O Estado de S. Paulo - 13/09/2011 |
Pior que a crise europeia são as inconsistências entre o que dizem e fazem - e mesmo só entre o que dizem - os dirigentes. Assim, vão tropeçando em contradições e em omissões. As duas últimas mostram que não há em quem confiar.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou documento em que advertia que os bancos europeus deveriam reforçar seu capital em ao menos 200 bilhões de euros para enfrentar a deterioração dos seus ativos. Em seguida, a própria diretora-gerente do FMI, a francesa Christine Lagarde, corroborou o alerta. No entanto, sábado, a mesma Lagarde veio a público e desmentiu o que ela e o FMI tinham sustentado.
Não ficou claro quem errou e por quê. Mas não é difícil imaginar o que aconteceu. Todas as recomendações de segurança bancária exigem a marcação a mercado dos títulos que estão no balanço dos bancos. E a marcação a mercado aponta para forte desvalorização de uma penca de títulos de dívida da zona do euro, especialmente de Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. Mas as autoridades não querem admitir que esses títulos já não valem o que está nos contratos. Isso implicaria aceitar desastres ou quase desastres em série.
O primeiro é o balanço irrealista do Banco Central Europeu (BCE) que, desde maio de 2010, comprou 143 bilhões de euros em títulos de dívida do bloco.
Segundo, a deterioração dos balanços de boa parte dos bancos europeus e a admissão de que os tais testes de estresse a que foram submetidos há somente dois meses não passaram de um bom teatro.
E, terceiro, se é verdade que a quebra (default) da Grécia está por um fio, o mesmo serve para o equilíbrio patrimonial dos bancos credores. E isso não vale só para os bancos gregos. Vale também para os outros credores de títulos dos países em perigo. Em ambiente de perda crescente de credibilidade, o contágio é inevitável.
É por isso que - relatou nesse fim de semana a revista Der Spiegel - o governo de Berlim tem um plano B para salvar os bancos alemães, dando razão à versão do FMI que pede o reforço do capital dos bancos. E, se os bancos alemães precisam de mais capital, por que não os demais?
A outra inconsistência dos dirigentes foi revelada pela demissão de Jürgen Stark, representante da Alemanha na direção do BCE. Desta vez, a razão real não pôde ser ocultada: Stark saiu por discordar abertamente da atual política do BCE de recompra no mercado secundário de títulos de países do euro. É a segunda demissão em cinco meses. Em abril saiu Axel Weber, que também desistiu de se candidatar à presidência do BCE, com cuja política não concordava.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, argumenta que recomprar títulos é essencial para garantir o futuro do euro, por dar mercado para títulos rejeitados e permitir a redução dos juros que esses países terão de pagar. Fora isso, adverte que essas operações não produzem inflação.
Mas essa política produz dois efeitos adversos. O primeiro é a concessão de aval disfarçado do BCE para títulos soberanos. O segundo, o aprofundamento do chamado risco moral, por sustentar rombos orçamentários ilegais de um punhado de países do euro.
Nesse ambiente carregado de contradições e de perda de credibilidade, o mercado financeiro responde como pode. Além da queda geral do valor dos títulos dos países da periferia do euro, vai derrubando as cotações dos bancos europeus.
CONFIRA
Apenas nos primeiros oito dias úteis de setembro (até ontem), a cotação do dólar em reais subiu 7,6%, produzindo correspondente desvalorização do real. Ou seja, o primeiro efeito da deterioração das condições externas sobre a economia brasileira não foi desinflação; deve ser, ao contrário, mais inflação, a que é produzida com o aumento dos preços em reais dos produtos importados.
Mais exportações
As receitas com exportações de 2011 até sexta-feira acumulam US$ 173,5 bilhões. O total do ano poderá ultrapassar os US$ 270 bilhões. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, setembro 13, 2011
Contradições na Eurolândia Celso Ming
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