Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 02, 2011

Derivativo da Fazenda Celso Ming


O Estado de S. Paulo - 02/09/2011

Ao Banco Central não basta que seja autônomo; é preciso parecer. A maneira como conduziu a baixa de juros, decidida quarta-feira, não cuidou da preservação da credibilidade de uma instituição que precisa conduzir responsavelmente as expectativas dos agentes econômicos.


Para justificar um passo muito maior do que o sinalizado anteriormente, o Copom apresentou um comunicado fora dos seus padrões, como a compensar a falta de alguma atitude mais convincente.


O Banco Central passou meses afirmando que a economia brasileira está fortalecida, que exibe reservas que hoje estão nos US$ 353 bilhões, que os bancos brasileiros gozam de excelente saúde e que não há motivos para temer contágios da crise externa. Mas, sem prévio aviso, redigiu um comunicado alarmista sobre a gravidade da crise externa para justificar uma queda brusca na dosagem dos juros, até então, apenas sinalizada pela presidente Dilma Rousseff.


Há apenas 37 dias, o Banco Central divulgou um documento (Ata da 160.ª reunião do Copom) em que alinhava relevantes argumentos para respaldar mais uma alta dos juros básicos, daquela vez de 0,25 ponto porcentual ao ano. Quase de uma semana para outra, essas razões desapareceram. A crise externa, antes evocada para puxar os juros para cima, serviu para justificar o contrário. O mercado de trabalho aquecido, o avanço dos preços administrados e a acentuada alta na remuneração dos serviços, fatores que reforçavam a justificativa para aumento dos juros, foram, agora, ignorados.


Não somente os agentes econômicos estranharam o novo comportamento. Lá dentro do Banco Central, dois entre seus sete diretores votaram contra essa baixa. A posição deles não foi nem sequer a de que os juros devessem ser derrubados em apenas 0,25 ponto porcentual, em vez do 0,50 decidido. Eles votaram pela manutenção da Selic nos 12,50% ao ano.


Os diretores do Banco Central provavelmente argumentarão que os números do PIB, a serem divulgados hoje, apontarão um crescimento decepcionante no segundo trimestre do ano. Se for isso, aí temos duas coisas esquisitas. Primeira delas, que o tamanho do PIB passe a servir de base para definição da Selic. E, segunda, que o Banco Central esteja informado de estatísticas guardadas a sete chaves, a que somente os técnicos do IBGE (cujo presidente, ontem, se demitiu) deveriam ter acesso.


No mais, os dirigentes do Banco Central são os primeiros a afirmar que a política monetária é ditada pelo que vem adiante, não pelo que se enxerga no retrovisor. Se é assim e se, no mesmo dia da reunião do Copom, o Ministério do Planejamento apontou, para efeito da montagem do Orçamento da União, uma projeção oficial do crescimento do PIB de 2012 de nada menos que 5%, então não dá mesmo para entender as eventuais razões técnicas para a definição da política de juros.


As autoridades da área monetária terão de correr atrás do prejuízo infligidos a sua credibilidade ou, então, anunciar que mudou o paradigma. E que, presidido pelo funcionário de carreira Alexandre Tombini, o Banco Central se transformou num derivativo do Ministério da Fazenda - ou do Palácio do Planalto.


CONFIRA


As exportações seguem batendo recordes. Em agosto, foram para US$ 26,2 bilhões (veja o gráfico). Ontem, o Ministério do Desenvolvimento revisou a meta de exportações deste ano de US$ 228 bilhões para US$ 257 bilhões. Provavelmente, ultrapassarão os US$ 270 bilhões.


"Ora, é pra Saúde"


Ontem, a presidente Dilma Rousseff defendeu aumento de imposto para financiar a Saúde. É sempre assim. Justifica-se aumentar a carga tributária para cuidar da Saúde, mas a receita vai para o caixa geral. E aí é preciso criar novo imposto para o setor.

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