Esse mundão algo subjetivo chamado política, que nada mais é do que o exercício do poder, é surpreendente. A rigor, na reunião de quinta-feira, os chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20) não produziram nada de tão decisivo para controlar a crise. Mas as coisas ocorreram e foram comunicadas de forma tal que passaram a impressão de que os governantes comandam. E que o comando é eficaz.
Nada de grandioso ocorreu. Não se traçaram as linhas do novo paradigma do setor produtivo mundial. Não se definiu o que poderia ser a nova arquitetura financeira global. Ninguém sequer examinou a possibilidade de se criar uma nova moeda internacional de reserva. Nenhuma das pilastras do capitalismo moderno foi removida. Apesar do que se disse desde setembro (quando a crise recrudesceu), foram reafirmados os fundamentos da ideologia dominante.
Tampouco foi decidido o ataque aos focos da crise. Nenhum dos 29 parágrafos do comunicado oficial avançou sobre o que será feito para combater a paradeira da produção e o desemprego no epicentro da crise e em áreas adjacentes.
Ninguém avançou solução aos ativos podres nem à deterioração do crédito e dos ativos hipotecários nos Estados Unidos. Apesar da insistência do governo americano antes da reunião, não se montou nenhum novo pacote fiscal para assegurar a retomada da atividade produtiva.
Houve, sim, o tal trilhão, ou seja, o US$ 1,1 trilhão que deve ser repassado ao Fundo Monetário Internacional, parte com a venda das reservas de ouro, outra com a subscrição de novas cotas (de capital), e outra ainda com a emissão de bônus que o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e o presidente Lula garantiram que subscreveriam. Mas os recursos, cuja totalização não foi bem explicada, se destinarão aos emergentes e países pobres mais necessitados. Não concorrerão para reativar as locomotivas globais.
Também não saíram grandes avanços na regulação. O presidente Barack Obama vetou a reivindicação dos países centrais europeus de que fossem criadas instituições globais para fiscalizar bancos globais. O que saiu foi a criação de um organismo supranacional, o Conselho de Estabilidade Financeira, que funcionará como detector de fumaça. O combate aos focos de incêndio será feito por instituições oficiais nacionais: tesouros, bancos centrais e agências de supervisão.
Ficou decidido o enquadramento de fundos de hedge e de outras instituições que possam gerar crise sistêmica. Mas não se sabe como isso se dará. E o mesmo se pode dizer das agências de avaliação de risco.
Quanto aos paraísos fiscais, o texto atende mais a pressões políticas do que à necessidade de controle. A própria China avisou que ninguém mexeria nos paraísos dela, Hong Kong e Macau. Parece também retórica a afirmação de que "o sigilo bancário acabou". Imagine se qualquer um puder xeretar a conta de qualquer um. E, se tiver alguma eficácia, a determinação de regras à remuneração dos executivos de bancos não terá nada com o controle da crise.
Por tudo quanto se viu até aqui, a espuma produzida nesta cúpula do G-20 foi um sucesso político. Por enquanto, está difícil ver nas suas conclusões algum sucesso econômico.
Entrevista:O Estado inteligente
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