O ESTADO DE S. PAULO
Na primeira eleição de Bill Clinton, em 1994, quando perguntavam ao seu principal assessor, James Carville, qual o mote da campanha, ele repetia: "É a economia, estúpido!".
Os EUA estavam em recessão, com perdas de emprego, era fácil atacar o Bush pai por isso.
Em 2008, Obama também se elegeu principalmente com a economia. Se os eleitores americanos tinham alguma dúvida sobre a necessidade de mudança, a crise econômica acabou com ela.
A diferença é que, na era Clinton, a recessão era muito branda e, para falar a verdade, a recuperação já estava a caminho no momento do voto. Poderosas forças da economia real começavam a agir, como a tecnologia da informação (com seus ganhos de produtividade), a ampliação da globalização (com a entrada dos ex-países socialistas no capitalismo e no comércio mundial), a expansão da China e, claro, o sistema financeiro que espalhava capitais abundantes e baratos pelo mundo todo. Tanto que Clinton pôde forçar as agências hipotecárias a relaxar os critérios de concessão de empréstimo para a compra da casa própria, política que, antes de gerar o crash do subprime turbinado no sistema financeiro, promoveu anos de crescimento da construção civil.
Ou seja, Clinton assumiu no início de um fantástico ciclo de prosperidade.
Obama topa com um problema de dimensões inimagináveis até bem pouco tempo atrás, e com um enorme obstáculo político: ele sabe que a solução passa pelo resgate do sistema financeiro com dinheiro público, mas sabe também que o público americano está farto dessas ajudas aos bancos.
Na mídia e na política, frequentemente a coisa aparece como "dinheiro do contribuinte para salvar banqueiros inescrupulosos e ladrões". E não é mesmo assim? - dizem todos diante da condenação de Madoff.
Aliás, na última sexta-feira, em meio à cobertura desse caso, o New York Times notava que os tabloides americanos, normalmente dedicados à vida das celebridades, estavam ocupando suas páginas com histórias da farra da "América corporativa e financeira".
Tudo isso adiciona obstáculos à política de resgate do sistema financeiro. Torna-se difícil distinguir entre gastar dinheiro público para colocar em funcionamento bancos e sistemas financeiros, dos quais depende toda a atividade econômica, e doar dinheiro do contribuinte que perdeu o emprego para banqueiros bandidos.
O bilionário Warren Buffet, eleitor, amigo e colaborador de Obama, disse em entrevista recente à TV CNBC: "Há mensagens confusas e o público americano não entende... Eles sentem que não sabem o que está acontecendo e sua reação é a de se retrair... (a saída) depende enormemente não apenas da sabedoria das políticas do governo, mas da maneira pela qual são comunicadas adequadamente".
Em São Paulo, na semana passada, um ex-diretor do Fed (o banco central americano), Frederic Mishkin, disse que o governo Obama, por medo da reação popular à ajuda aos bancos, está atrasando movimentos mais firmes. E se arrisca a cair em medidas que simplesmente empurram o problema para a frente (impedem a quebra dos bancos, mas não resolvem a falta de capital). Foi o que o Japão fez nos anos 90. Levou mais de dez anos para resolver a crise bancária, um período todo de recessão.
É como se o Obama soubesse o que tem de fazer, mas não faz por temor da reação popular. Logo, é a política, estúpido - ou é a comunicação, estúpido.
Obama obviamente sabe desse obstáculo. Há poucos dias, apresentou desculpas antecipadas por "ser obrigado" a resgatar os bancos. Disse que era penoso ajudar um setor que ganhara tanto dinheiro e causara tantos problemas, disse que compreendia o mal-estar dos contribuintes, mas o que se vai fazer?
Políticos frequentemente topam com esses dilemas: as políticas cujos resultados positivos aparecem a médio e a longo prazo e cujos efeitos imediatos são ou parecem danosos.
Não precisa ir longe para encontrar exemplos. Eles sobram aqui no Brasil. Hoje, todo mundo diz que o sistema financeiro brasileiro é sólido, bem regulado e capitalizado, por isso suporta a crise. O presidente Lula alardeia isso mundo afora. Mas procurem no Google o que o mesmo Lula dizia do Proer, o programa que, nos anos 90, salvou os bancos e o sistema.
Hoje, todo mundo alardeia as forças modernas da economia brasileira, como telecomunicações e companhias exportadoras (Vale, Embraer, por exemplo). Mas procurem lá atrás o que se dizia da privatização desses setores e empresas.
Aliás, na semana passada, saiu a primeira sentença absolvendo Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e outros executivos que haviam comandando a privatização da Telebrás. Diz a sentença que todos agiram em nome do interesse público e acrescenta que nem os denunciantes, os petistas Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini à frente, nem o Ministério Público apresentaram provas.
Na verdade, os denunciantes não estão mais interessados nisso. No governo, estão mais ocupados em gerir o setor e ajudar a montar grandes companhias.
Alguns dirão que a força do sistema financeiro brasileiro está nos bancos públicos que FHC não conseguiu privatizar. Falso. Assim como o Proer arrumou o setor privado, outro programa, o Proes, reformou e capitalizou os bancos públicos (R$ 8 bilhões, dinheiro de 10 anos atrás, só para o Banco do Brasil), deixando-os prontos para a atuação atual.
Mas Gustavo Loyola, que, como presidente do Banco Central, pilotou essas políticas, ainda tem um caminhão de processos a responder.
Sempre se comentou que o governo FHC não conseguiu comunicar suas políticas. Warren Buffet está dizendo coisa semelhante para Obama.
Entrevista:O Estado inteligente
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