FOLHA DE SP - 07/09/11
Arrocho deve levar zona do euro a crescimento inferior a 1%, o que deve aumentar ainda mais risco de calotes
SE O GOVERNO do Brasil acredita de fato que a ruína em países ricos vai permitir queda maior de juros por aqui, pode redigir carta de congratulação para os líderes europeus.
Deveria, de resto, mandar um agradecimento especial ao Banco Central Europeu, que tanto esforço tem feito para provocar nova recessão na eurozona, o que deve levar à Lua o risco de insolvência de vários dos governos da região.
Ontem confirmou-se que o crescimento dos países da zona do euro foi de 0,2% no segundo trimestre (ante o trimestre anterior, quando o crescimento fora de 0,8%). A região deve crescer menos de 1% neste ano. Na prática, em termos per capita, isso quer dizer crescimento zero.
Mas líderes políticos, capitaneados pelos da Alemanha, gritam sem parar que os governos precisam reduzir o deficit público de modo a "ganhar a confiança dos mercados" e, assim, induzir a queda das taxas de juros que a finança cobra para cobrir os rombos públicos. Havendo arrocho, os países mais ricos e equilibrados da região bancariam empréstimos de ajuda aos quebrados e endividados, como se sabe.
Mas a receita já não deu certo. O arrocho fiscal, o corte de gastos, está ajudando a reduzir ainda mais o crescimento. Sem que o PIB cresça, também não cresce a receita necessária para pagar os juros, conta que, para piorar, cresce mais rápido do que a economia, que o PIB dos países, ainda mais dos endividados.
Uma parcela do empréstimo de "socorro" à Grécia encalacrou na sexta-feira passada porque a recessão grega será de 5% e, assim, o país não arrecada o suficiente para apresentar contas em ordem.
Trocando muito em miúdos, a situação é a seguinte. Imagine-se um cidadão que deve muito no cartão de crédito. Imagine-se que, quando esse cidadão poupa a fim de abater sua dívida, seu salário cai. Porém, a taxa de juros do cartão fica na mesma ou aumenta, assim como a sua dívida, mesmo que o cidadão pague um pedacinho do débito.
Pois bem. Esse cidadão é a Grécia. É Portugal. Em breve tende a ser o caso de Espanha e Itália, que aliás deve crescer apenas 0,7% neste ano e talvez 0,5% em 2012, é governada por Berlusconi e ainda vai enfrentar tumulto social, com greves contra o arrocho e o PIBinho.
A Europa ainda não foi pelos ares porque o Banco Central Europeu vem financiando indiretamente os países mais encrencados, Itália e Espanha inclusive. Mas o BCE quer arrocho fiscal, além de ter cometido o despautério de elevar as taxas de juros da eurozona, temendo inflação em tempos de recessão.
Note-se que o BCE não deveria apitar sobre política fiscal. Aliás, nem deveria na prática financiar governos, que por sua vez faz tempo rasgaram os tratados econômicos que fundaram a eurozona. A mixórdia é, pois, geral. Logo, seria conveniente parar com hipocrisias.
Todas as maiores economias da eurozona, afora a Alemanha, prometem arrocho atroz. Não vão crescer. Suas exportações, óbvio, caem. Consumidores e empresários estão deprimidos. Ao se unirem para conter gasto e crescimento, tais países estão dando abraços de afogados.
Fica mais claro a cada dia que a periferia da Europa não tem como pagar sua dívida. Que os países centrais podem entrar pelo mesmo cano caso se enforquem em recessões. No mínimo, a agonia será longa.
Entrevista:O Estado inteligente
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