Pois é, senhor moço prefeito, não sei se já deu para perceber, mas a festa acabou. Como numa quarta-feira de carnaval antigo, confete e serpentina são agora lixo no chão. E, com ou sem ressaca de réveillon, chegou a hora do batente.
Como é que vai ser? Todo mundo espera alguma coisa de novo; acima de tudo, diferente do sistema de administração pela ausência a que o Rio foi submetido nos últimos anos.
Não se nega originalidade ao fenômeno Cesar Maia. Ele foi, ou pelo menos pareceu ser, um prefeito competente e imaginoso no primeiro mandato.
Mas, em quase toda a segunda gestão, sem aviso ou pretexto, mostrouse administrador ausente ou suspeito.
Até agora o Rio não sabe se testemunhou uma transformação radical ou um engodo a longo prazo. Em qualquer hipótese, o carioca é hoje um animal político bastante ressabiado.
Ele sabe que o novo prefeito começou carreira na vida pública como aprendiz do Cesar do bem e pulou para o primeiro plano como adversário do outro Cesar. Quem sabe, isso é bom augúrio para Eduardo Paes, que, pode-se imaginar, estaria assumindo a prefeitura com dois a zero em seu favor, num contexto político. Isso talvez não queira dizer coisíssima alguma.
Mas soa bem.
Outra incógnita: o novo prefeito será principalmente um administrador municipal? Ou um apostador a mais no grande cassino federal? Pensará quase exclusivamente nos problemas locais — trânsito, moradia, segurança, lixo — ou estará mais preocupado em acertar na roleta? Ele é suficientemente moço para jogar a longo prazo: ganhar fama na esfera local e com isso adquirir fichas para, mais adiante, meter-se no grande jogo nacional.
Quase meio século atrás, quando o Rio tinha nome de estado mas as mesmas dimensões do município de hoje, foi a boa gestão no então Estado da Guanabara que deu a Carlos Lacerda boa parte do cacife que o transformou em líder nacional, pelo menos até a instalação do regime militar. Seria Lacerda, mais do que o primeiro Cesar, o modelo de Paes? O estado e o país mudaram muito, e bote-se muito nisso, desde aquele tempo.
Não há paradigmas, paralelos ou exemplos que sirvam de pistas para o que nos espera depois da próxima curva.
Sem falar na crise financeira mundial e no seu impacto sobre cofres modestamente municipais em qualquer parte do planeta.
Todo esse blablablá, como já deu para notar, conduz a singela conclusão: faltam indícios confiáveis para sairmos por aí fazendo previsões sobre a gestão do novo prefeito carioca.
Ele chega com a vantagem considerável de suceder a uma administração omissa em grau extremo. Pode ganhar sem problemas nas comparações, pelo menos nos primeiros tempos da gestão. Mas, devido ao tamanho de buracos — inclusive os propriamente ditos —, também não lhe será fácil recuperar a imagem da prefeitura antes de cair, metafórica ou dolorosamente, em algum deles.
Entrevista:O Estado inteligente
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