É hoje o dia. Haverá os presentes e os faltosos, os que votam nulo e branco, os 354 mil que vivem no exterior e os idosos que fazem questão de sair de casa e fazer valer sua escolha. São 142.822.046 brasileiros aptos a votar nestas eleições e que decidirão quem vai comandar o Brasil nos próximos quatro anos. Hoje, ao digitar uma das teclas - Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT) -, será que eles têm pleno conhecimento e consciência das razões que os levaram a escolher um ou outro? Afinal, o que vai acontecer no Brasil que sairá das urnas?
Quem tiver a resposta exata, precisa, sem hesitações nem tropeços, vai ganhar o prêmio Sobrenatural de Almeida, conferido àqueles que detêm poderes mágicos de adivinhar o que está oculto, porque não foi revelado.
Em três meses de campanha eleitoral, nas ruas e na TV, os eleitores foram diariamente massacrados por xingamentos e baixarias confrontadas em virtual ringue de luta livre. Os candidatos se esmeraram em debochar e desrespeitar os brasileiros que gostariam de celebrar o dia em que a democracia lhes reserva o poder de influenciar a política e melhor expressar sua participação nela, mas vão para as urnas sem conhecer o que os espera no futuro.
Dilma Rousseff passou três meses agredindo adversários. Marina Silva e Aécio Neves usaram seu tempo para se defender, mas também para atacar. Dos três, Marina ainda tentou trazer para a campanha o bom debate sobre seu programa de governo, mas foi atropelada pelas agressões. Chegou ao absurdo de ser acusada de desejar transferir a gestão do País para os banqueiros ao propor autonomia para o Banco Central. A tática do ataque que busca propagar o medo funcionou e afastou Marina Silva da disputa. Aécio Neves ensaiou apresentar pílulas de suas propostas para o País nos últimos dias do primeiro turno, mas recuou e não falou mais no assunto. Cadê os programas de governo de Dilma e de Aécio?
O eleitor vota hoje no desconhecido. Sem saber quais são as chances reais de a economia voltar a crescer, gerar desenvolvimento e empregos; se a inflação vai recuar ou seguir em galope; se o salário vai dar para pagar as contas do mês; se o Brasil deixará de ocupar a lanterna em educação e as escolas passarão a oferecer melhor qualidade no ensino para crianças e jovens; se esgoto e água tratada vão mesmo chegar às casas onde não os há; se a saúde vai melhorar e se haverá hospitais e ambulatórios para atender quem precisa; se o governo vai seguir gastando mais do que arrecada e desperdiçando dinheiro público em sustentar uma estrutura gigante e cara de 39 ministérios; se o governo vai intervir menos, regular mais e as empresas voltarão a investir em infraestrutura; se vão melhorar ou piorar os índices de confiança dos investidores e consumidores no futuro da economia; enfim, se os ajustes - decorrentes de quatro anos de decisões e apostas erradas na economia e que levaram o País à recessão com inflação - virão e como virão.
Corrupção. A corrupção não foi incluída na listagem acima porque ocupou lugar de destaque, foi protagonista principal desta campanha. Claro, do seu lado mais perverso e destrutivo: a troca de denúncias e de acusações.
Os candidatos não usaram seu tempo na TV para explicar aos eleitores a raiz, a origem da corrupção, nem revelaram propostas para combatê-la. Não disseram se faz parte de seus programas eliminar ministérios que o ex-presidente Lula e Dilma criaram só para dar poder de manejar verbas aos políticos de partidos aliados; se vão criar regras para profissionalizar a gestão em estatais, agências reguladoras e órgãos do governo e acabar com o loteamento político de cargos; e se vão reforçar e exigir maior rigor de órgãos de controle da aplicação de dinheiro público. No Brasil, a corrupção tem relação direta com o financiamento de campanhas eleitorais milionárias, atraindo financiadores que cobram a conta depois, na gestão do eleito. Tem relação também com o tamanho do Estado, que tem crescido para dar aos políticos acesso às verbas. Faça-se aí justiça ao governo de Fernando Henrique Cardoso, que privatizou distribuidoras elétricas e bancos estatais que irrigavam dinheiro público para campanhas eleitorais. Dessa conta a população ficou livre.
Embora às avessas, o Brasil acaba de viver experiência que comprova ser dispensável a estrutura gigante e cara que os brasileiros sustentam em Brasília. Há 37 dias a presidente Dilma Rousseff não trabalha no Palácio do Planalto e nove de seus ministros pediram licença ou férias para trabalharem nas eleições. Nem por isso o País parou.
E 2015? Durante esta campanha predominou a convicção de que o primeiro ano do novo governo será de arrumação da casa: reajustar tarifas públicas represadas (combustíveis e energia elétrica são as principais); evitar que tal reajuste cause impacto forte na inflação; corrigir erros para reavivar investimentos industriais e retomar licitações em infraestrutura; buscar o equilíbrio das contas públicas e das contas externas; recuperar a confiança na gestão da contabilidade pública, perdida com os truques e as alquimias dos últimos anos; dinamizar a economia e sair da recessão gerando taxas decentes de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Enfim, será um ano para conceber, divulgar e implementar um programa econômico competente, que não mude a toda hora e que crie um ambiente de negócios estável e favorável para o investimento.
Entre economistas, consultores, mercado financeiro e mesmo funcionários do governo há a certeza de que esses pontos precisam ser atacados de imediato, para a nova gestão ganhar fôlego e marchar na direção de uma economia próspera. Mas a grande dúvida, por incrível que pareça, não vem de Aécio Neves, um novato na Presidência da República, mas da veterana Dilma Rousseff, que há quatro anos ocupa o cargo. Dúvida de sua disposição em reconhecer erros e experimentos fracassados neste mandato e partir para corrigi-los.
Se Dilma Rousseff for eleita para um segundo mandato, o País pode repetir em 2015 a experiência vivida em 2003. Na época, Lula percebeu que conquistar credibilidade e ter um mínimo de tranquilidade para governar implicava seguir rigorosamente os acertos da política macroeconômica de FHC. E Dilma, terá a grandeza de corrigir erros e seguir o caminho certo?
É JORNALISTA E PROFESSORA DE COMUNICAÇÃO DA PUC-RIO
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