Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 10, 2009

VEJA Carta ao Leitor


Fundamental mas não suficiente

Mathias Cramer/Temporealfoto.com
Liberdade de imprensa Roberto Civita recebe o prêmio de Rafael Sá, presidente do IEE, no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre

Com os governos despejando trilhões de dólares na economia dos países em crise na tentativa de evitar uma recessão global, o momento atual é péssimo para pregar as virtudes do liberalismo, como a mínima intervenção do estado na economia, a diminuição dos gastos de custeio e o enxugamento das máquinas burocráticas estatais. Se a hora não é boa, isso não significa que as ideias liberais sejam ruins. Afinal, é forçoso reconhecer que a aplicação delas em escala planetária na década de 90 foi a fonte da imensa prosperidade que tirou da miséria centenas de milhões de seres humanos no Brasil, na China e na Índia. Desafiar a circunstância imprópria para enaltecer o liberalismo não foi o único mérito da 22ª edição do Fórum da Liberdade, realizada em Porto Alegre na semana passada pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). O fórum serviu sobretudo para reafirmar a noção de que valores liberais como a democracia, a liberdade econômica e de imprensa formam justamente a única plataforma possível para a restauração da prosperidade mundial.

No discurso em que agradeceu o Prêmio Liberdade de Imprensa no fórum de Porto Alegre, Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração e diretor editorial do Grupo Abril, lembrou que, com todas as suas virtudes e o louvável trabalho de apurar e denunciar a corrupção, a imprensa pouco pode sozinha. Não basta a imprensa usar bem a liberdade conquistada. Disse Civita: "É preciso que quem pode se engaje na enorme tarefa de conscientizar a população de que – em última análise – as mudanças somente vão acontecer à medida que aprendermos a eleger candidatos competentes, honestos e comprometidos mais com o bem comum e menos com seus interesses pessoais". A ideia de que a liberdade, nesse caso na economia, é fundamental mas não suficiente é abordada também pelo famoso cientista político americano Francis Fukuyama nas Páginas Amarelas de VEJA. Ele diz que o estado mínimo é uma experiência fracassada mas que o liberalismo não pode ser culpado pela crise, e sim a passividade que levou à "máxima desregulamentação dos mecanismos financeiros e à crença de que os mercados iriam se ajustar automaticamente a qualquer situação". Em resumo, confundir a liberdade com a falta de regulação dos mercados e com o desengajamento nas causas pelas quais vale a pena lutar é o meio mais fácil de perdê-la.

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