O GLOBO
Setenta por cento dos americanos estão com medo de perder o emprego, ou que isso aconteça com alguém da família, mas quase ninguém acha que é culpa do presidente Barack Obama. Ele passou da metade dos cruciais 100 dias com alta popularidade, sem grande sucesso na área econômica que não lhe tirou a popularidade, e uma bem-sucedida viagem internacional.
Uma pesquisa do "New York Times"/CBS News mostra que os americanos continuam culpando o ex-presidente George Bush pelo desastre econômico que vivem. O Partido Republicano está com a pior avaliação em 25 anos.
A estreia internacional do presidente Obama era aguardada. Afinal, o que foi mais repetido por todos os seus adversários, inclusive sua atual secretária de Estado, é que ele não saberia o que fazer no primeiro dia no cargo. Senador de primeiro mandato, sem ter exercido cargo executivo, ele estava sendo eleito para o governo do país mais poderoso, num mundo cada vez mais complexo, numa crise de proporções globais, com duas guerras sem fim. A julgar pelo resultado dessa primeira viagem internacional, no front externo, sempre uma obsessão dos americanos, ele se saiu muito bem.
O mais marcante em Barack Obama é a noção que ele passa de que sabe que o mundo mudou e continuará mudando. No G-20 foi esse o recado, o de que não é mais o caso de reunir meia dúzia de países com poder de vida e morte sobre o resto do planeta.
Obama surpreendeu os analistas por sua desenvoltura e sua habilidade na diplomacia mundial. Parecia tudo, menos um estreante. Deixou mensagens fortes, como o que disse na Turquia: "Não estamos em guerra com o mundo muçulmano." A CNN comentou que essa frase não é nova, foi dita por Bush, mas ninguém ouvia. Como ouvir? Tudo o que ele fazia e dizia desmentia a frase. Com Obama, ganhou sentido.
A outra marca de suas passagens pelo G-20, em Londres, pela reunião da Otan, em Estrasburgo, e pela Turquia foi ele ter feito questão de mostrar suas claras diferenças em política externa em relação a seu antecessor. Talvez essas diferenças tenham ficado ainda mais patentes, por causa da óbvia mudança de estilo na diplomacia presidencial. Ao fim da reunião do G-20, os jornalistas perguntaram a Obama como ele se distinguia de George W. Bush nas relações internacionais.
Setenta por cento dos americanos estão com medo de perder o emprego, ou que isso aconteça com alguém da família, mas quase ninguém acha que é culpa do presidente Barack Obama. Ele passou da metade dos cruciais 100 dias com alta popularidade, sem grande sucesso na área econômica que não lhe tirou a popularidade, e uma bem-sucedida viagem internacional.
Uma pesquisa do "New York Times"/CBS News mostra que os americanos continuam culpando o ex-presidente George Bush pelo desastre econômico que vivem. O Partido Republicano está com a pior avaliação em 25 anos.
A estreia internacional do presidente Obama era aguardada. Afinal, o que foi mais repetido por todos os seus adversários, inclusive sua atual secretária de Estado, é que ele não saberia o que fazer no primeiro dia no cargo. Senador de primeiro mandato, sem ter exercido cargo executivo, ele estava sendo eleito para o governo do país mais poderoso, num mundo cada vez mais complexo, numa crise de proporções globais, com duas guerras sem fim. A julgar pelo resultado dessa primeira viagem internacional, no front externo, sempre uma obsessão dos americanos, ele se saiu muito bem.
O mais marcante em Barack Obama é a noção que ele passa de que sabe que o mundo mudou e continuará mudando. No G-20 foi esse o recado, o de que não é mais o caso de reunir meia dúzia de países com poder de vida e morte sobre o resto do planeta.
Obama surpreendeu os analistas por sua desenvoltura e sua habilidade na diplomacia mundial. Parecia tudo, menos um estreante. Deixou mensagens fortes, como o que disse na Turquia: "Não estamos em guerra com o mundo muçulmano." A CNN comentou que essa frase não é nova, foi dita por Bush, mas ninguém ouvia. Como ouvir? Tudo o que ele fazia e dizia desmentia a frase. Com Obama, ganhou sentido.
A outra marca de suas passagens pelo G-20, em Londres, pela reunião da Otan, em Estrasburgo, e pela Turquia foi ele ter feito questão de mostrar suas claras diferenças em política externa em relação a seu antecessor. Talvez essas diferenças tenham ficado ainda mais patentes, por causa da óbvia mudança de estilo na diplomacia presidencial. Ao fim da reunião do G-20, os jornalistas perguntaram a Obama como ele se distinguia de George W. Bush nas relações internacionais.
"Não devemos ficar embaraçados com isso", respondeu. Para ele, os Estados Unidos exercem melhor sua liderança "quando ouve, reconhece que o mundo é um lugar complicado e que teremos que atuar em parceria com outros países". Ele tem palavras surpreendentes, como "humildade" ou "nem sempre temos a melhor resposta".
