FOLHA DE S. PAULO
Em relação a 2008, país cria 612 mil empregos a menos; criação de vagas em março não evita alta do desemprego
DE JANEIRO a março de 2008, o país criou 612 mil empregos formais a mais do que no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, 2009 está num vermelho-sangue escuro em matéria de emprego formal.
As indústrias ligadas à produção de veículos, de material de transporte e metalúrgica são dois dos três subsetores que, proporcionalmente, mais demitiram no primeiro trimestre (o outro foi a indústria de materiais elétricos e comunicações).
Quando o governo renovou a redução do IPI sobre carros, disse que um "acordo de cavalheiros" suspenderia demissões. Depois de abril.
Evitar desemprego por decreto é um equívoco. Mas, ainda que seja para valer, o pacto dos cavalheiros, intermediado pelos sindicatos, cai um pouco no ridículo: muitas cabeças já foram cortadas no primeiro trimestre e no final de 2008. O pacto protege uma porta arrombada e escorrega no leite derramado.
Ontem, o governo disse que pretende arrumar uma redução de impostos também para os frigoríficos. Os produtores de carnes foram ao matadouro devido à queda violenta das exportações e, em alguns casos, devido a apostas alucinadas no preço do dólar. Apenas um grande frigorífico demitiu mais gente que a Embraer. A fabricante de aviões foi parar nos tribunais e mereceu um show de Lula, que considerava as demissões "inaceitáveis". São aceitáveis as demissões nos frigoríficos?
Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, março foi "o mês da virada do Brasil". Lupi destaca a informação, factualmente também correta, de que em março foram criados 34 mil empregos formais. Isto é, entre demitidos e contratados, sobraram 34 mil empregados em março deste ano (em março de 2008, sobraram 206 mil). É um número positivo, decerto. De novembro de 2008 até janeiro de 2009, mais gente havia sido demitida do que contratada: o "saldo" havia ficado negativo em 797 mil empregos formais. Na média, foram quase 266 mil empregos a menos por mês.
O problema da "virada" de Lupi reside no fato de que os brasileiros que passam a procurar emprego todos os anos mal vão perceber que o saldo de empregos foi de 34 mil em março. Vão sentir na pele é que, de novembro de 2008 até março de 2009, caiu em 753 mil a "criação" de empregos formais (em relação ao período de novembro de 2007 a março de 2008). A depender de quem faz a conta, estima-se que é preciso criar de 90 mil a 120 mil empregos formais por mês apenas para incorporar os novos trabalhadores.
Isto é, o desemprego formal cresce; assim, os novos empregos que sobram pagam menos, em média. Apenas a indústria de transformação (exclui a extrativa, como a de minérios) perdeu 501 mil empregos desde novembro de 2008. É o grande setor que paga salários maiores.
Enfim, note-se que foi na administração pública que o emprego mais cresceu, proporcionalmente, no trimestre (afora o subsetor de "ensino"). No governo. Bidu.
Muito bem que a desgraça no emprego tenha ficado menor. Em abril, felizmente, outra vez a tristeza deve ser um pouco menor. Mas os indícios presentes de despiora da economia apenas nos dizem que empobrecemos bem e, por ora, apenas paramos de ficar mais pobres.
Em relação a 2008, país cria 612 mil empregos a menos; criação de vagas em março não evita alta do desemprego
DE JANEIRO a março de 2008, o país criou 612 mil empregos formais a mais do que no primeiro trimestre deste ano. Ou seja, 2009 está num vermelho-sangue escuro em matéria de emprego formal.
As indústrias ligadas à produção de veículos, de material de transporte e metalúrgica são dois dos três subsetores que, proporcionalmente, mais demitiram no primeiro trimestre (o outro foi a indústria de materiais elétricos e comunicações).
Quando o governo renovou a redução do IPI sobre carros, disse que um "acordo de cavalheiros" suspenderia demissões. Depois de abril.
Evitar desemprego por decreto é um equívoco. Mas, ainda que seja para valer, o pacto dos cavalheiros, intermediado pelos sindicatos, cai um pouco no ridículo: muitas cabeças já foram cortadas no primeiro trimestre e no final de 2008. O pacto protege uma porta arrombada e escorrega no leite derramado.
Ontem, o governo disse que pretende arrumar uma redução de impostos também para os frigoríficos. Os produtores de carnes foram ao matadouro devido à queda violenta das exportações e, em alguns casos, devido a apostas alucinadas no preço do dólar. Apenas um grande frigorífico demitiu mais gente que a Embraer. A fabricante de aviões foi parar nos tribunais e mereceu um show de Lula, que considerava as demissões "inaceitáveis". São aceitáveis as demissões nos frigoríficos?
Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, março foi "o mês da virada do Brasil". Lupi destaca a informação, factualmente também correta, de que em março foram criados 34 mil empregos formais. Isto é, entre demitidos e contratados, sobraram 34 mil empregados em março deste ano (em março de 2008, sobraram 206 mil). É um número positivo, decerto. De novembro de 2008 até janeiro de 2009, mais gente havia sido demitida do que contratada: o "saldo" havia ficado negativo em 797 mil empregos formais. Na média, foram quase 266 mil empregos a menos por mês.
O problema da "virada" de Lupi reside no fato de que os brasileiros que passam a procurar emprego todos os anos mal vão perceber que o saldo de empregos foi de 34 mil em março. Vão sentir na pele é que, de novembro de 2008 até março de 2009, caiu em 753 mil a "criação" de empregos formais (em relação ao período de novembro de 2007 a março de 2008). A depender de quem faz a conta, estima-se que é preciso criar de 90 mil a 120 mil empregos formais por mês apenas para incorporar os novos trabalhadores.
Isto é, o desemprego formal cresce; assim, os novos empregos que sobram pagam menos, em média. Apenas a indústria de transformação (exclui a extrativa, como a de minérios) perdeu 501 mil empregos desde novembro de 2008. É o grande setor que paga salários maiores.
Enfim, note-se que foi na administração pública que o emprego mais cresceu, proporcionalmente, no trimestre (afora o subsetor de "ensino"). No governo. Bidu.
Muito bem que a desgraça no emprego tenha ficado menor. Em abril, felizmente, outra vez a tristeza deve ser um pouco menor. Mas os indícios presentes de despiora da economia apenas nos dizem que empobrecemos bem e, por ora, apenas paramos de ficar mais pobres.