FOLHA DE SP - 22/01
Fundo faz alerta de riscos para 'países emergentes' em 2014; carapuça cabe bem no Brasil
NA REVISÃO das estimativas do FMI para a economia mundial, publicada ontem, há uma espécie de retratinho do Brasil. As perspectivas para 2014 estão ainda melhores para a média do mundo inteiro, mas não para o Brasil. Para piorar, vários dos trechos do pequeno relatório encaixam como uma carapuça puída na nossa cabeça.
Dado o histórico de erros, quando não perversidades, a gente tende a ler os textos do FMI com o pé atrás. Mas, sob o excelente e ponderado Olivier Blanchard (economista-chefe do Fundo), pode-se economizar nos grãos de sal.
De mais interessante, há o alerta de riscos para "economias emergentes". Em geral, os alertas não estão associados explicitamente ao Brasil. Porém, o retrato falado parece nos descrever. De resto, no caso do Brasil a revisão da estimativa de crescimento foi para baixo.
"Muitas outras economias emergentes e em desenvolvimento começaram a se beneficiar de uma demanda externa mais forte em economias avançadas e na China [que passaram a consumir e importar mais]", escreve o pessoal do FMI, não pensando no Brasil. Em muitas economias, porém, "incertezas de política [econômica]" e "gargalos" prejudicam os investimentos --como aqui.
Até agora, segundo o FMI, as reações à mudança da política monetária dos Estados Unidos, que começou em dezembro, foram pequenas. Mas realocação de investimentos financeiros e saídas de capital provavelmente devem ocorrer como resultado do fim do despejo de dinheiro do banco central (Fed) na economia americana. Isto é, o dinheiro deve migrar de "emergentes" para os EUA.
"Quando combinada com fraquezas domésticas, as consequências [da mudança nos EUA] podem ser saídas agudas de capital e ajustes da taxa de câmbio ("fuga" de dólares e desvalorização do real, como já temos visto)."
Não se trata de novidade que a banca mundial tem colocado o Brasil no grupo de meia dúzia de países mais sujeito a tais problemas.
Quais são essas "fraquezas domésticas"? Governos que suscitam dúvidas sobre sua capacidade de controlar suas dívidas (que têm déficits demasiados), além de inflação e deficit externos chatinhos.
O Brasil não apresenta números dramáticos nesses quesitos, mas as contas públicas pioraram nos últimos três anos, a inflação é persistente faz quatro e o deficit em conta-corrente cresceu rapidamente por meia década. Economias com tais deficiências "precisam administrar o risco de potenciais reversões do fluxo de capital".
O que fazer, na visão do FMI? Permitir que o real se desvalorize (o que tende a reduzir do deficit externo). Mas desvalorizações aceleram a inflação. O que fazer? Apertar a política macroeconômica (reduzir gastos do governo, elevar a taxa de juros), diz, para não variar, o FMI.
Enfim, isso tudo quer dizer que o Brasil está à beira de enfrentar uma fuga atropelada de dólares? Não. Além do mais, ninguém sabe do ritmo da mudança na política econômica americana, menos ainda da reação que tal mudança vai suscitar.
Ainda assim, mesmo que os EUA não nos causem tumulto maior, o diagnóstico a respeito das fragilidades brasileiras continua valendo. Enfim, no momento, grosso modo não temos alternativa à receita-padrão do Fundo.
Fundo faz alerta de riscos para 'países emergentes' em 2014; carapuça cabe bem no Brasil
NA REVISÃO das estimativas do FMI para a economia mundial, publicada ontem, há uma espécie de retratinho do Brasil. As perspectivas para 2014 estão ainda melhores para a média do mundo inteiro, mas não para o Brasil. Para piorar, vários dos trechos do pequeno relatório encaixam como uma carapuça puída na nossa cabeça.
Dado o histórico de erros, quando não perversidades, a gente tende a ler os textos do FMI com o pé atrás. Mas, sob o excelente e ponderado Olivier Blanchard (economista-chefe do Fundo), pode-se economizar nos grãos de sal.
De mais interessante, há o alerta de riscos para "economias emergentes". Em geral, os alertas não estão associados explicitamente ao Brasil. Porém, o retrato falado parece nos descrever. De resto, no caso do Brasil a revisão da estimativa de crescimento foi para baixo.
"Muitas outras economias emergentes e em desenvolvimento começaram a se beneficiar de uma demanda externa mais forte em economias avançadas e na China [que passaram a consumir e importar mais]", escreve o pessoal do FMI, não pensando no Brasil. Em muitas economias, porém, "incertezas de política [econômica]" e "gargalos" prejudicam os investimentos --como aqui.
Até agora, segundo o FMI, as reações à mudança da política monetária dos Estados Unidos, que começou em dezembro, foram pequenas. Mas realocação de investimentos financeiros e saídas de capital provavelmente devem ocorrer como resultado do fim do despejo de dinheiro do banco central (Fed) na economia americana. Isto é, o dinheiro deve migrar de "emergentes" para os EUA.
"Quando combinada com fraquezas domésticas, as consequências [da mudança nos EUA] podem ser saídas agudas de capital e ajustes da taxa de câmbio ("fuga" de dólares e desvalorização do real, como já temos visto)."
Não se trata de novidade que a banca mundial tem colocado o Brasil no grupo de meia dúzia de países mais sujeito a tais problemas.
Quais são essas "fraquezas domésticas"? Governos que suscitam dúvidas sobre sua capacidade de controlar suas dívidas (que têm déficits demasiados), além de inflação e deficit externos chatinhos.
O Brasil não apresenta números dramáticos nesses quesitos, mas as contas públicas pioraram nos últimos três anos, a inflação é persistente faz quatro e o deficit em conta-corrente cresceu rapidamente por meia década. Economias com tais deficiências "precisam administrar o risco de potenciais reversões do fluxo de capital".
O que fazer, na visão do FMI? Permitir que o real se desvalorize (o que tende a reduzir do deficit externo). Mas desvalorizações aceleram a inflação. O que fazer? Apertar a política macroeconômica (reduzir gastos do governo, elevar a taxa de juros), diz, para não variar, o FMI.
Enfim, isso tudo quer dizer que o Brasil está à beira de enfrentar uma fuga atropelada de dólares? Não. Além do mais, ninguém sabe do ritmo da mudança na política econômica americana, menos ainda da reação que tal mudança vai suscitar.
Ainda assim, mesmo que os EUA não nos causem tumulto maior, o diagnóstico a respeito das fragilidades brasileiras continua valendo. Enfim, no momento, grosso modo não temos alternativa à receita-padrão do Fundo.