Nada parecido com Bush, que se comportava como dono da verdade e senhor do universo. O mundo polarizado de George W. Bush deu lugar ao mundo plural de Obama. A ação unilateral está cedendo lugar à consciência de que o caminho do multilateralismo dá resultados melhores, mais duráveis e mais legítimos. Até com pequenos gestos, como a deferência simpática que fez ao presidente Lula, Obama mostrou que tem uma habilidade importante na diplomacia. Ser capaz de criar empatia é fundamental para um líder de um país que enfrentou tanta animosidade.
Alguns críticos dizem que os encontros, tanto o do G-20, quanto o da Otan, terminaram em uma unidade aparente de posições, porque os Estados Unidos aceitaram a indisposição europeia a negociar cedendo em questões-chaves. Obama queria que os encontros fossem bem-sucedidos, não quis impor a vontade de seu país e recuou em vários pontos. A Europa também. Essa atitude não hegemônica evitou o impasse e manteve o ambiente desimpedido para negociações em circunstâncias econômicas menos difíceis.
Com a Alemanha, por exemplo, havia duas questões difíceis. A primeira era a dúvida sobre se o país estaria disposto a investir pesado, como os Estados Unidos, na recuperação econômica mundial, ou se ficaria esperando a melhora para alavancar suas exportações e economia. Isso geraria crescente déficit comercial nas relações comerciais entre os dois países. A segunda questão era o resgate do sistema bancário da Europa Central. Os Estados Unidos queriam o envolvimento direto dos bancos centrais e dos governos dos países. A Alemanha queria o FMI.
Nas duas questões, Obama concordou com a posição alemã, evitando conflito e impasse. Na Otan, os críticos acharam que ele não conseguiu todo o apoio que pediu ao pacto no Afeganistão.
Na Turquia, Obama marcou, mais uma vez, sua diferença com George W. Bush. Ele falou de valores em comum que estavam sendo esquecidos e surpreendeu: "Muitos americanos têm muçulmanos em suas famílias. Eu sei, porque sou um deles." Chegou mais perto. Recusou a postura hegemônica à la Bush, do tipo "para ser meu amigo, faça o que eu quero". Resultado: as lideranças que o ouviram saíram encantadas e muito mais predispostas ao diálogo.
A viagem ao Iraque foi a mais previsível das surpresas. Seu discurso foi coerente com o que tem dito sobre os iraquianos assumirem o controle do país. A comemoração da tropa ao vê-lo derruba a tese de que os militares gostam mesmo é dos republicanos.
A crise econômica está longe do fim, as guerras estão longe do fim, um mundo com poder mais bem dividido é ainda uma miragem. Mas, ao fim dos últimos sete dias, tudo parece um pouco mais fácil.
Nada parecido com Bush, que se comportava como dono da verdade e senhor do universo. O mundo polarizado de George W. Bush deu lugar ao mundo plural de Obama. A ação unilateral está cedendo lugar à consciência de que o caminho do multilateralismo dá resultados melhores, mais duráveis e mais legítimos. Até com pequenos gestos, como a deferência simpática que fez ao presidente Lula, Obama mostrou que tem uma habilidade importante na diplomacia. Ser capaz de criar empatia é fundamental para um líder de um país que enfrentou tanta animosidade.
Alguns críticos dizem que os encontros, tanto o do G-20, quanto o da Otan, terminaram em uma unidade aparente de posições, porque os Estados Unidos aceitaram a indisposição europeia a negociar cedendo em questões-chaves. Obama queria que os encontros fossem bem-sucedidos, não quis impor a vontade de seu país e recuou em vários pontos. A Europa também. Essa atitude não hegemônica evitou o impasse e manteve o ambiente desimpedido para negociações em circunstâncias econômicas menos difíceis.
Com a Alemanha, por exemplo, havia duas questões difíceis. A primeira era a dúvida sobre se o país estaria disposto a investir pesado, como os Estados Unidos, na recuperação econômica mundial, ou se ficaria esperando a melhora para alavancar suas exportações e economia. Isso geraria crescente déficit comercial nas relações comerciais entre os dois países. A segunda questão era o resgate do sistema bancário da Europa Central. Os Estados Unidos queriam o envolvimento direto dos bancos centrais e dos governos dos países. A Alemanha queria o FMI.
Nas duas questões, Obama concordou com a posição alemã, evitando conflito e impasse. Na Otan, os críticos acharam que ele não conseguiu todo o apoio que pediu ao pacto no Afeganistão.
Na Turquia, Obama marcou, mais uma vez, sua diferença com George W. Bush. Ele falou de valores em comum que estavam sendo esquecidos e surpreendeu: "Muitos americanos têm muçulmanos em suas famílias. Eu sei, porque sou um deles." Chegou mais perto. Recusou a postura hegemônica à la Bush, do tipo "para ser meu amigo, faça o que eu quero". Resultado: as lideranças que o ouviram saíram encantadas e muito mais predispostas ao diálogo.
A viagem ao Iraque foi a mais previsível das surpresas. Seu discurso foi coerente com o que tem dito sobre os iraquianos assumirem o controle do país. A comemoração da tropa ao vê-lo derruba a tese de que os militares gostam mesmo é dos republicanos.
A crise econômica está longe do fim, as guerras estão longe do fim, um mundo com poder mais bem dividido é ainda uma miragem. Mas, ao fim dos últimos sete dias, tudo parece um pouco mais fácil.