O GLOBO
Época de crise pode ser de grandes negócios também, mas, no Brasil, parece que só tem um único negociador presente em todos eles: o BNDES. Ao distinto público não é dado conhecer os critérios e as razões das escolhas do banco. No caso Sadia-Perdigão, fontes envolvidas na negociação garantem que o banco, se entrar, terá só 10% da nova empresa. A LLX garante que foi o banco que quis entrar.
O BNDES jogou bilhões em empréstimos e compra de ações na operação da Votorantim Celulose e Papel e da Aracruz Celulose. As duas perderam bilhões em operações especulativas no mercado de câmbio e foram salvas por essa operação de compra da Aracruz pela VCP, em que o BNDESpar entrou como sócio para capitalizar a nova empresa e o BNDES emprestava dinheiro.
Agora, discute-se a operação Sadia-Perdigão. Toda a expectativa é para o tamanho do rombo da Sadia, que se saberá quando for divulgado o balanço da empresa, na semana que vem. Ela terá de antecipar tudo o que perderá com os derivativos de câmbio até setembro deste ano. A repórter Flávia Barbosa, na edição de ontem do GLOBO, disse que o governo avalia que não há mais salvação para a Sadia e que ela terá de ser comprada pela Perdigão. Portanto, não seria mais o caso de fusão.
O que é preciso saber é quanto de dinheiro público entrará no jogo, e quanto haverá de subsídio ao negócio. A Perdigão é dos fundos de pensão, principalmente a Previ, do Banco do Brasil. No caso da Aracruz-VCP houve subsídio. Vamos ver se vai se repetir agora o padrão hospital que tem voltado a orientar as ações do BNDES nos últimos tempos.
Os argumentos que as duas empresas já levantam para garantir a ajuda do banco público é que o setor não pode ser desnacionalizado como foi o de processamento de soja. As duas juntas formam a maior processadora de proteína animal do mundo. Hoje, elas têm, juntas, 120 mil funcionários e se tornariam o terceiro ou quarto maior exportador do país.
- Dentro da visão estratégica de que as empresas brasileiras precisam criar musculatura para competir no mercado global, a união das duas seria um passo importante. Isso é o que está acontecendo em papel e celulose e pode vir a acontecer em etanol - disse-me uma fonte que participa das negociações.
O argumento é bom se forem observados dois cuidados: que a fusão, ou a aquisição, não seja feita com dinheiro público subsidiado do BNDES e que ela não resulte em excesso de concentração de mercado. Nas empresas, eles argumentam que no abate de aves e suínos as duas juntas teriam apenas 30% do mercado brasileiro e que são grandes apenas em alguns produtos, como pizza congelada e hambúrguer. Dizem também que o BNDES terá uma participação pequena.
- Provavelmente uns 10% da empresa através do BNDESpar, que é o maior fundo de participações do país e tem ações de todas as grandes empresas brasileiras, como Vale, Gerdau, Petrobras. É um fundo de R$50 bilhões a R$60 bilhões de participação em empresas. Mas ele não será um viabilizador do negócio - garante a fonte.
A LLX, de Eike Batista, também terá o BNDESpar como sócio, que vai pôr R$150 milhões por 12% das ações. Segundo a diretora-financeira da empresa, Eliane Lustosa, a decisão foi tomada pelo banco, que considerou o negócio interessante.
- O BNDES financiou parte da dívida, como faz com todas as empresas de infraestrutura. Por isso, há um ano o BNDESpar nos procurou para dizer que também queria ter uma participação em ações. Não houve pleito da empresa, nem havia interesse do Eike, nem do Ontario Teachers" Pension Plan (o fundo de pensão dos professores de Ontário, no Canadá) de diluir sua participação, mas, mesmo assim, os dois sócios vão deixar de subscrever uma parte do que têm direito num aumento de capital para abrir espaço para o banco.
Argumentei que o problema é que essa operação só está sendo feita agora, quando, por causa da queda do mercado de ações, a LLX desistiu de fazer o IPO (oferta inicial de ações).
- O erro no seu raciocínio é que o banco não entrou agora, ele já tinha decidido antes porque considerou um bom negócio. Ele não entrou para substituir o mercado - disse Eliane.
Outra questão em relação ao BNDES: ele tem que aprimorar seus critérios de concessão de empréstimos para não financiar o oposto do que deveria financiar, já que uma das suas fontes é o FAT. O repórter Eduardo Scolese, da "Folha de S.Paulo", contou na edição de terça-feira que o banco emprestou R$1 bilhão para usinas de cana de açúcar multadas por trabalho degradante. As multas chegam a R$540 mil, e algumas foram aplicadas antes da liberação dos empréstimos do BNDES.
Neste momento de crise, as empresas estão todas no banco, pedindo empréstimos ou oferecendo ações. Como o governo não faz qualquer exigência ambiental ou social nas suas operações de socorro a setores, o risco é aumentarem os casos em que o dinheiro público financia empresas que desmatam ou são flagradas pelo próprio governo praticando trabalho degradante ou até trabalho escravo (quando há servidão por dívida). E isso, é bom lembrar, com dinheiro de um fundo que se chama "de amparo ao trabalhador".
