O economista Regis Bonelli acha que fazer a conta da balança comercial por setor dá uma visão distorcida da economia, mas, às vezes, é ilustrativo. O déficit comercial da indústria saltou de US$ 9 bilhões, em 2007, para US$ 105 bilhões, em 2013.O superávit do agronegócio no ano passado foi US$ 82 bilhões. “A maior parte da importação de produtos industriais foi feita pela própria indústria”, esclarece Bonelli.
Os grandes superávits eram fundamentais quando o país não tinha reservas, mas o déficit industrial publicado esta semana pelo “Estado de S. Paulo" assusta realmente. O crescimento do déficit foi alto e acelerado, como se pode ver no gráfico abaixo, de importações e exportações da indústria. O que levou a isso?
O Ministério do Desenvolvimento explica que, entre os bens manufaturados, as importações que mais cresceram desde 2007 foram máquinas e equipamentos, 16%; eletroeletrônicos, 12,7%; derivados de petróleo, 11%; automóveis, 10%; e os setores químicos, de adubos, plásticos, que ficaram entre 4% a 5%.
As importações de bens de capital permitem a modernização da indústria, necessária ao Brasil. É investimento. O aumento forte da importação de derivados de petróleo é resultado do incentivo ao consumo de gasolina. São importações de natureza diferente.
— A grande explicação para o déficit é que o Brasil vem perdendo competitividade pelos problemas que conhecemos: logística deplorável, complicações burocráticas na exportação, carga tributária alta. Mas eu elegeria a logística como o pior problema — diz Bonelli.
O que o professor da Fundação Getúlio Vargas prevê é que este ano o déficit deve diminuir por razões cambiais.
— O dólar já subiu no ano passado e deve continuar subindo. Isso leva um tempo para ter efeito positivo nas exportações. O Banco Central continua com sua política de rações diárias para evitar a desvalorização mais forte do real, mas é uma tendência internacional provocada pela mudança da política monetária americana. Com dólar mais alto, o déficit do turismo vai cair e a balança comercial terá um superávit um pouco maior do que o de 2013.
O essencial permanece sem solução: como fazer para a economia brasileira ser mais competitiva. O estudo do Conference
Board, um centro de estudos que apresenta anualmente dados de produtividade dos países, mostrou que
no mundo inteiro está diminuindo o ritmo de alta da produtividade. Continua subindo, mas mais lentamente em todos os países, inclusive na China. Tanto a produtividade total quanto a do trabalho. O inquietante é que o Brasil sobe menos que a média.
A indústria ou os setores industriais gostam de mostrar os déficits setoriais para pedir ao governo o de sempre: barreiras à importação. O automobilístico conseguiu que barrassem o importado, desde que não fosse o que as empresas instaladas no Brasil importam. O nome disso é protecionismo. Além disso, o lobby industrial pede redução de impostos. Se fosse uma redução horizontal, aumentaria a eficiência da economia, mas só alguns ganham os bons bocados.
O que o déficit de US$ 105 bilhões na indústria informa é que a política industrial do governo, baseada em distribuição de benefícios setoriais, não está funcionando. O que o superávit do agronegócio informa é que a lavoura é a salvação da lavoura. O agronegócio deveria se concentrar na luta por uma logística melhor, que aumentaria sua eficiência. Mas as lideranças focam bandeiras que fazem o setor parecer inimigo do meio ambiente. Um erro estratégico.