JORNAL DO BRASIL
Na temporada de escândalos estimulada pela antecipação da campanha eleitoral por iniciativa do presidente Lula com o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff sem consulta ao desprezado Partido dos Trabalhadores, o pequeno município de São Benedito, a 300 km de Fortaleza, credencia-se à conquista da taça da corrupção. Não pelo volume de dinheiro, mas pela singularidade da trapaça: a compra de votos com dinheiro falso.
Da modéstia de mais uma trampa na série que enriquece uma longa coleção de roubos no cofre da Viúva, o caso do município cearense distingue-se pela criatividade dos autores. E certamente que a curiosidade pelo desfecho da proeza merece ser acompanhada pela mídia. A Polícia Federal informa que os inquéritos instaurados estão andando no passo tardo da burocracia. A perícia nas cédulas anexadas ao processo será realizada pela Polícia Federal, com a ajuda do Banco Central.
Num requinte de cuidado, o Ministério Público Federal deverá ouvir os eleitores que aparecem em um vídeo gravado pela oposição e que acusam correligionários do prefeito Júnior Brandão, do impoluto PMDB, de propor a barganha do voto por R$ 100 e R$ 200. E, para fecho do primeiro capítulo da novela da corrupção em dose dupla, o detalhe esclarecedor: o caso só foi descoberto porque os vendedores de voto por notas falsas, na urgência do dinheiro falso caído do céu, desandaram a gastar a fortuna em compras na feira da cidade. O olho treinado dos feirantes desconfiou daquelas notas de tosco acabamento.
A aparente irrelevância de uma malsucedida compra de votos, mesmo com o ineditismo da dose dupla do dinheiro falso, ganha relevo no preocupante cenário nacional, com evidentes sinais de que, no governo e na oposição, o controle vai escapando das lideranças. E, nos dois lados, as iniciativas no clima de salve-se quem puder estão sendo articuladas no segundo escalão.
O otimismo do presidente Lula, arranhado pela sucessão de palpites equivocados para tentar esconder os rombos que a crise na economia mundial abriram na frágil improvisação da equipe econômica, já não têm a mesma credibilidade dos bons tempos de ontem.
Nem as medidas de emergência, como o corte na taxa básica de juros de 1,5 ponto, para 1,25% ao ano, promovido pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), contentaram os empresários e trabalhadores, que reclamam a timidez do governo.
Mas é na área política que os reflexos da crise não apenas agravam os embaraços crônicos, com destaque para a sucessão de escândalos que encurralam o Congresso no beco sem saída das desculpas esfarrapadas. Em cada canto, uma nova denúncia. No Senado, o pagamento de R$ 6,2 milhões de horas extras aos servidores dos gabinetes durante o período de férias de janeiro detonou uma série de reuniões para encontrar a saída sem prejuízo de um centavo para ninguém.
No movimento que se apresenta como de Anticorrupção, criado no Senado, a preocupação mais urgente busca fórmulas para o financiamento das campanhas, com tendência para o financiamento público, que é uma faca de dois gumes afiados. A campanha eleitoral precipitada pelo presidente Lula para carimbar o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff deve entrar num compasso de espera. Não é provável que as viagens semanais a pretexto de fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sejam interrompidas. Mas uma meia trava já foi anunciada com a agenda de compromissos internacionais do presidente para os próximos meses. E, com o presidente ausente, a ministra-candidata não correrá o risco de uma decepção.
Na oposição, a mesma toada da hesitação na surda luta de bastidores dos governadores José Serra, de São Paulo, e o mineiro Aécio Neves pela cabeça da chapa. Sobra tempo para os tucanos optarem por uma das saídas clássicas, da Convenção do partido à prévia que tanto incomoda o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em um mês, o panorama mudou. A crise na economia do mundo é uma dor de cabeça que lateja com o medo do que está a caminho. O governo e a oposição têm uma viga podre na escora da crise moral e ética que respinga nos três poderes, mas inunda como chuva torrencial o mais desmoralizado Congresso, desde o fim da ditadura militar.
