O Globo - 13/07/2010
O anúncio de que o programa de governo da candidata oficial, Dilma Rousseff, será revisto mais uma vez, para refletir com mais clareza as intenções da coligação PT-PMDB, denuncia os problemas que estão sendo enfrentados para tornar realidade uma coalizão partidária nascida menos de ideias homogêneas que de interesses políticos de curto prazo.
Depois de rejeitar o programa do PT que havia sido aprovado em março, e de ter anunciado que apresentaria ainda o seu programa para ser mesclado ao do parceiro de empreitada, o PMDB viuse diante da tentativa de um fato consumado: com a rubrica da candidata Dilma e do presidente do PT, José Eduardo Dutra, foi registrado no TSE o programa esquerdista petista como sendo a base oficial de um futuro governo Dilma.
A insistência em viabilizar teses que fragilizam a propriedade privada em benefício das invasões, ou o controle social da mídia em prejuízo da liberdade de expressão, não é surpreendente, nem é possível aceitar-se a desculpa oficial de Dilma Rousseff e do PT de que houve apenas um engano burocrático que gerou o registro no TSE de uma versão do programa que já estava superada pelas negociações.
Tanto não é verdade que não havia outro programa para substituí-lo. O programa que agora se anuncia que será feito será, na verdade, a primeira versão de uma proposta multipartidária que o PMDB está levando muito a sério, e que o PT tenta até o último momento minimizar.
O programa radical do PT tem origem no Programa Nacional dos Direitos Humanos, que tanta crise já gerou.
Na ocasião em que foi lançado, com o apoio explícito do Gabinete Civil que tinha à frente Dilma Rousseff, o Programa de Direitos Humanos gerou uma crise militar por abrir caminho para uma revisão da Lei de Anistia.
Até que se conseguisse contornar a reação dos militares, com a alteração do texto relacionado à anistia, figuras do alto escalão petista, com o auxílio da burocracia do Gabinete Civil, tentaram dar o fato como consumado mandando publicar no Diário Oficial o texto contestado.
A manobra foi abortada com a colaboração do Ministro da Defesa Nelson Jobim, que levou ao presidente Lula a real gravidade do assunto.
Portanto, não é de se espantar que vários assuntos rejeitados naquele Programa montado pela ala esquerdista do governo, tenham reaparecido depois no programa oficial do PT que quase foi transformado no programa oficial de um eventual governo Dilma Rousseff.
Esse episódio demonstra a influência que o PT terá sobre um governo presidido por Dilma Rousseff, não apenas por pressão política, mas também por proximidades ideológicas.
Mas demonstra, sobretudo, a dificuldade que o PMDB terá para exercer o papel moderador que pretende ter nessa coligação.
A relação do PMDB com o PT vem evoluindo desde o início do governo Lula, de um veto total à sua participação no governo a uma participação ampliada na máquina pública.
Em 2002, um acordo montado pelo então todo-poderoso chefe do Gabinete Civil José Dirceu faria com que o PMDB participasse do primeiro ministério de maneira discreta, mas, promissora, do grupo que apoiara Lula em dissidência à decisão da convenção que preferiu dar o vice de José Serra, a então deputada Rita Camata.
O próprio presidente Lula vetou o acordo em cima da hora, alegando que não conhecia os ministros indicados.
Essa desfeita colocou o partido fora das grandes decisões do primeiro governo, mas o deixou também fora, como partido, do mensalão, que devastou não apenas o primeiro escalão do governo, como a base partidária governista.
A superação da crise levou à aproximação de Lula com o PMDB e à reorganização do governo no segundo mandato.
A necessidade de ter o PMDB como grande interlocutor fez também que o partido, dividido historicamente, tomasse uma decisão também histórica de unir suas facções para melhor aproveitar seu prestígio político renovado.
A partir da divisão igualitária de poder entre as suas diversas divisões, o PMDB passou a fazer parte fundamental do projeto de Lula de eleger seu sucessor.
O presidente, pessoalmente, tratou de convencer o PT de que teria que abrir espaços cada vez maiores para os aliados, principalmente o PMDB.
O exemplo mais claro dessa nova situação foi a intervenção em Minas para fazer com que o candidato do PMDB, senador Hélio Costa, fosse o candidato ao governo da coligação, fazendo com que Patrus Ananias aceitasse “com muito orgulho” a vice.
Mas, ao mesmo tempo em que foi tendo ampliada a sua força, o PMDB foi sendo alvo de ações petistas, o partido incomodado com a fome de poder do novo parceiro.
Até mesmo para indicar o candidato a vice o PMDB teve que enfrentar uma pressão política petista, que queria escolher o nome em vez de aceitar a escolha unânime peemedebista de Michel Temer.
O próprio presidente Lula participou dessa tentativa, embora por razões diferentes das do PT, que queria enfraquecer o partido escolhendo um nome que devesse mais sua escolha ao PT do que ao PMDB.
Já Lula queria usar o cargo para dar um recado aos investidores internacionais, indicando um cristão novo do PMDB, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Teria o mesmo benefício que o PT buscava e ainda acalmava uma área importante da sociedade que teme as raízes radicais da candidata oficial .
O episódio do programa partidário é mais uma etapa dessa disputa de poder, que já se desenrola antes mesmo de a eleição definir quem será o futuro presidente.
O que já prenuncia o que será a disputa dentro de um eventual governo Dilma Rousseff.
Entrevista:O Estado inteligente
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