Veneno de cascavel, se não mata, aleija. Mas também serve para curar picada de cascavel, como os técnicos do Instituto Butantan estão sempre prontos a ensinar.
É, em parte, o que também se diz da política de juros. Na semana passada, na cidade do Porto, o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, afirmou que a crise financeira que assola a economia mundial é "em parte consequência de um longo período de baixas de juros".
Meirelles se referiu ao período de novembro de 2002 a setembro de 2004, em que os juros básicos comandados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) ficaram ao redor de 1% ao ano (veja o gráfico). Foi um tempo de fartura de recursos e de crédito que empurrou o mercado financeiro para o risco a ponto de levar grande número de instituições financeiras e não financeiras a apostas irresponsáveis, como aconteceu com a AIG.
Paradoxalmente, uma vez que a economia dos países ricos mergulhou na crise, a política adotada por todos os bancos centrais do bloco foi derrubar drasticamente os juros. O Fed comanda um mercado monetário em que os juros primários estão desde dezembro próximos do zero e deverão ficar por aí provavelmente por muito mais tempo do que ficaram no período apontado por Meirelles. Na semana passada, o Banco Central Europeu (que comanda toda a zona do euro) baixou os juros para 1,5% ao ano e seu presidente, Jean-Claude Trichet, avisou que provavelmente terá de derrubá-los ainda mais.
Convém pontuar que, diferentemente do que acontece com os soros antiofídicos, os juros baixos não estão sendo injetados para curar a economia. Estão lá apenas para impedir que se deteriore ainda mais.
Mas a observação de Meirelles, que responsabiliza ("em parte") os juros baixos nos Estados Unidos por tudo o que está acontecendo, levanta uma questão mais profunda. Se os juros no período considerado estiveram baixos demais, com base em que argumento deveria o Fed tê-los puxado para cima? A inflação naqueles tempos oscilava entre 1% e 3% ao ano; aumentar ainda mais os juros atiraria a economia para a deflação, fenômeno tão ou mais perigoso do que a inflação, como o então presidente do Fed, Alan Greenspan, alertava. Enfim, se não havia inflação a combater e se o risco era produzir deflação, por que, então, o Fed deveria ter aumentado os juros?
Em outras oportunidades, esta coluna mencionou discussões sobre o tema no âmbito do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), que opera como uma espécie de banco central dos bancos centrais. Um dos seus economistas, William White, sugeriu que o conceito de inflação tomado pelos bancos centrais para a definição dos juros deixasse de ser o custo de vida. No cestão medidor de inflação deveriam, segundo ele, ser incluídas as cotações dos ativos financeiros. Assim, a alta dos títulos (e das ações) seria imediatamente detectada pelos bancos centrais e, por conta desse movimento, os juros teriam de subir.
Essa proposta está longe de ser aceita pelos senhores do mundo, especialmente ante a agenda de prioridades que a crise vem determinando. Mas não dá para ignorar que a política monetária, tal como praticada hoje no mundo, também concorre para produzir crises e precisa ser revista.
Confira
Baratas tontas - Os diretores da General Motors americana parecem ter perdido a noção da estratégia de saída da crise. Em dezembro ainda diziam que a concordata seria fatal.
Na semana passada, com o concurso de seu auditor (a Deloitte), sugeriam que não há saída senão pedir concordata e buscar acordo com os credores. Mas anteontem voltaram atrás e recusaram a concordata.
Questão-chave é saber se os compradores se arriscariam a comprar um carro zero de uma montadora que, declaradamente, pode falir. Como ficariam a garantia, a assistência técnica e o fornecimento de peças?
Entrevista:O Estado inteligente
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