O GLOBO
Seis meses depois da quebra do Lehman Brothers, fatos acontecem diariamente como reflexo daquele louco domingo, 14 de setembro, em que ficou claro que havia uma crise sistêmica nos bancos americanos. Quanto tempo vai durar a crise? Como está afetando as empresas? Teremos recessão?
Esses foram alguns dos pontos da conversa com os dois executivos e dois ex-presidentes do BC num Globonews Especial neste fim de semana, sobre o que chamamos lá de "Os seis meses que abalaram o mundo".
Aliás, ainda abalam. Neste turbilhão de acontecimentos novos diários, os jornalistas são soterrados por informações e fatos inéditos de uma crise sem parâmetros. 1929 é só um quadro na parede. Em alguns aspectos, essa crise é pior que aquela; em outros, diferente.
Quando a crise vai acabar? Armínio disse que as condições iniciais dessa crise são piores que as de 29, as respostas dos governos, maiores, e a marca atual é a incerteza que dificulta qualquer previsão. Pastore disse que não há uma, mas várias crises: uma no Leste da Europa parecida com a que vivemos nos anos 90; uma de destruição de riqueza com a queda do valor das ações, dos imóveis, dos ativos em geral; uma crise financeira sistêmica. De la Rosa disse que a crise vai acabar quando a economia parar de cair, e ainda não parece perto de parar. Alquéres disse que a crise acabou, porque para ele o mundo entrou em outra realidade.
- Estou me programando para viver assim para sempre, e o que eu me pergunto é o que fazer para sobreviver - disse o presidente da Light.
- Na fábrica, eu falo para os meus executivos que nada mais pode dar errado, porque estamos no meio da floresta, com os animais ameaçando. É esse senso de urgência que não existe em Brasília - contou De la Rosa.
Para Armínio, houve vários vilões da crise, além, obviamente, dos bancos:
- Foi uma euforia, uma sensação de festa permanente que fez os padrões de prudência serem abandonados. O governo, como xerife, fracassou.
- Havia a ideia de que os riscos tinham desaparecido, o mundo inteiro achou que tinha descoberto a fórmula mágica. Houve um erro coletivo. O Brasil se beneficiou muito das bolhas - disse Pastore.
Armínio acha que a crise demorou um pouco a chegar aqui, iludindo tantos, porque, nove meses depois de iniciada a crise nos EUA, as commodities ainda estavam em alta. A partir de setembro de 2008, elas caíram.
Pastore aconselha que o Brasil mantenha algum superávit primário para continuar reduzindo a relação dívida/PIB. Tanto ele quanto Armínio acreditam que o Brasil pode derrubar a Selic para algo em torno de 4% de juros reais. Ter esse espaço é bom, porque outros países já perderam a capacidade de fazer política monetária contracíclica. Pastore alerta que o governo não deveria aumentar muito os gastos, porque ele só tem conseguido estimular o consumo do próprio governo. Armínio acha que o Brasil precisa ter cautela, porque tem alguma necessidade de financiamento e há uma enorme dificuldade de financiamento no mundo.
O governo Barack Obama não tem conseguido tirar seu pacote de saneamento dos bancos, da teoria para a prática, entre outras coisas, porque não consegue nomear a equipe. Em parte pela proibição de nomear quem já trabalhou em mercado.
A Marcopolo, empresa de Caxias, Rio Grande do Sul, está em nove países com fábricas ou intenção de investimento. Para De la Rosa, a Rússia é o pior dos Brics. Lá o crédito acabou completamente. Na China, a empresa iria entrar, mas decidiu adiar. Na Índia, as vendas de ônibus, que eram dois mil por mês, caíram para 500, agora em janeiro voltaram a mil e podem subir mais por estímulos do governo. A Argentina tem conseguido manter o ritmo, mas com muita intervenção do governo, e o México está sentindo fortemente a crise americana.
Alquéres conta que a inadimplência dos clientes da Light aumentou - felizmente os governos estão em dia. Mas as empresas médias têm pedido para parcelar a conta e pagar em cinco dias, ou em parcelas, dia sim, dia não.
- É uma forma de se financiar às custas da empresa, porque elas têm dificuldade de acesso ao crédito.
O que mais preocupa Alquéres é que ele acha que investimentos em hidrelétricas serão adiados e o Brasil vai acabar usando as térmicas e aumentando o custo da energia
Pastore acha que o Brasil terá recessão este ano. Armínio concorda e lembra que agora é que incomoda aquilo que não fizemos no período de crescimento, como investimentos em infraestrutura e em educação. De la Rosa disse que tem feito tudo para não demitir no Brasil. Alquéres contou que a Light não demitiu, nem pretende. Ninguém duvida que a crise continua e que este será um ano difícil.
A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, fechou uma fábrica na Rússia e deixou a outra parada. O diretor-geral da empresa, José Rubens de la Rosa, diz que em Brasília "não existe senso de urgência". José Luiz Alquéres, da Light, disse que as empresas médias estão tentando parcelar conta de luz para se financiar. Armínio Fraga e Affonso Celso Pastore acham que os juros reais podem cair para 4%.
