FOLHA DE SÃO PAULO - 01/07/11
As opiniões e os conselhos do ex-ministro Delfim Netto precisam ser levados a sério por todos os atores relevantes da economia brasileira. Principalmente por aqueles que, por ocuparem posições importantes no governo, estabelecem as prioridades de médio prazo para o País. Por isso, sugiro que reflitam sobre as advertências que ele fez em recente artigo publicado na imprensa brasileira.
Para Delfim, o Brasil vive hoje - e viverá nos próximos anos - um período muito favorável criado pelo aumento das cotações dos produtos primários. Acrescentaria que, com a transformação da China em grande polo industrial, passamos a viver também com preços mais reduzidos em uma grande gama de produtos - principalmente maquinas e equipamentos - que importamos.
A combinação dessas duas forças tem provocado uma melhora impressionante nas relações de preços entre nossas exportações e os produtos que compramos no exterior.
Cálculos feitos por Fabio Ramos, economista da Quest, mostra que, nos últimos anos, a melhora nos termos de troca representou um choque de riqueza equivalente a aproximadamente 1,6% do PIB por ano.
Mas essa situação favorável de nosso comércio exterior tem gerado outros ganhos indiretos para a economia brasileira, como uma situação externa sólida e uma moeda forte nos mercados de câmbio. Essa combinação tem sido importante para a atração de poupança externa, elemento fundamental no financiamento dos investimentos de capital que projetam para o futuro nosso bom momento na economia.
Delfim alerta para os riscos de deixarmos passar essa oportunidade que o acaso nos oferece e que não será eterna. Mais uma vez, a fábula da cigarra e da formiga se coloca diante da sociedade brasileira e, principalmente, do governo federal.
Precisamos usar esse 1,6% de ganho no PIB, que é uma enormidade, para construir um futuro que não dependa tanto da conjugação favorável dos astros, representados hoje pelos preços elevados das commodities nos mercados internacionais.
Concordo totalmente com essa leitura de Delfim. É preciso olhar esses ganhos como algo a ser investido com eficiência para que, se no futuro voltarmos a uma relação menos favorável de preços, possamos continuar a crescer.
Infelizmente, quando olhamos para os primeiros seis meses do governo Dilma não é esse cenário que podemos ver. Pelo contrário, algumas das ações catalogadas como prioritárias pelo Planalto nada têm a ver com essa agenda estratégica. O que temos é uma visão confusa, sem nenhuma amarração com um projeto articulado de uma economia mais eficiente até o final da década.
De um lado, vemos um agente importante para as transformações necessárias, como o Bndes, correndo atrás de uma utopia discutível de transformar - e fortalecer - o capitalismo brasileiro via criação de grandes grupos privados locais.
Pelo menos duas dezenas de bilhões de reais da capacidade de empréstimo desse banco já foram gastos para criar grandes frigoríficos internacionais. Sempre me pergunto - sem encontrar uma razão sólida - qual a importância disso no contexto mundial nos próximos anos. Por outro lado, vamos embarcar em gastos consideráveis para viabilizar dois sonhos de consumo - e não de investimento -, que são a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.
Quando esses dois momentos passarem - e eles passarão rapidamente -, restarão apenas algumas obras faraônicas que nada têm a ver com as demandas para chegarmos a uma economia mais eficiente no futuro.
E, para completar essa agenda de gastos de cigarras, temos ainda o tal do trem-bala entre Campinas e Rio de Janeiro, que - apesar de consumir algumas dezenas de bilhões de reais - não agrega um grau sequer de maior eficiência à nossa estrutura logística.
As estradas continuam as mesmas, os portos estão com imensas filas de navios esperando espaço para atracar e a nossa malha ferroviária precisa expandir-se na direção dos Andes para permitir uma ligação com o Pacífico.
Entrevista:O Estado inteligente
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