O GLOBO
Todo mundo bebeu, comemorou, fez planos, a imprensa deu matérias, mas o carnaval chegou e ninguém fez nenhuma música, com a exceção de Braguinha, o rei das marchinhas
Em julho de 1967, com 23 anos e repórter do "Jornal do Brasil", fui conversar com o diretor da gravadora Philips, João Araújo, para uma matéria sobre a decadência das músicas de carnaval, e acabou surgindo a ideia de uma campanha para renovar o repertório carnavalesco — e ninguém melhor para isso do que a nova geração de compositores que estava surgindo na Era dos Festivais. João procurou Vinicius de Moraes para convocar o pessoal, apadrinhar e lançar a campanha, e o poeta ofereceu sua cobertura na Rua Diamantina, no Jardim Botânico, para receber os compositores e a imprensa.
Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Dori Caymmi, Capinam, Sidney Miller, Luiz Eça, Tuca, Francis Hime, Olivia Hime, Torquato Neto e Eumir Deodato foram os jovens talentos convocados por Vinicius, que se juntaram ao mestre de todos, Tom Jobim, ao consagrado Luiz Bonfá e a compositores populares, como o sambista Zé Keti e o rei das marchinhas João de Barro, o Braguinha, tendo como madrinha Linda Batista, que Vinicius via como um símbolo dos grandes carnavais do passado.
Nem todos eram da música, como a roteirista Lenita Plonkzinska, casada com o pianista Luiz Eça, e a futura grande figurinista de novelas da TV Globo Helena Gastal, que era amiga da turma e minha namorada, além da aspirante a compositora Jandira Negrão de Lima, que, desconfia-se, Vinicius chamou diplomaticamente por ser filha do governador do Rio de Janeiro, Francisco Negrão de Lima.
Eu estava lá em dupla condição, de vencedor do Festival da Canção com "Saveiros", em parceria com Dori Caymmi, e amigo de Vinicius, e repórter destacado pelo JB para cobrir o lançamento da campanha.
Alguns morreram muito jovens, como Torquato, Sidney Miller e Tuca, vários se tornaram gigantes da música brasileira e internacional.
O fato da foto é que todo mundo bebeu, comemorou, fez planos, saíram várias matérias na imprensa, mas o carnaval chegou e ninguém fez nenhuma música, com a exceção de Braguinha, que desde os anos 30 já era o rei das marchinhas e continuou sendo.
(Trecho de "As sete vidas de Nelson Motta", breve nas livrarias)
Nelson Motta é jornalista