Seis meses depois da quebra do Lehman Brothers, fatos acontecem diariamente como reflexo daquele louco domingo, 14 de setembro, em que ficou claro que havia uma crise sistêmica nos bancos americanos. Quanto tempo vai durar a crise? Como está afetando as empresas? Teremos recessão?
Esses foram alguns dos pontos da conversa com os dois executivos e dois ex-presidentes do BC num Globonews Especial neste fim de semana, sobre o que chamamos lá de "Os seis meses que abalaram o mundo".
Aliás, ainda abalam. Neste turbilhão de acontecimentos novos diários, os jornalistas são soterrados por informações e fatos inéditos de uma crise sem parâmetros. 1929 é só um quadro na parede. Em alguns aspectos, essa crise é pior que aquela; em outros, diferente.
Quando a crise vai acabar? Armínio disse que as condições iniciais dessa crise são piores que as de 29, as respostas dos governos, maiores, e a marca atual é a incerteza que dificulta qualquer previsão. Pastore disse que não há uma, mas várias crises: uma no Leste da Europa parecida com a que vivemos nos anos 90; uma de destruição de riqueza com a queda do valor das ações, dos imóveis, dos ativos em geral; uma crise financeira sistêmica. De la Rosa disse que a crise vai acabar quando a economia parar de cair, e ainda não parece perto de parar. Alquéres disse que a crise acabou, porque para ele o mundo entrou em outra realidade.
- Estou me programando para viver assim para sempre, e o que eu me pergunto é o que fazer para sobreviver - disse o presidente da Light.
- Na fábrica, eu falo para os meus executivos que nada mais pode dar errado, porque estamos no meio da floresta, com os animais ameaçando. É esse senso de urgência que não existe em Brasília - contou De la Rosa.
Para Armínio, houve vários vilões da crise, além, obviamente, dos bancos:
- Foi uma euforia, uma sensação de festa permanente que fez os padrões de prudência serem abandonados. O governo, como xerife, fracassou.
- Havia a ideia de que os riscos tinham desaparecido, o mundo inteiro achou que tinha descoberto a fórmula mágica. Houve um erro coletivo. O Brasil se beneficiou muito das bolhas - disse Pastore.
Armínio acha que a crise demorou um pouco a chegar aqui, iludindo tantos, porque, nove meses depois de iniciada a crise nos EUA, as commodities ainda estavam em alta. A partir de setembro de 2008, elas caíram.
Pastore aconselha que o Brasil mantenha algum superávit primário para continuar reduzindo a relação dívida/PIB. Tanto ele quanto Armínio acreditam que o Brasil pode derrubar a Selic para algo em torno de 4% de juros reais. Ter esse espaço é bom, porque outros países já perderam a capacidade de fazer política monetária contracíclica. Pastore alerta que o governo não deveria aumentar muito os gastos, porque ele só tem conseguido estimular o consumo do próprio governo. Armínio acha que o Brasil precisa ter cautela, porque tem alguma necessidade de financiamento e há uma enorme dificuldade de financiamento no mundo.
O governo Barack Obama não tem conseguido tirar seu pacote de saneamento dos bancos, da teoria para a prática, entre outras coisas, porque não consegue nomear a equipe. Em parte pela proibição de nomear quem já trabalhou em mercado.
A Marcopolo, empresa de Caxias, Rio Grande do Sul, está em nove países com fábricas ou intenção de investimento. Para De la Rosa, a Rússia é o pior dos Brics. Lá o crédito acabou completamente. Na China, a empresa iria entrar, mas decidiu adiar. Na Índia, as vendas de ônibus, que eram dois mil por mês, caíram para 500, agora em janeiro voltaram a mil e podem subir mais por estímulos do governo. A Argentina tem conseguido manter o ritmo, mas com muita intervenção do governo, e o México está sentindo fortemente a crise americana.
Alquéres conta que a inadimplência dos clientes da Light aumentou - felizmente os governos estão em dia. Mas as empresas médias têm pedido para parcelar a conta e pagar em cinco dias, ou em parcelas, dia sim, dia não.
- É uma forma de se financiar às custas da empresa, porque elas têm dificuldade de acesso ao crédito.
O que mais preocupa Alquéres é que ele acha que investimentos em hidrelétricas serão adiados e o Brasil vai acabar usando as térmicas e aumentando o custo da energia
Pastore acha que o Brasil terá recessão este ano. Armínio concorda e lembra que agora é que incomoda aquilo que não fizemos no período de crescimento, como investimentos em infraestrutura e em educação. De la Rosa disse que tem feito tudo para não demitir no Brasil. Alquéres contou que a Light não demitiu, nem pretende. Ninguém duvida que a crise continua e que este será um ano difícil.
A Marcopolo, fabricante de carrocerias de ônibus, fechou uma fábrica na Rússia e deixou a outra parada. O diretor-geral da empresa, José Rubens de la Rosa, diz que em Brasília "não existe senso de urgência". José Luiz Alquéres, da Light, disse que as empresas médias estão tentando parcelar conta de luz para se financiar. Armínio Fraga e Affonso Celso Pastore acham que os juros reais podem cair para 4%.