Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 11, 2011

2008, 2011: setembros VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 11/09/11

Donos do dinheiro grosso fogem em massa para colocá-lo no colchão da dívida de países ricos



No final da semana passada, grandes investidores do mundo, de governos a grossos financistas, na prática aceitavam receber dos governos americano, alemão e britânico as mais baixas taxas de juros em quase 70 anos.
Um título de dívida alemão de dez anos rendia 1,78% ao ano na sexta-feira. O equivalente americano rendia 1,93%. O britânico, 2,28%. Em termos reais, descontada a inflação esperada, o retorno de tais papéis era zero ou menos que zero.
Isso quer dizer: 1) Os donos do dinheiro grosso do mundo preferem colocar cada vez mais capital no colchão; 2) Cada vez mais, evitam emprestar a empresas ou investir em ações; 3) Não estão ligando muito para o endividamento dos governos em questão.
Os donos do dinheiro grosso esperam, pois, que virá coisa muito feia na economia mundial: preferem cada vez mais imobilizar seu capital a correr risco. O fato mesmo de esperarem feiuras enfeia ainda mais a situação.
Ao debandarem das Bolsas, por exemplo, os donos do dinheiro grosso estão a dizer que o futuro de empresas e negócios será pior.
A debandada reduz o preço dos ativos (ações). A redução dos preços dos ativos induz as empresas a investir menos.
Certos ou não, os donos do dinheiro estão "precificando" (prevendo e antecipando) uma recessão. Ao fazê-lo, aumentam as chances de que uma nova recessão ocorra.
Os donos do dinheiro ("os mercados") estão prevendo coisa ainda pior.
Os números que indicam qual a inclinação de bancos europeus emprestarem dinheiro entre si pioraram a ponto de ficarem parecidos com os do primeiro trimestre de 2009. Era então ainda fresquíssima a memória do grande apagão de crédito de setembro de 2008 e da quebradeira de bancos que se seguiu.
Bancos também não se emprestam dinheiro quando temem a quebra do confrade de negócio.
Os europeus estão assustados porque há uma lenta corrida bancária nos países do sul da Europa, afora a França (os bancos perdem depósitos). Porque temem que alguns de seus pares já estejam submersos, que seus ativos já não valham o que está escrito.
Isto é, que o valor das dívidas da Grécia, de Portugal e até da Espanha e da Itália, detidas por esses bancos, é agora tão baixo que eles precisam levantar capital, e logo.
A gente não prestou muita atenção ao assunto aqui no Brasil, mas foi isso o que disse Christine Lagarde, no final de agosto. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional quase apanhou dos alemães por ter afirmado que os bancos europeus precisam de uma transfusão de capital urgente.
Na prática, quis dizer que alguns já estariam quebrados, caso o valor de seus ativos fossem cotados a preço de mercado.
Note-se que não foi uma menina "indignada", uma jovem vagamente esquerdista, sem banho e acampada numa praça de Madri ou de Atenas que disse tal coisa.
Foi uma senhora bem-vestida, que talvez tome um pouco de sol demais, que faz pouco saiu do comando da economia de um governo francês de direita para o FMI, que não exatamente a ponta de lança da revolução mundial.

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