Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 10, 2009

Debate Quatro visões da crise e como sair dela


A crise em 4 visões

O país ainda possui armas para acelerar
o crescimento, dizem debatedores


Benedito Sverberi

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A crise internacional atingiu a atividade econômica brasileira numa velocidade inédita. Mas o país segue em uma situação privilegiada para recuperar o crescimento tão logo a fase mais intensa do choque externo se dissipe. Para acelerar a retomada, o governo ainda dispõe de armas de alto impacto, entre elas o estímulo dos investimentos públicos e privados, reduzindo os gastos com o custeio da máquina e da burocracia. Em essência, foi essa a avaliação dos quatro participantes de um debate promovido pelo Centro de Liderança Pública com o intuito de discutir o alcance da crise e como contorná-la. Foram quatro visões complementares, de observadores vindos de diferentes áreas de atuação. A seguir, os principais trechos da discussão.


José Roberto Mendonça de Barros

Fotos Manoel Marques

"Este será o ano da política monetária. Vamos entrar, depois de décadas, na esperada fase de juros de um dígito. Isso implica uma enorme e positiva mudança estrutural, mas que impõe desafios."
JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS
Economista, sócio da consultoria MB Associados, foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

Contágio no Brasil – "Os dados do PIB (produto interno bruto) no quarto trimestre de 2008 e do emprego, entre outros, mostraram que a reação das famílias e das empresas brasileiras à crise foi muito rápida. No caso do setor corporativo, a deterioração do crédito no exterior foi transmitida instantaneamente para dentro do país. Esta é a primeira crise on-line que o mundo está vivendo. A crise da integração total."

Ajuste – "No Brasil, o grosso do ajuste às novas condições já foi feito, especialmente na indústria. O ritmo de retração da economia passará a ser mais lento. Tivemos um degrau e agora vamos cair devagarzinho pelo que se pode chamar de efeitos secundários do primeiro ajuste."

Governo – "Infelizmente, a resposta do governo tem sido muito modesta. Não há nenhuma perspectiva de melhoria do sistema tributário, até mesmo porque, é bom lembrar, a arrecadação já começou a cair. Vejo com muita preocupação e ceticismo a capacidade de avançar na melhoria da infraestrutura. Também na área de tecnologia, existe pouca disposição em avançar."

Limitações fiscais – "A política fiscal poderia desempenhar um importante papel na indução do crescimento e na coordenação da recuperação. Entretanto, há muito pouco que possa ser feito no âmbito do governo federal, porque o bônus da arrecadação elevada dos últimos anos foi quase totalmente dissipado em empregar pessoas e em gastos de custeio."

Propostas – "As políticas públicas deveriam buscar, de um lado, amenizar os efeitos sociais da crise e, de outro, desenvolver e pôr em prática um conjunto de medidas que aumente a competitividade do país. Muitas obras de infraestrutura estão hoje bloqueadas simplesmente pela incapacidade de algumas empresas em apresentar garantias. Essa é uma deficiência que acho factível que o governo consiga reduzir. Na área regulatória, há muito que se pode fazer e, aqui, o foco deve ser resolver suas próprias dubiedades. O Executivo também poderia desenhar medida de apoio a novas empresas, especialmente aquelas de base tecnológica."


Pedro Parente

"O governo tem um papel fundamental, que é coordenar expectativas. É preciso ficar claro que as medidas têm de
ser adotadas no prazo certo, com objetividade, sem um discurso
político por trás delas."
PEDRO PARENTE
Engenheiro, vice-presidente do grupo RBS, foi ministro da Casa Civil e do Planejamento

Otimismo – "Há razões para certa visão positiva a respeito da nossa situação. Em primeiro lugar, não temos uma crise bancária, como nos Estados Unidos. A situação do sistema bancário brasileiro é extraordinária. No lado fiscal, tivemos um efeito estatístico, em função do recálculo do PIB, que foi positivo para o tamanho da nossa dívida. Outro fato extremamente importante foi a 'desdolarização' da dívida pública. Assim, a recente desvalorização cambial não nos afetou como em crises anteriores. As reservas internacionais não tiveram uma queda relevante. Continuam lá no nível dos 200 bilhões de dólares. Por fim, as empresas no Brasil estão capitalizadas. A economia do país segue em uma situação propícia e estará muito receptiva a medidas pontuais que o governo venha a tomar."

Expectativas – "O governo tem um papel fundamental, que é o de coordenação de expectativas. Se elas melhorarem, o país poderá vivenciar realizações que me parecem essenciais: os bancos poderão se sentir mais confortáveis para reduzir seus juros e emprestar mais, e as empresas poderão voltar a fazer investimentos."


Abilio Diniz

"O governo tem de investir em
setores que ofereçam mais empregos.
Precisamos garantir, por exemplo,
que a
construção civil não pare,
principalmente a residencial."

ABILIO DINIZ
Administrador de empresas, é presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar

Crise de crenças "Esta é uma crise originada na ganância e em ideias erradas. Na crença, por exemplo, de que é muito fácil e rápido ganhar dinheiro, de que a rentabilidade poderia se manter em níveis extraordinários para sempre. Esta é uma crise originada no setor privado. Depois é que os governos foram envolvidos. O máximo que se pode dizer é que o poder público talvez tenha sido negligente em suas atribuições ao deixar acontecer essas coisas."

Seleção natural – "As crises separam os ganhadores dos perdedores e é natural que ocorram fusões e aquisições. Contudo, à medida que isso ocorre, verifica-se redução no mercado de trabalho. Outro ponto que não pode ser esquecido é que, quando se observa um processo de consolidação, deixam de ser criados ativos novos, o que retarda o processo de retomada da economia."

Emprego – "Não estou preocupado com a indústria. A sensação que tenho é que nela já ocorreu o grosso do ajuste. Estou preocupado com outros setores que não o fizeram e que empregam muita gente neste país, como a construção civil."


Luiz Paulo Vellozo Lucas

"O investimento público é fundamental
na ampliação da competitividade do
país, no combate ao desemprego e
na preparação para o futuro. E para
isso precisamos de reformas."
LUIZ PAULO VELLOZO LUCAS
Deputado federal (PSDB-ES), é presidente do Instituto Teotônio Vilela

Ação insuficiente – "As medidas que foram adotadas pontualmente pelo governo, como a liberação do compulsório e a redução do IPI dos automóveis, estavam na direção correta. Mas infelizmente não formam um conjunto coerente, fundamentado em um diagnóstico verdadeiro da situação do país e em uma comunicação transparente das dificuldades."

Investimento público – "Neste momento de crise, a ampliação do investimento público é vista como uma das saídas possíveis. O problema é que o nível do investimento no Brasil é muito baixo, tanto como porcentual do PIB quanto da arrecadação. O destino da vultosa expansão de receita do governo nos últimos anos, principalmente da União, foi o aumento dos gastos com pessoal e custeio."

Estados e municípios – "Os estados e municípios têm de cumprir à risca a Lei de Responsabilidade Fiscal, e o governo federal não. A atual metodologia de controle das contas públicas praticamente obriga municípios saudáveis a fazer poupança e torna muito difícil a contratação de empréstimos."


Alberto C´Esar/AE
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