O Globo - 13/07/2010
O saldo comercial está caindo e vai continuar caindo, mesmo assim há boas notícias no nosso comércio internacional: a corrente de comércio atingiu US$ 170 bilhões no primeiro semestre, 35% a mais do que em 2009 e no mesmo nível de 2008, antes da crise. Em parte, é resultado da alta das commodities.
No mundo, a novidade é o ganho de competitividade de 20% para os europeus com a queda do euro.
Para o especialista Joseph Tutundjian, a crise está provocando mudanças no comércio internacional: a desvalorização do euro impulsiona as exportações da Europa; a alta do dólar tira força das vendas americanas; e as mudança cambiais e trabalhistas na China vão aumentar custos para exportar.
Para nós, há duas tendências favoráveis: a crise segurou os preços de produtos dos países ricos que importamos; o crescimento dos emergentes elevou o preço das commodities. Essa combinação fez crescer importações e exportações do Brasil no primeiro semestre. As importações foram recordes, US$ 81,3 bilhões, com crescimento de 43% em relação a 2009. A desvalorização do dólar em relação ao real — mais de 11% nos últimos 12 meses — e o aquecimento da economia impulsionaram as importações.
Alguns números são espantosos. A importação de bens de consumo duráveis aumentou 69%, e o destaque foram os automóveis, com mais de 72%. A venda de carros nacionais subiu também, mas o que as montadoras reclamam é que o mercado externo para o produto brasileiro está desaparecendo pela crise e pelo câmbio.
Uma boa notícia é que empresas aproveitaram o momento para fazer investimentos: as compras de bens de capital subiram 26,2%, um quarto de tudo o que foi comprado no exterior. No mês de junho, a alta chegou a 51%.
As exportações cresceram menos, mas subiram 26,5%, indo para US$ 89,2 bilhões.
Com isso, o saldo caiu 43%, de US$ 13 bi para US$ 7,8 bi, no primeiro semestre. Para o ano que vem, o mercado projeta, no máximo, um saldo para o ano inteiro por volta do que foi conseguido nestes primeiros seis meses de 2010.
Nossa pauta de exportação é dominada pelas matériasprimas e o destaque é o minério de ferro, que em abril teve reajuste de 100%. O vicepresidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, disse que o minério pode ser o primeiro produto isolado a atingir US$ 20 bilhões de vendas em um único ano. Só em junho, foram de US$ 2,3 bilhões, 130% a mais do que no mesmo mês de 2009. Mas isso é uma faca de dois gumes: — O minério pode ter novos reajustes. Por um lado, isso é bom porque aumenta o nosso saldo. Por outro, é ruim essa dependência a um produto.
Desse jeito ficamos vulneráveis.
Uma queda de preços, uma redução da importação da China pode nos levar ao déficit — afirmou.
Tutundjian não vê risco de déficit, por enquanto: — Devemos ter superávit de US$ 15 bilhões este ano e não vejo risco no ano que vem. Na medida em que o mundo estiver com demanda por matérias-primas, teremos superávit.
Sobre as mudanças na China, Tutundjian acha que o país pode exportar menos pela alteração dos fatores de competitividade. Mas eles vão mudando devagar. Está havendo uma valorização dos salários e uma valorização lenta do yuan. Tutundjian acha que os chineses terão ganhos de competitividade com logística, há muito investimento nisso, mas que eles não compensarão o aumento do custo trabalhista que já começa a acontecer.
O Departamento Econômico do Bradesco acha que, por enquanto, a combinação de fatores é conveniente para o Brasil. A importação barateada pelo câmbio vai ajudar empresas a se modernizar, com compra de máquinas e equipamentos, e a entrada de bens de consumo ajuda a segurar a inflação num momento de aquecimento. Os ganhos com a elevação dos preços das commodities ajudam a financiar o déficit em transações correntes.
“De um lado, os países emergentes, com o crescimento robusto, têm sustentado os preços das exportações brasileiras como no caso do minério de ferro. De outro lado, a economia do mundo desenvolvido, com elevada ociosidade, tem sido incapaz de ampliar suas margens, refletindo-se em preços de importação bastante deprimidos para o Brasil”, disse o banco em relatório.
Os termos de troca estão favoráveis ao Brasil. O Bradesco calcula que os produtos que exportamos tiveram valorização de 54% entre 2006 e 2010; já os produtos que importamos subiram bem menos: 27,4%. Os produtos básicos — como minério de ferro, soja, entre outros — subiram 66,8%.
O problema de ficar ao sabor dos ventos é que eles mudam. Se houver desaceleração na China ou piora da crise externa, esse quadro pode se alterar.
O presidente da Abracex, Roberto Segatto, diz que o Brasil vive um grande momento, mas ressalta os perigos desse cenário diante de uma crise na Europa de desdobramentos imprevisíveis: — Temos gargalos em todos os setores, de calçados, têxteis a autopeças. A infraestrutura de portos e aeroportos está congestionada. O navio parado encarece o frete, que é mais caro no Brasil que na Europa. Ferrovias, não temos.
As estradas são uma vergonha. A soja colhida em Goiás é a mais barata do mundo, mas quando chega ao Porto de Santos tem o mesmo custo que a americana.
O Brasil sabe o que tem que fazer, mas tem adiado tarefas inadiáveis.
Entrevista:O Estado inteligente
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