FOLHA DE SP - 17/01
Ritmo do varejo no final de 2013 foi o pior de uma década impossível de repetir e ainda bem bom
O RITMO DAS VENDAS do comércio não cresce tão pouco desde o final da crise dos anos horríveis de 2001 a 2003. O aumento da vendas do comércio em outubro e novembro de 2013 foi o menor desde meados de 2004 (na medida do crescimento acumulado em 12 meses).
Essa é uma constatação que rende afirmações e manchetes do tipo "comércio tem o pior ano em uma década". É verdade e não é.
Para começar, o que quer dizer "o comércio não cresce tão pouco"? Até novembro, dado mais recente disponível e divulgado ontem pelo IBGE, o comércio cresceu 4,4% (nos 12 meses contados até novembro). Só na China 4,4% é "pouco".
Mas 4,4% é um ritmo muito inferior ao registrado de 2004 a 2012. Nesses anos, o crescimento médio anual foi de incríveis e de fato chineses 7,9%. Trata-se de um ritmo suficiente para mais que dobrar o volume de vendas do comércio em uma década. Entre 2004 e 2012, a população brasileira cresceu uns 13%.
Não parece possível repetir os anos de disparada do consumo dos anos douradinhos de 2004 a 2012, em parte movido a um aumento rapidíssimo do crédito, da redução do desemprego (da casa dos 12% para 5%), de aumentos reais de salários e de aumentos reais de transferências sociais.
Nesses anos, a capacidade de endividamento das famílias diminuiu, a capacidade de endividamento do governo foi para o bico do corvo e o Brasil passou a consumir demais no exterior, a ter deficit externo e depois deficit externo no nível chatinho de agora (isto é, de certo modo, passou a "tomar emprestado" cada vez mais no exterior a fim de consumir). Como cereja desse bolo, indicador do limite da alta do consumo, temos inflação persistente a 6%.
Em suma, como o país tem crescido mais devagar, há limites para o crescimento do total dos salários. Não havendo mais aumento de crédito, o consumo segue mais ou menos o ritmo do crescimento salarial mais comedido.
Isto posto, mesmo no momento de baixa desse ciclo animado, o consumo cresce a 4,4% ao ano, talvez ainda um pouco acima das nossas possibilidades de agora. Quão acima das nossas possibilidades é a questão interessante.
O Banco Central continua a elevar a taxa de juros a fim de, obviamente, limitar o consumo e conter as expectativas de que a inflação vai desgarrar dos 6%.
Dados outros problemas, qual seria, pois, a perspectiva de crescimento do consumo nos próximos anos?
Em relatório publicado ontem, os economistas do Itaú Unibanco Aurélio Bicalho e Luka Barbosa acreditam que o ritmo do próximo biênio será ainda mais fraco que o do final do ano passado.
"Nosso cenário é de moderação do crescimento do varejo. O crescimento mais lento da massa salarial real, o menor nível da confiança dos consumidores, o aumento das taxas de juros reais e o ritmo moderado de crescimento do crédito são compatíveis com um ritmo de expansão do varejo mais próximo de 3,0% a 3,5% anualizados neste ano e no ano que vem", escreveram os economistas.
Horrível? De dezembro de 2001 a março de 2004, o crescimento das vendas foi SEMPRE negativo (no acumulado em 12 meses), chegando a cair mais de 4%.
Ritmo do varejo no final de 2013 foi o pior de uma década impossível de repetir e ainda bem bom
O RITMO DAS VENDAS do comércio não cresce tão pouco desde o final da crise dos anos horríveis de 2001 a 2003. O aumento da vendas do comércio em outubro e novembro de 2013 foi o menor desde meados de 2004 (na medida do crescimento acumulado em 12 meses).
Essa é uma constatação que rende afirmações e manchetes do tipo "comércio tem o pior ano em uma década". É verdade e não é.
Para começar, o que quer dizer "o comércio não cresce tão pouco"? Até novembro, dado mais recente disponível e divulgado ontem pelo IBGE, o comércio cresceu 4,4% (nos 12 meses contados até novembro). Só na China 4,4% é "pouco".
Mas 4,4% é um ritmo muito inferior ao registrado de 2004 a 2012. Nesses anos, o crescimento médio anual foi de incríveis e de fato chineses 7,9%. Trata-se de um ritmo suficiente para mais que dobrar o volume de vendas do comércio em uma década. Entre 2004 e 2012, a população brasileira cresceu uns 13%.
Não parece possível repetir os anos de disparada do consumo dos anos douradinhos de 2004 a 2012, em parte movido a um aumento rapidíssimo do crédito, da redução do desemprego (da casa dos 12% para 5%), de aumentos reais de salários e de aumentos reais de transferências sociais.
Nesses anos, a capacidade de endividamento das famílias diminuiu, a capacidade de endividamento do governo foi para o bico do corvo e o Brasil passou a consumir demais no exterior, a ter deficit externo e depois deficit externo no nível chatinho de agora (isto é, de certo modo, passou a "tomar emprestado" cada vez mais no exterior a fim de consumir). Como cereja desse bolo, indicador do limite da alta do consumo, temos inflação persistente a 6%.
Em suma, como o país tem crescido mais devagar, há limites para o crescimento do total dos salários. Não havendo mais aumento de crédito, o consumo segue mais ou menos o ritmo do crescimento salarial mais comedido.
Isto posto, mesmo no momento de baixa desse ciclo animado, o consumo cresce a 4,4% ao ano, talvez ainda um pouco acima das nossas possibilidades de agora. Quão acima das nossas possibilidades é a questão interessante.
O Banco Central continua a elevar a taxa de juros a fim de, obviamente, limitar o consumo e conter as expectativas de que a inflação vai desgarrar dos 6%.
Dados outros problemas, qual seria, pois, a perspectiva de crescimento do consumo nos próximos anos?
Em relatório publicado ontem, os economistas do Itaú Unibanco Aurélio Bicalho e Luka Barbosa acreditam que o ritmo do próximo biênio será ainda mais fraco que o do final do ano passado.
"Nosso cenário é de moderação do crescimento do varejo. O crescimento mais lento da massa salarial real, o menor nível da confiança dos consumidores, o aumento das taxas de juros reais e o ritmo moderado de crescimento do crédito são compatíveis com um ritmo de expansão do varejo mais próximo de 3,0% a 3,5% anualizados neste ano e no ano que vem", escreveram os economistas.
Horrível? De dezembro de 2001 a março de 2004, o crescimento das vendas foi SEMPRE negativo (no acumulado em 12 meses), chegando a cair mais de 4%.