Época de crise pode ser de grandes negócios também, mas, no Brasil, parece que só tem um único negociador presente em todos eles: o BNDES. Ao distinto público não é dado conhecer os critérios e as razões das escolhas do banco. No caso Sadia-Perdigão, fontes envolvidas na negociação garantem que o banco, se entrar, terá só 10% da nova empresa. A LLX garante que foi o banco que quis entrar.
O BNDES jogou bilhões em empréstimos e compra de ações na operação da Votorantim Celulose e Papel e da Aracruz Celulose. As duas perderam bilhões em operações especulativas no mercado de câmbio e foram salvas por essa operação de compra da Aracruz pela VCP, em que o BNDESpar entrou como sócio para capitalizar a nova empresa e o BNDES emprestava dinheiro.
Agora, discute-se a operação Sadia-Perdigão. Toda a expectativa é para o tamanho do rombo da Sadia, que se saberá quando for divulgado o balanço da empresa, na semana que vem. Ela terá de antecipar tudo o que perderá com os derivativos de câmbio até setembro deste ano. A repórter Flávia Barbosa, na edição de ontem do GLOBO, disse que o governo avalia que não há mais salvação para a Sadia e que ela terá de ser comprada pela Perdigão. Portanto, não seria mais o caso de fusão.
O que é preciso saber é quanto de dinheiro público entrará no jogo, e quanto haverá de subsídio ao negócio. A Perdigão é dos fundos de pensão, principalmente a Previ, do Banco do Brasil. No caso da Aracruz-VCP houve subsídio. Vamos ver se vai se repetir agora o padrão hospital que tem voltado a orientar as ações do BNDES nos últimos tempos.
Os argumentos que as duas empresas já levantam para garantir a ajuda do banco público é que o setor não pode ser desnacionalizado como foi o de processamento de soja. As duas juntas formam a maior processadora de proteína animal do mundo. Hoje, elas têm, juntas, 120 mil funcionários e se tornariam o terceiro ou quarto maior exportador do país.
- Dentro da visão estratégica de que as empresas brasileiras precisam criar musculatura para competir no mercado global, a união das duas seria um passo importante. Isso é o que está acontecendo em papel e celulose e pode vir a acontecer em etanol - disse-me uma fonte que participa das negociações.
O argumento é bom se forem observados dois cuidados: que a fusão, ou a aquisição, não seja feita com dinheiro público subsidiado do BNDES e que ela não resulte em excesso de concentração de mercado. Nas empresas, eles argumentam que no abate de aves e suínos as duas juntas teriam apenas 30% do mercado brasileiro e que são grandes apenas em alguns produtos, como pizza congelada e hambúrguer. Dizem também que o BNDES terá uma participação pequena.
- Provavelmente uns 10% da empresa através do BNDESpar, que é o maior fundo de participações do país e tem ações de todas as grandes empresas brasileiras, como Vale, Gerdau, Petrobras. É um fundo de R$50 bilhões a R$60 bilhões de participação em empresas. Mas ele não será um viabilizador do negócio - garante a fonte.
A LLX, de Eike Batista, também terá o BNDESpar como sócio, que vai pôr R$150 milhões por 12% das ações. Segundo a diretora-financeira da empresa, Eliane Lustosa, a decisão foi tomada pelo banco, que considerou o negócio interessante.
- O BNDES financiou parte da dívida, como faz com todas as empresas de infraestrutura. Por isso, há um ano o BNDESpar nos procurou para dizer que também queria ter uma participação em ações. Não houve pleito da empresa, nem havia interesse do Eike, nem do Ontario Teachers" Pension Plan (o fundo de pensão dos professores de Ontário, no Canadá) de diluir sua participação, mas, mesmo assim, os dois sócios vão deixar de subscrever uma parte do que têm direito num aumento de capital para abrir espaço para o banco.
Argumentei que o problema é que essa operação só está sendo feita agora, quando, por causa da queda do mercado de ações, a LLX desistiu de fazer o IPO (oferta inicial de ações).
- O erro no seu raciocínio é que o banco não entrou agora, ele já tinha decidido antes porque considerou um bom negócio. Ele não entrou para substituir o mercado - disse Eliane.
Outra questão em relação ao BNDES: ele tem que aprimorar seus critérios de concessão de empréstimos para não financiar o oposto do que deveria financiar, já que uma das suas fontes é o FAT. O repórter Eduardo Scolese, da "Folha de S.Paulo", contou na edição de terça-feira que o banco emprestou R$1 bilhão para usinas de cana de açúcar multadas por trabalho degradante. As multas chegam a R$540 mil, e algumas foram aplicadas antes da liberação dos empréstimos do BNDES.
Neste momento de crise, as empresas estão todas no banco, pedindo empréstimos ou oferecendo ações. Como o governo não faz qualquer exigência ambiental ou social nas suas operações de socorro a setores, o risco é aumentarem os casos em que o dinheiro público financia empresas que desmatam ou são flagradas pelo próprio governo praticando trabalho degradante ou até trabalho escravo (quando há servidão por dívida). E isso, é bom lembrar, com dinheiro de um fundo que se chama "de amparo ao trabalhador".