Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 16, 2011

Estado da desunião Editorial Folha de São Paulo

Finanças dos EUA chegam perto de colapso diante do impasse político criado pela polarização crescente entre republicanos e democratas

Depois de numerosos alertas das agências de classificação de risco e de paralisantes confrontos entre democratas e republicanos, aproxima-se o momento da verdade para o governo dos EUA.
Se até 2 de agosto não for aumentado o limite de endividamento de US$ 14,3 trilhões (alcançado há poucas semanas), Barack Obama será obrigado a postergar gastos para manter o pagamento dos juros da dívida pública. Na pior hipótese, seria inevitável um calote parcial, que teria consequências mundiais e imprevisíveis.
Após anos de orçamento equilibrado no governo do democrata Bill Clinton, a deterioração foi acentuada nos últimos dez anos.
Os maciços cortes de impostos do republicano George W. Bush, as guerras, a recessão e os pacotes de estímulo fiscal desde 2008 jogaram o deficit para 10% do PIB em 2010. Hoje, o governo precisa tomar emprestados 40 centavos para cada dólar que gasta.
Estimativas da comissão de orçamento do Congresso dos EUA indicam que, sem ajuste fiscal substancial, a dívida pública americana superará 100% do PIB em 2021 e atingirá 190% em 2035. Para a comissão, um corte de US$ 4 trilhões em dez anos seria suficiente para estabilizar a dívida.
Foi com esse valor em mira que Obama iniciou negociações com o Congresso. Seu objetivo era convencer a oposição a aumentar o limite de endividamento. Reconheceu que cortes substanciais de gastos, além de uma necessidade econômica, são um imperativo político. Trata-se de uma bandeira tradicional dos republicanos, com crescente apoio na opinião pública, e Obama já se prepara para a campanha presidencial de 2012.
Da redução proposta pelo presidente, 80% viriam com cortes de gastos, incluindo programas sociais e sistema de saúde. Apenas 20% seriam aumentos de impostos, em especial para os mais ricos -palavra de ordem democrata.
Para republicanos moderados, a proposta de Obama era palatável. Ocorre que facções mais radicais do partido, como o movimento Tea Party, se recusam a aceitar acordo que envolva aumento de impostos. Para esse grupo, alertas de calote iminente não passam de uma conspiração do governo.
Daí o impasse e a corrida frenética, com reuniões diárias entre Obama e lideranças do Congresso, nos últimos dias, para tentar um acordo. O plano ambicioso de cortar US$ 4 trilhões parece fora de questão. Busca-se agora um corte parcial da ordem de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões, em troca do aumento do limite da dívida.
Ninguém crê que o governo dos EUA cometerá um suicídio financeiro. Fica, no entanto, a certeza de um sistema político em deterioração, polarizado e incapaz de encaminhar reformas estruturais.
Com um índice de desemprego renitente e uma recuperação econômica frágil, os EUA se mostram desunidos num momento crucial.

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