O Globo - 03/07/2011 |
Na semana passada, o mundo olhou para os gregos enfurecidos, como se naqueles dias fosse ser definido o futuro da moeda que uniu a Europa. Quem acompanha a economia respirou aliviado quando soube que o Congresso americano suspendeu o recesso. Há chance de que os Estados Unidos entrem em moratória. Deu a louca nos ricos? Euro e dólar tiram o sono do planeta. Os americanos têm dificuldade de entender certo tipo de crise. Eles sabem o que é depressão, mas incapacidade de pagar dívida pública ou uma crise monetária são fatos estranhos para eles. Sempre tiveram o privilégio de emitir dívida na própria moeda e o mundo sempre comprou; há décadas o dólar é a moeda de referência do mundo. Agora, fala-se em moratória na dívida americana. Mas não de um calote como o grego. Se acontecer, será resultado da briga política dentro do congresso, que não quer aprovar a elevação do limite do endividamento do governo. Reunidos no recesso, os parlamentares podem fechar um acordo para tirar o país dessa situação estranha. Se bater no limite, e eles não puderem fazer mais dívida, o que exatamente acontece? O mundo não sabe bem. A economista Monica de Bolle diz que a economia entraria em curto-circuito, porque a dívida americana e o dólar são os dois ativos que servem como referência para o risco zero. Se não forem mais risco zero, tudo tem que ser revisto: de ativos dos fundos de pensão até classificações de risco de dívida. Isso acontece num momento em que o último dos moicanos do supertime econômico do presidente Barack Obama está, aparentemente, arrumando as malas. O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, desmentiu que está de saída, mas na quinta-feira todo o noticiário especializado de economia dos Estados Unidos estava acreditando no rumor que circulava. Em última instância, basta aos Estados Unidos imprimir papel para ter dólares. Então, o que se discute não é a capacidade financeira do país, mas a autorização do Congresso para que o Tesouro faça novas dívidas para cobrir seus gastos atuais. É uma boa hora de lembrar uma velha lei da economia que sempre serviu para todos: não se deve gastar além das possibilidades. O déficit do governo Obama este ano será o terceiro maior do período pós-guerra. Os dois maiores foram nos dois últimos anos. Isso fez a dívida pública estourar o limite estabelecido pela lei americana, que é de US$14,3 trilhões. Foi quando surgiram o impasse e o risco. Os republicanos, que defendem a austeridade, foram os mesmos que pegaram o país com superávit orçamentário e entregaram com déficit e a economia em frangalhos. Mas, com Obama candidato à reeleição, aproveitam. Esse limite de endividamento, segundo o banco americano Morgan Stanley, já foi elevado 80 vezes desde 1917. Obama herdou um país em recessão, atolado em duas guerras, com os bancos falidos, as famílias endividadas e o mercado imobiliário em depressão. Abriu o cofre para tentar reativar a economia. Ao mesmo tempo, não conseguiu reduzir o orçamento da Defesa e aprovou uma nova lei de seguridade social que ampliará os gastos com saúde. Pelos cálculos do Instituto Watson de Estudos Internacionais, da Brown University, o custo com as guerras do Afeganistão e do Iraque, nos últimos 10 anos, chegou a US$3,7 trilhões. O gasto do ministério da Defesa, na verdade, é maior, segundo as contas da Tendências consultoria. O orçamento da pasta que em 2001 foi de US$314 bilhões havia mais que dobrado em 2010, para US$707 bilhões. Ao todo, o ministério consumiu em 10 anos cerca de U$5,2 trilhões (vejam o gráfico em meu blog). Outro nó é a dívida dos estados e municípios, que também é enorme. Estados como Califórnia, Illinois e Flórida estão com problemas desde antes da crise financeira de 2008. O economista Roberto Almeida Prado, do Itaú Unibanco, calcula que mais de 550 mil funcionários públicos já foram demitidos desde 2009 em estados e municípios, agravando ainda mais o quadro de desemprego. Arizona, Michigan e Tennessee estão com receitas 17% menores que 2007, segundo o site politico.com. Califórnia e Flórida, com arrecadação 18% menor. A Grécia vive a ressaca da sensação de que tinha ficado rica ao entrar na União Europeia. Outros países da região se sentiram assim quando o custo de financiamento da dívida caiu muito. É diferente emitir dracma, escudo, peseta, ou ter como moeda o euro. A Alemanha, que tudo aprendeu na sua história sobre valor da estabilidade monetária, emprestou essa credibilidade a todos. Eram todos alemães, até que a crise americana mostrou que há também gregos, portugueses, espanhóis, irlandeses. A farra grega foi enorme: de 14 a 18 salários por ano, dependendo da categoria, endividamento familiar alto, dívida e déficit escondidos com a ajuda de consultorias americanas, aposentadoria precoce. Americanos e gregos - entre outros - gastaram mais do que podiam. Na vida pessoal e coletiva. Essa é a síntese da origem de todas as crises. Há diferenças enormes entre eles. Os Estados Unidos vão chegar a um acordo no Congresso, elevar o teto da dívida e continuar emitindo a moeda que por enquanto ainda é a referência. Não o será para sempre. Os gregos vão entrar em moratória. O parlamento deu apenas um tempo para a Europa encontrar uma saída organizada. Para nós, ficam dois alertas. Primeiro: melhor é ter as contas controladas. Públicas e privadas. Segundo: o mundo está mudando espantosamente e alguns dos países mais ricos do mundo estão no meio do furacão. É tempo de ficar atento e saudável. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, julho 03, 2011
Míriam Leitão Ricos no furacão
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
julho
(245)
- DILMA: OS ENORMES RISCOS DA ESTRATÉGIA DE IMAGEM! ...
