O ESTADO DE S PAULO
Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
Em política, o que parece é - dizia o ditador português António de Oliveira Salazar. Os resultados econômicos da última reunião de cúpula de chefes de Estado do Grupo dos Vinte (G-20) podem ter sido frouxos, mas, politicamente, disseram muita coisa.
O primeiro grande resultado político, já lembrado por esta coluna no dia 3, foi o fato de ter produzido globalmente a percepção de que os grandes estão controlando a situação e que a crise está refluindo, embora isso possa parecer um desfecho mais psicológico do que real.
O segundo grande resultado político é a demonstração de que parte do poder hegemônico vai escapando dos Estados Unidos e que novos players se impõem na condução da governança mundial. O Grupo dos Sete (G-7) foi um arranjo informal sugerido em 1975 pelo então presidente francês, Valéry Giscard d?Estaing, para facilitar a tomada de decisões pelos grandes. Em 1997, a Rússia foi admitida no que passou a ser chamado de Grupo dos Oito (G-8) e, a partir de 1999, surgiu o G-20, que incluiu países emergentes, notadamente China, Brasil e Índia.
É um novo agrupamento de alta densidade econômica e demográfica. Corresponde a 90% do PIB, a 80% do comércio e a 66% da população do planeta. A partir dos anos 80, muita coisa importante aconteceu. Em 1989 caiu o Muro de Berlim e a distinção entre economias capitalistas e socialistas já não fez mais sentido. E, a partir dos anos 90, com a disseminação do computador, da internet e do que se convencionou chamar de Tecnologia da Informação, ocorreu uma impressionante revolução tecnológica que impulsionou o setor produtivo global e, mais particularmente, o mercado financeiro. O impacto sobre a geopolítica mundial ficou inevitável e decisivo, embora não se saiba aonde vá desembocar.
Do ponto de vista econômico, o fator mais relevante é a necessidade do ajuste do principal desequilíbrio, que é o rombo orçamentário e comercial dos Estados Unidos, de um lado, e o superávit comercial da China, de outro. Os Estados Unidos não podem expandir sua dívida pública e seu consumo indefinidamente. E a China não pode seguir indefinidamente financiando o consumo dos americanos por meio da compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Em outras palavras, a simbiose entre os dois países é insustentável a longo prazo.
Isso significa que os Estados Unidos terão de voltar a poupar e a China terá de incrementar seu consumo, ajuste que também terá consequências econômicas e políticas. Uma das consequências econômicas pode ser o que a China já pleiteia publicamente, que é a criação de uma nova moeda de reserva que assuma parte do espaço ocupado pelo dólar.
Do ponto de vista político, as consequências são mais difíceis de discernir. Mas vai ficando clara a necessidade de mecanismos mais ágeis para coordenar políticas globais. Pouca gente aposta em que isso possa ocorrer no âmbito das Nações Unidas, um paquiderme que só tem relevância no círculo do seu Conselho de Segurança. Os Estados Unidos vêm vetando a criação de organismos supranacionais que exijam delegação de soberania, mas sabe-se lá até quando continuarão em condições de vetar. Outra ideia é institucionalizar fóruns como esse G-20. O problema é como cobrar globalmente o que for decidido apenas no restrito comitê.
Confira
Contra-ataque - A proposta da China para a criação de nova moeda de reserva parece um bom revide contra a repetida exigência do governo americano de que a China revalorize o yuan, a moeda do país.
No fundo, a China parece dizer que a única maneira de garantir condições sustentáveis para a valorização do yuan seria a de que parasse de comprar dólares e títulos do Tesouro dos Estados Unidos para formar suas reservas. Ora, isso só poderia ser feito se houvesse nova moeda de reserva que não fosse o dólar.
O dólar despencaria se a China parasse de comprá-lo.
Entrevista:O Estado inteligente
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