Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 12, 2009

Mais cheiro de queimado Vinicius Torres Freire

FOLHA DE S. PAULO

Exportação da China volta a desabar novo, crédito piora de novo: comércio em baixa e crédito raro avariaram o Brasil

O BRASIL FAZ água porque os estilhaços da explosão do mundo rico fizeram buracos no nosso casco. Importamos os estilhaços da crise, que continuam a lascar navios pelo planeta afora. O naufrágio do nosso PIB se deveu à contração de crédito e à baixa do comércio mundiais. Que pioram.

O valor das exportações chinesas caiu ainda mais em fevereiro: 25,7% (ante fevereiro de 2008). No primeiro bimestre, a baixa foi de 21,6%; no caso das importações, a queda foi de 34%. Se o comércio chinês caiu, o do resto dos exportadores de peso (EUA, Alemanha, Japão) não deve ter se saído melhor em fevereiro, para dizer o mínimo.

Há sinais de nova contração de crédito na praça mundial. Nos meses anteriores e imediatamente posteriores à quebra de grandes bancos americanos, a taxa que os bancos dizem cobrar uns dos outros na praça de Londres, a Libor, foi às alturas. Depois de janeiro de 2009, planou suavemente para baixo e, por um tempo, até esquecemos dela. Ontem, o economista e colunista desta Folha Paulo Rabello de Castro observava em sua coluna que a taxa Libor indicava um novo risco de "apagão" financeiro. Pois é. A Libor deu uma nova decolada. E daí?

Trata-se aqui da diferença ("spread") entre os juros interbancários (Libor) e, grosso modo, a taxa esperada para os "Fed funds", a taxa "básica" de juros americana (a "Selic" deles), o que na medonha língua financeira se chama "Libor-OIS ("overnight indexed swaps") spread". O aumento desse "spread" em tese é um indício de que cresceu a relutância dos bancos de emprestar uns aos outros e/ou escassez de capital nos bancos e/ou alta no risco percebido de calote. Está no maior nível desde o início de janeiro, quando houve o primeiro tremelique financeiro do ano. Para usar uma metáfora, trata-se de algo como um "risco-bancos", mais ou menos como há um "risco-país".

Para piorar, o "risco-empresas" também voltou a subir. Isto é, juros para empresas estão mais altos, outro sinal de relutância financeira e de que a redução de juros "básicos" pelos bancos centrais ainda não está surtindo efeito bastante.

Porém, a conversa de muito porta-voz do mercado, os gestores de dinheiro que papagueiam pelos meios de comunicação, é que há "sinais de esperança" de que a crise bancária no mundo rico estaria arrefecendo. Não parece estar, mas o pessoal anda comprando ações de bancos por esses dias, e o custo de fazer seguro contra calotes do Citi e do Bank of America caiu um tico.Quem gerencia a crise não parece muito tranquilo. Timothy Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, pediu ontem quem os países ricos gastem mais e que os fundos emprestáveis do FMI passem de US$ 250 bilhões para US$ 750 bilhões, a fim de estimular as economias "emergentes" e tapar rombos em suas contas externas. Não parece a atitude de alguém que espera dias de sol. Por falar nos EUA, ainda não se sabe como eles vão lidar com o papelório podre nos bancos.

Em suma, continuam as explosões da economia mundial que avariaram a economia brasileira: o crédito no centro do mundo continua restrito, piorando agora, e o comércio mundial desaba.

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