Fundamental mas não suficiente
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Liberdade de imprensa Roberto Civita recebe o prêmio de Rafael Sá, presidente do IEE, no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre |
Com os governos despejando trilhões de dólares na economia dos países em crise na tentativa de evitar uma recessão global, o momento atual é péssimo para pregar as virtudes do liberalismo, como a mínima intervenção do estado na economia, a diminuição dos gastos de custeio e o enxugamento das máquinas burocráticas estatais. Se a hora não é boa, isso não significa que as ideias liberais sejam ruins. Afinal, é forçoso reconhecer que a aplicação delas em escala planetária na década de 90 foi a fonte da imensa prosperidade que tirou da miséria centenas de milhões de seres humanos no Brasil, na China e na Índia. Desafiar a circunstância imprópria para enaltecer o liberalismo não foi o único mérito da 22ª edição do Fórum da Liberdade, realizada em Porto Alegre na semana passada pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). O fórum serviu sobretudo para reafirmar a noção de que valores liberais como a democracia, a liberdade econômica e de imprensa formam justamente a única plataforma possível para a restauração da prosperidade mundial.
No discurso em que agradeceu o Prêmio Liberdade de Imprensa no fórum de Porto Alegre, Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração e diretor editorial do Grupo Abril, lembrou que, com todas as suas virtudes e o louvável trabalho de apurar e denunciar a corrupção, a imprensa pouco pode sozinha. Não basta a imprensa usar bem a liberdade conquistada. Disse Civita: "É preciso que quem pode se engaje na enorme tarefa de conscientizar a população de que – em última análise – as mudanças somente vão acontecer à medida que aprendermos a eleger candidatos competentes, honestos e comprometidos mais com o bem comum e menos com seus interesses pessoais". A ideia de que a liberdade, nesse caso na economia, é fundamental mas não suficiente é abordada também pelo famoso cientista político americano Francis Fukuyama nas Páginas Amarelas de VEJA. Ele diz que o estado mínimo é uma experiência fracassada mas que o liberalismo não pode ser culpado pela crise, e sim a passividade que levou à "máxima desregulamentação dos mecanismos financeiros e à crença de que os mercados iriam se ajustar automaticamente a qualquer situação". Em resumo, confundir a liberdade com a falta de regulação dos mercados e com o desengajamento nas causas pelas quais vale a pena lutar é o meio mais fácil de perdê-la.