25 outubro 2014
Não importa o desfecho das eleições deste domingo; Há uma conta a ser distribuída para a sociedade, numa situação em que a economia enfrenta estrangulamentos e algumas distorções
Não importa o desfecho das eleições deste domingo. Há uma conta a ser distribuída para a sociedade, numa situação em que a economia enfrenta estrangulamentos e algumas distorções.
O baixíssimo crescimento dos últimos quatro anos produziu uma arrecadação fraca, curta demais para financiar as despesas puxadas pelas opções feitas pelo governo Dilma.
Secura. Comissão de crise (FOTO: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO)
Todas as manobras, das mais às menos cabíveis, foram completadas para cobrir esse descoberto. As cordas ficaram excessivamente esticadas e os ajustes são agora inevitáveis. Se não forem feitos, a economia tende a ficar ainda mais desequilibrada.
Quando o trânsito nas ruas e nas rodovias flui bem, é sempre mais fácil de passar de uma faixa a outra da pista ou fazer uma manobra de correção. Com a economia andando, também as mudanças de rumo ficam mais fáceis. Nos congestionamentos que hoje paralisam a atividade produtiva, no entanto, será mais complicado transferir a conta da crise para a sociedade.
O ambiente é adverso. Nesse clima de retração dos mercados, o País não poderá mais contar com as boas receitas das exportações de commodities. Não apenas as contas externas se ressentirão com a menor entrada de recursos, como também, por conta disso, menos dinheiro circulará na economia interna. Não dá, também, para contar com o vento a favor da atividade global, cujo desempenho tende a continuar fraco, podendo deslizar para mais recessão e mais desemprego.
O desafio mais urgente a enfrentar é a crise hidrológica. Mesmo que as chuvas cheguem aos principais centros produtores, as indicações são de que continuarão insuficientes para recuperar reservatórios e lençóis freáticos.
Parece inevitável a instauração de um gabinete de crise, pelo menos no Sudeste, para administrar a escassez. Nessas circunstâncias, o instrumento mais eficiente para racionalizar o consumo, tanto de água doce quanto de energia elétrica, não é a concessão de descontos para quem eventualmente se disponha a reduzir o consumo, mas o aumento de preços. Nada como a dor de bolso para criar mentalidade de economizar um recurso escasso. De quebra, o aumento dos preços ajudaria, em parte, a recompor a arrecadação, na medida em que os impostos estão embutidos nos preços ao consumidor.
Também é inevitável o desrepresamento das tarifas dos combustíveis, da energia elétrica, dos transportes urbanos e também do câmbio – tema já exaustivamente debatido ao longo dos últimos meses, inclusive por esta Coluna. São providências que, num primeiro momento, tendem a acelerar a inflação, fator que, por sua vez, deverá pedir mais agressividade do Banco Central na condução da política monetária.
Para empurrar o crescimento econômico e evitar transferências de uma conta ainda mais alta no futuro, parece indispensável, também, a criação de um comando unificado destinado a agilizar investimentos em infraestrutura. A exasperante lentidão com que são administrados os leilões de concessão e de outorga deve-se, principalmente, à falta de entendimento entre as dezenas de repartições federais das quais dependem providências para que os projetos saiam do papel. E para superar esses problemas parece inevitável uma reforma administrativa.
CONFIRA:
A tabela mostra em que setores foram aplicados os recursos que entraram como Investimentos Estrangeiros Diretos em 2013 e em 2014.
Buraco maior
O Banco Central continua otimista demais quando projeta rombo em Transações Correntes de apenas US$ 80 bi para 2014. Se o déficit de setembro se repetir por mais três meses, o déficit do ano passará dos US$ 92 bi. O saldo comercial também não alcançará US$ 3 bilhões – a menos que a Petrobrás apareça com outra exportação ficta de plataforma de petróleo.