Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 10, 2009

Tragédia O terremoto que devastou o centro da Itália

Morte e destruição
no centro da Itália

O terremoto que matou 300 pessoas e destruiu preciosidades
artísticas e arquitetônicas a apenas uma centena de quilômetros
de Roma é uma dolorosa lembrança de quanto o país
é vulnerável aos desastres naturais


Thomaz Favaro

Livio Anticoli/Reuters

TERRA ARRASADA
Vista aérea das ruínas na cidade de Áquila. Vilarejos inteiros da região de Abruzzo foram destruídos

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Na madrugada da segunda-feira passada, os moradores da região de Abruzzo, no centro da Itália, foram acordados por um terremoto que atingiu 6,3 pontos na escala Richter. O tremor durou apenas trinta segundos, mas deixou um rastro de devastação por 26 cidades. O epicentro foi a poucos quilômetros de Áquila, a capital de Abruzzo. Erguida no século XIII e relí-quia arquitetônica da Itália medieval, a cidade veio abaixo. Estima-se que 15 000 prédios tenham ruído, alguns dos quais de inestimável valor histórico, como a Basílica de Santa Maria di Collemaggio e a Igreja de São Bernardino de Siena. O Forte Espanhol, um castelo do século XVI que abriga a sede do Museu Nacional de Abruzzo, também foi arruinado. Nos arredores de Áquila, alguns vilarejos foram inteiramente destruídos. O tremor foi sentido até em Roma, a 110 quilômetros de Áquila, provocando rachaduras nas Termas de Caracala, do século III. Abalos menores nos dias seguintes dificultaram ainda mais o trabalho das equipes de resgate. No total, morreram três centenas de pessoas e outras 20 000 ficaram desabrigadas.

O terremoto em Abruzzo foi uma triste lembrança de quanto a Itália é vulnerável aos desastres naturais. O país é cortado por duas falhas geológicas, que deixam 20 milhões de seus 58 milhões de habitantes sob o risco de abalos sísmicos. Boa parte do patrimônio histórico italiano já sobreviveu a um desastre em algum momento de sua história. A Basílica de São Francisco de Assis, que abriga os espetaculares afrescos de Giotto di Bondone (1267-1337), um dos precursores do Renascimento, ficou dois anos fechada para restauração depois que um terremoto a danificou, em 1997. A região de Abruzzo, cortada pelos Montes Apeninos – formados a partir do encontro de duas placas tectônicas –, tem um longo histórico sísmico. A própria cidade de Áquila já havia sido atingida por outro abalo devastador, em 1703. A atividade vulcânica também é intensa. Os 750 000 moradores de Catânia, na Sicília, têm como vizinho o Etna, o maior vulcão da Europa. Os romanos acreditavam que ali residia o deus Vulcano, daí a origem da palavra. A cidade e outros vilarejos da região já foram soterrados pela lava em erupções antigas e, como o Etna continua ativo, vivem em alerta constante.

Pier Paolo Cito/AP

EM BUSCA DE SOBREVIVENTES
Equipe de resgate socorre mulher dos escombros

Embora a região de Abruzzo não esteja tão afastada da capital italiana, o difícil acesso a ela – as montanhas cobrem dois terços de seu território – deixou-a isolada por séculos. Há em seus parques nacionais lobos e ursos, animais raros no resto da Itália. A cidade de Áquila, fundada em 1240, foi um centro medieval do reino de Nápoles. Ali estão sepultados São Bernardino de Siena, o apóstolo da Itália, e o papa Celestino V, o único a ter renunciado ao pontificado na história da Igreja. Em parte devido a esse isolamento, a maioria das edificações da região é antiga e não está preparada para resistir aos abalos sísmicos mais fortes. "A tragédia em Abruzzo mostrou que nem mesmo os edifícios mais modernos cumprem as normas oficiais para tornar as construções mais resistentes aos tremores", disse a VEJA o engenheiro português Rui Pinho, do Centro Europeu de Treinamento e Pesquisa em Engenharia de Terremotos, em Pavia. "Se fosse na Califórnia, onde essas regras são respeitadas, um abalo dessa magnitude não deixaria tantas vítimas." O hospital público San Salvatore, construído em 2000, também ruiu, obrigando os médicos a atender os feridos no pátio.

Dias antes do desastre, o pesquisador Giampaolo Giuliani, do Laboratório Nacional de Gran Sasso, em Áquila, havia alertado para a iminência de um terremoto desastroso – algo raro, visto que dez entre dez sismólogos afirmam que os tremores são imprevisíveis. Giuliani chegou à sua conclusão após verificar altas concentrações de radônio, um gás nobre, no solo da região. Ninguém deu bola ao aviso e o cientista ainda foi criticado por disseminar o pânico na população. "Os níveis de radônio são apenas um entre centenas de fatores que podem ser interpretados como sinais de que um terremoto está próximo", diz o sismólogo Jesus Berrocal, da Universidade de São Paulo. O problema é que Giuliani estava certo: a tragédia anunciada chegou uma semana depois. "Agora, alguém me deve desculpas", reclamou.

Fotos Giampiero Sposito/Reuters, Vincenzo Pinto/AFP e Alessandro Bianchi/Reuters

O CORAÇÃO DA TRAGÉDIA
A cidade de Áquila foi a mais atingida. No alto, feridos são atendidos do lado de fora do hospital, que também ruiu. À esquerda, a cúpula da Catedral de São Massimo destruída. À direita, homem aguarda o resgate do filho soterrado

Com reportagem de Gabriela Carelli

 

 
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Foto Bob Willoughby


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