- O poder pelo poder GAUDÊNCIO TORQUATO
- A nova era na roda do chope JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Teatro do absurdo MÍRIAM LEITÃO
- Foco errado CELSO MING
- As marcas do atraso JANIO DE FREITAS
- Uns craseiam, outros ganham fama FERREIRA GULLAR
- Chapa quente DORA KRAMER
- Corrupção - cortar o mal pela raiz SUELY CALDAS
- Liberdade, oh, liberdade DANUZA LEÃO
- Como Dilma está dirigindo? VINICIUS TORRES FREIRE
- Prévias? Não no meu partido MARCO ANTONIO VILLA
- Dilma se mostra Merval Pereira
- A reforma tributaria possível. Ives Gandra da Sil...
- Um plano para o calote Celso Ming
- O ''PAC'' que funciona EDITORIAL ESTADÃO
- Mudança de enfoque - Merval Pereira
- Dilma e as sofríveis escolhas ALOISIO DE TOLEDO CÉSAR
- Refrescar a indústria Míriam Leitão
- Míriam Leitão O dragão na porta
- Prévias da discórdia Merval Pereira
- O governo e a batalha do câmbio Luiz Carlos Mendon...
- Coragem e generosidade Nelson Motta
- O discreto charme da incompetência Josef Barat
- O que pensa a classe média? João Mellão Neto
- Mensagem ambígua Celso Ming
- Um boné na soleira Dora Kramer
- O sucesso de um modelo ALON FEUERWER KE
- Merval Pereira Bom sinal
- IVES GANDRA DA SILVA MARTINS - A velhice dos tempo...
- VINÍCIUS TORRES FREIRE - Dólar, bomba e tiro n"água
- A Copa não vale tudo isso EDITORIAL O ESTADÃO
- ALBERTO TAMER - Mais investimentos. Onde?
- CELSO MING - O dólar na mira, outra vez
- DORA KRAMER - Jogo das carapuças
- Dólar e juros MÍRIAM LEITÃO
- Ética flexível Merval Pereira
- Roubar, não pode mais EDITORIAL O Estado de S.Paulo
- Da crise financeira à fiscal e política Sergio Amaral
- Ficção científica nos EUA Vinicius Torres Freire
- Dólar, o que fazer? Míriam Leitão
- Lá se vão os anéis Dora Kramer
- Mundo que vai, mundo que volta Roberto de Pompeu ...
- Desembarque dos capitais Celso Ming
- E se não for o que parece? José Paulo Kupfer
- Economia Criativa em números Lidia Goldenstein
- A inundação continua Rolf Kuntz
- Abaixo a democracia! Reinaldo Azevedo
- Veja Edição 2227 • 27 de julho de 2011
- Faxina seletiva MERVAL PEREIRA
- Eles não falam ararês MÍRIAM LEITÃO
- O impasse continua - Celso Ming
- Insensata opção Dora Kramer
- O Brasil e a América Latina Rubens Barbosa
- Justiça, corrupção e impunidade Marco Antonio Villa
- Agronegócio familiar Xico Graziano
- Ruy Fabiano - A criminalização do Poder
- Imprensa, crime e castigo - Carlos Alberto Di Franco
- Quando o absurdo se torna realidade Antonio Pentea...
- Vale-tudo ideológico EDITORIAL O Globo
- O bagrinho Igor Gielow
- Com o dinheiro do povo Carlos Alberto Sardenberg
- Questão de fé RICARDO NOBLAT
- Celso Ming O que muda no emprego
- Alberto Tamer E aquela crise não veio
- João Ubaldo Ribeiro A corrupção democrática
- Danuza Leão Alguma coisa está errada
- Janio de Freitas Escândalos exemplares
- Merval Pereira Dilma e seus desafios
- Dora Kramer Vícios na origem
- Ferreira GullarTemos ou não temos presidente?
- Roberto Romano Segredo e bandalheira
- Agência Nacional da Propina-Revista Época
- Presidencialismo de transação:: Marco Antonio Villa
- Dilma e sua armadilha Merval Pereira
- Guerra fiscal sem controle Ricardo Brand
- A Pequena Depressão Paul Krugman
- Longo caminho Míriam Leitão
- De quintal a reserva legal KÁTIA ABREU
- O que vem agora? Celso Ming
- Marco Aurélio Nogueira O turismo globalizado
- Os perigos de 2012 Editorial O Estado de S. Paulo
- Guerra de dossiês Eliane Cantanhêde
- Sinais de alerta Merval Pereira
- União reforçada Miriam Leitão
- Pagar, doar, contribuir NELSON MOTTA
- Roncos da reação DORA KRAMER
- Festa cara para o contribuinte EDITORIAL O Estado ...
- Em torno da indignação FERNANDO GABEIRA
- Brasil esnobou os EUA. Errou - Alberto Tamer
- O baixo risco de ser corrupto no Brasil Leonardo A...
- Triste papel Merval Pereira
- Financiamento da energia elétrica - Adriano Pires ...
- O partido do euro - Demétrio Magnoli
- Trem-bala de grosso calibre - Roberto Macedo
- A cruz e a espada - Dora Kramer
- O grande arranjo - Celso Ming
- À luz do dia ELIANE CANTANHÊDE
- Entrevista: Maílson da Nóbrega
- Arminio Fraga "Europa entre o despreparo e a perpl...
-
▼
julho
(245)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA