A urna de domingo e os ladrões
Paulo Roberto Costa era apenas um tipo comum. Jamais seria incluído numa lista de mais influentes nem era chefe de nada. Não levava jeito para "capo di tutti i capi". Permaneceu por nove anos à frente da diretoria de Abastecimento da Petrobras. Chegou pelas mãos do PP e, bom rapaz, foi logo adotado pelo PT e pelo PMDB.
Lula, que sempre soube empregar o diminutivo com grande eficiência, o chamava de "Paulinho". Há "Paulinhos" à mancheia nas outras estatais, nos fundos de pensão, nas autarquias, na alta administração federal, em toda parte. Os "Paulinhos" sem rosto são mais influentes na República do Babalorixá de Banânia do que os eunucos no Império Persa.
Costa está em prisão domiciliar, ornado por uma tornozeleira eletrônica. No acordo de delação premiada, aceitou devolver aos cofres públicos espantosos R$ 70 milhões. É o que admite ter capturado, em proveito próprio, como operador do esquema criminoso, suprapartidário e governista, incrustado na estatal. Ele separava para si, note-se, apenas uma pequeníssima parcela do saque. Quanto levavam seus "chefes"?
Um termo de comparação: o mensalão, segundo Roberto Gurgel, ex-procurador-geral da República, distribuiu R$ 141 milhões em propina. No petrolão, um corrupto menor assume que a, digamos, taxa de administração da canalhice lhe rendeu o correspondente a 50% do que movimentou um dos maiores esquemas de corrupção da história do país.
Dado o tamanho do Estado no Brasil, é forçoso concluir que vivemos sob a permanente rapinagem de uma súcia. Se uma empresa como a Petrobras não dispõe de um sistema de "compliance" que a torne imune a práticas dessa natureza, pode-se imaginar a desenvoltura com que atua a bandidagem em áreas bem menos expostas à curiosidade pública e desobrigadas de fazer ao menos a mímica da boa governança corporativa.
Não obstante, o estatismo goza de grande prestígio no Brasil, especialmente junto a acadêmicos, artistas e jornalistas, que ajudam, sim, a formar opinião e a plasmar consensos. Os escândalos na Petrobras se tornaram tema de campanha –e nem poderia ser diferente. Mas nós os estamos debatendo como se fossem apenas casos de polícia, e esta é a sua face menos importante. O assalto organizado à Petrobras é um caso de política.
Há quatro eleições já, incluindo a deste ano, o petismo sufoca o país com a sua ladainha estatista, que só interessa à burguesia sindical do capital alheio e, portanto, aos aparelhos que garantem a influência e o poder do próprio... petismo.
Os verdadeiros espoliadores do Brasil, a "classe" de fato dominante, são justamente aqueles que saem por aí a falar em nome da igualdade e da justiça social. Praticam a forma mais porca e perversa do discurso ideológico, que é a do mascaramento da verdade. Quando é que voltaremos a ter uma candidatura viável, com a coragem de dizer os nomes daqueles que nos assaltam e condenam?
Ah, sim: na vigência do esquema criminoso, a Petrobras financiava boa parte da "consciência crítica" da "arte brasileira". Afinal, os desdentados, miseráveis e barrigudinhos produzidos por esse modelo merecem ao menos as metáforas pedestres –de esquerda, claro!– expelidas por "artistas" financiados. É de dar nojo.