O Estado de S. Paulo - 01/04/2009 |
A demissão do presidente da General Motors Corporation (GM), Rick Wagoner, não foi exigida nem pelos acionistas nem pelos credores. Foi exigida pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, que agiu como interventor. O argumento foi apresentado com a elegância que reina nos jardins do Palácio de Buckingham. Mas foi de uma dureza cruel: Wagoner não apresentou um plano suficientemente forte para garantir a recuperação da GM, portanto não serve para comandar a recuperação da montadora. Os americanos têm horror a tudo o que cheire a estatização, mas, em certas circunstâncias, o Estado interfere e ataca com a violência da Swat. E muda o curso da empresa muito mais do que o acionista majoritário. No Brasil, quando se trata de banco mal administrado, o Banco Central está autorizado a decretar intervenção, destituir a diretoria, nomear um interventor e abrir um processo de liquidação. Foi o que ocorreu nas décadas de 80 e 90, com instituições como o Banco Nacional, o Banco Econômico e o Bamerindus. Na Europa, o modelo mais adotado é o da estatização. O governo assume o controle acionário do banco, trata de capitalizá-lo e nomeia seu administrador. Nos Estados Unidos, a instituição continua com os acionistas, o Tesouro ou o banco central tratam de prover o socorro, mas, em contrapartida, exigem que a diretoria cumpra à risca um plano de resgate, na base do ajoelhou, tem de rezar. Não rezou, troca-se o comandante. Não foi apenas por não precisar de recursos públicos baratos para se reestruturar que a Ford os dispensou. Dispensou-os porque sabia que, uma vez assinado o contrato, teria de cumprir à risca o roteiro apresentado pela Casa Branca. Na reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais, realizada dia 14 pelo Grupo dos 20, o comunicado oficial consagrou o princípio de que banco importante não pode quebrar. Os termos exatos foram: "Deve ser dada prioridade a instituições que impõem risco significativo à estabilidade financeira." Essa foi a primeira vez que autoridades peso pesado ratificaram formalmente um acordo sigiloso, vigente desde a crise de 2001, de que instituições financeiras grandes demais para quebrar não podem falir; têm de ser socorridas. Esse acordo foi atropelado em meados de setembro, quando o então secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, deixou que o Lehman Brothers quebrasse, aparentemente para servir de exemplo. O rompimento desse compromisso não escrito deitou pânico nos bancos, que já não confiaram mais em ninguém, nem nos próprios bancos, e aprofundaram a crise de crédito. Essa determinação de impedir que grandes bancos afundem deve ter sido um dos fatores que provocaram o desleixo geral com o cumprimento das regras de segurança bancária: se não quebram, por que teriam de abrir mão do lucro fácil pelo cumprimento das regras? A partir do momento em que passaram a depender de socorro oficial, os grandes bancos americanos também tiveram de rezar.Quem manda no Citigroup hoje não são os acionistas. É Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (o banco central americano), que tem poder de nomear e desnomear, embora nada disso conste nos estatutos do banco. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 01, 2009
Ajoelhou, tem de rezar Celso Ming -
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