Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 11, 2009

No fundo e com o Fundo Por Raphael Curvo


Barack Obama não sabe o tamanho da bobeira e besteira que fez ao dizer que o presidente “é o cara”. Como já tinha o ego inflado, agora ninguém segura. O duro é que ele levou a sério. Para o presidente o Brasil é o centro do mundo com uma economia em expansão que vai ser suporte de aportes financeiros aos bancos financiadores para a política anticíclica. Há uma sensação que o presidente não se dá conta do que representamos no cenário internacional. Somos uma pequena economia com pretensões a se tornar mediana. Mas é só.

No bolo das exportações internacionais não passamos de 1% de participação. Estamos em severa queda na produção industrial e com isso dando espaços a gigantesco desemprego. É necessário um crescimento de 4,5% da economia para atender os mais de 1,4 milhão de novos trabalhadores que chegam ao mercado a cada ano. É preciso atentar que a arrecadação desabou em mais de 45%, não por desoneração, mas por queda de produção e de comércio.

Até agora o presidente fez a festa com distribuição de valores que o Brasil tinha a receber de muitos países, inclusive para “Dom Evoinho”, hoje em greve de fome. Eram créditos de serviços, investimentos e empréstimos. Com a reunião do G20, como todos sabem, foi criado um fundo para sanear a economia mundial. O Brasil vai ter que dar sua contribuição para o Fundo e já anunciou a fabulosa quantia de US$ 4,5 bilhões de dólares. Era melhor ficar calado e sossegado no seu canto ao invés de se meter a grande, cheira a golpe de publicidade. Parece ironia do presidente ao afirmar que é importante participar do “clube” (FMI) porque é formado de países que tem economia “sólida” e reservas. Ainda não caiu a ficha do governo de que nossa situação está a merecer sérios cuidados. A nossa solidez está gelatinosa, o desemprego e pedidos de recuperação judicial em alta confirmam.

Outra pérola vem de Mantega: “US$ 4,5 bilhões representa a cota, não quer dizer que vamos colocar dinheiro agora”. É mais ou menos dizer aquele que foi sem nunca ter sido. E mais, cria-se o fundo de reservas virtuais ao estabelecer que o dinheiro que sair será contabilizado como ativo nas reservas. Segundo ele, as nossas reservas não serão afetadas. A reserva virtual é um derivativo da economia virtual que levou o mundo ao estágio em que estamos. Essa participação no FMI está mais para recalque do período em que éramos devedores do que para consciência da situação. “É chic”, sem comentários.

Mesmo assim não sei como vai fazer o governo, se pensarmos que a queda do superávit primário bateu na casa dos 85% em razão de despesas de servidores, previdência e redução da colheita de tributos. Somado a isso, o sistema de saúde e educação está um caos. Estradas, portos e aeroportos não fogem à regra. O parque industrial em ritmo reduzido e o desemprego a solta. Aumento dos gastos públicos não arrefece, apesar de tudo. De onde sairá esse dinheiro para bancar a cota parte do fundo? Do Fundo Soberano?

É fácil colocar a culpa nos "olhos azuis". Esquece que, com competência, o crescimento brasileiro que poderia ter sido muito maior. A possibilidade foi oferecida exatamente pela ação de dirigentes “olhos azuis” da economia mundial que hoje condena. Essa economia é que alavancava as exportações brasileiras e gerava pedidos cada vez maiores, inclusive permitiu os abusos e gastos que o governo brasileiro pratica ainda hoje, aliás, praticava porque a fonte está secando.

Sem emprego e sem dinheiro não adianta oferecer crédito para as pessoas e sem demanda de mercado o mesmo se diz com relação às empresas. O segredo é deixar sobrar dinheiro no bolso de ambas as partes, empregados e empregadores. É amarrar a boca voraz da Receita Federal não apenas para alguns setores pontuais, mas para todo o setor da cadeia produtiva. A verdade é que estamos à beira de enormes problemas que essa equipe de governo não vai conseguir dar uma solução. Não há um projeto para enfrentar a crise. As medidas para tal são tomadas de acordo com os fatos, com os acontecimentos. Tudo de última hora. Até quando teremos caixa? Como és “o cara”, se vira meu. Em tempo, mande uma “quentinha” para o Evoinho.

(*) Jornalista, advogado pela PUC-RJ e pós-graduado pela Cândido Mendes-RJ

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