O GLOBO
Aécio tem o direito de lamentar, mas não o de reclamar: Minas Gerais conferiu o triunfo a Dilma. Os 3,3 milhões de votos que separaram a presidente do desafiante correspondem à soma quase exata da vantagem que ela obteve em Minas com a diferença que, meses atrás, ele planejou alcançar em "seu" estado.
Minas é um "Brasil em miniatura" num sentido bem preciso: sua porção norte exibe indicadores sociais similares aos do Nordeste, contrastantes com os da parte sul. A vitória da presidente candidata reflete a força esmagadora do aparelho de Estado. No Brasil, como em tantos outros países ainda marcados por carências e desigualdades sociais, o governo quase sempre tem os votos dos mais pobres.
Analistas superficiais apontam para um elemento de continuidade: a persistência da polarização entre PT e PSDB, um traço da política brasileira que completa duas décadas. Entretanto, a eleição de ontem singulariza-se por um elemento de ruptura. O lulopetismo venceu três eleições sucessivas por larga maioria, mas, agora, triunfou quase no fio de cabelo. Mais: o PT perdeu por amplas margens no eleitorado urbano das grandes e médias cidades do Centro-Sul, uma tendência que observamos, em menor escala, nos pleitos de 2006 e 2010. A base política do governo deslocou-se para longe dos polos sociais e econômicos mais dinâmicos.
Para vencer, a campanha de Dilma desceu aos subterrâneos, bombardeando todos os adversários com insultos e calúnias. Eduardo Campos ("playboy mimado"), Marina Silva ("pretende tirar a comida da mesa dos pobres") e Aécio ("alcoólatra, drogado e violento com as mulheres") foram tratados como "inimigos do povo". É um sinal assustador para a saúde das instituições democráticas.
No fim, a própria Dilma insurgiu-se contra o mensageiro, para fugir da mensagem, acusando a revista ''Veja'' de promover um "processo golpístico". O governo já deveria saber, 12 anos depois, que é missão da imprensa publicar sem dilação as informações que têm. O escândalo na Petrobras não desaparecerá por um arroubo de fúria do Planalto. Que o segundo mandato não seja envenenado, desde o início, por uma cruzada contra a liberdade de informar.