Na temporada de escândalos estimulada pela antecipação da campanha eleitoral por iniciativa do presidente Lula com o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff sem consulta ao desprezado Partido dos Trabalhadores, o pequeno município de São Benedito, a 300 km de Fortaleza, credencia-se à conquista da taça da corrupção. Não pelo volume de dinheiro, mas pela singularidade da trapaça: a compra de votos com dinheiro falso.
Da modéstia de mais uma trampa na série que enriquece uma longa coleção de roubos no cofre da Viúva, o caso do município cearense distingue-se pela criatividade dos autores. E certamente que a curiosidade pelo desfecho da proeza merece ser acompanhada pela mídia. A Polícia Federal informa que os inquéritos instaurados estão andando no passo tardo da burocracia. A perícia nas cédulas anexadas ao processo será realizada pela Polícia Federal, com a ajuda do Banco Central.
Num requinte de cuidado, o Ministério Público Federal deverá ouvir os eleitores que aparecem em um vídeo gravado pela oposição e que acusam correligionários do prefeito Júnior Brandão, do impoluto PMDB, de propor a barganha do voto por R$ 100 e R$ 200. E, para fecho do primeiro capítulo da novela da corrupção em dose dupla, o detalhe esclarecedor: o caso só foi descoberto porque os vendedores de voto por notas falsas, na urgência do dinheiro falso caído do céu, desandaram a gastar a fortuna em compras na feira da cidade. O olho treinado dos feirantes desconfiou daquelas notas de tosco acabamento.
A aparente irrelevância de uma malsucedida compra de votos, mesmo com o ineditismo da dose dupla do dinheiro falso, ganha relevo no preocupante cenário nacional, com evidentes sinais de que, no governo e na oposição, o controle vai escapando das lideranças. E, nos dois lados, as iniciativas no clima de salve-se quem puder estão sendo articuladas no segundo escalão.
O otimismo do presidente Lula, arranhado pela sucessão de palpites equivocados para tentar esconder os rombos que a crise na economia mundial abriram na frágil improvisação da equipe econômica, já não têm a mesma credibilidade dos bons tempos de ontem.
Nem as medidas de emergência, como o corte na taxa básica de juros de 1,5 ponto, para 1,25% ao ano, promovido pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), contentaram os empresários e trabalhadores, que reclamam a timidez do governo.
Mas é na área política que os reflexos da crise não apenas agravam os embaraços crônicos, com destaque para a sucessão de escândalos que encurralam o Congresso no beco sem saída das desculpas esfarrapadas. Em cada canto, uma nova denúncia. No Senado, o pagamento de R$ 6,2 milhões de horas extras aos servidores dos gabinetes durante o período de férias de janeiro detonou uma série de reuniões para encontrar a saída sem prejuízo de um centavo para ninguém.
No movimento que se apresenta como de Anticorrupção, criado no Senado, a preocupação mais urgente busca fórmulas para o financiamento das campanhas, com tendência para o financiamento público, que é uma faca de dois gumes afiados. A campanha eleitoral precipitada pelo presidente Lula para carimbar o lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff deve entrar num compasso de espera. Não é provável que as viagens semanais a pretexto de fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sejam interrompidas. Mas uma meia trava já foi anunciada com a agenda de compromissos internacionais do presidente para os próximos meses. E, com o presidente ausente, a ministra-candidata não correrá o risco de uma decepção.
Na oposição, a mesma toada da hesitação na surda luta de bastidores dos governadores José Serra, de São Paulo, e o mineiro Aécio Neves pela cabeça da chapa. Sobra tempo para os tucanos optarem por uma das saídas clássicas, da Convenção do partido à prévia que tanto incomoda o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em um mês, o panorama mudou. A crise na economia do mundo é uma dor de cabeça que lateja com o medo do que está a caminho. O governo e a oposição têm uma viga podre na escora da crise moral e ética que respinga nos três poderes, mas inunda como chuva torrencial o mais desmoralizado Congresso, desde o fim da ditadura militar.