consumo crescer via crédito.