- O Estado de S.Paulo
30 Outubro 2014 | 02h 05
Neste momento de ressaca eleitoral é normal que as pessoas procurem imaginar como será o Brasil nos próximos quatro anos de governo de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores.
Nos Estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, do Norte e Nordeste, percebeu-se pelo resultado das eleições que a população não demonstrou interesse em mudar, ou seja, as pessoas pareceram estar satisfeitas com o atual governo (tanto assim que votaram por sua permanência). Isso deve ser respeitado.
Mas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Espírito Santo, em São Paulo, no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul é grande o desconforto dos brasileiros com a circunstância de vivermos num país emperrado, que cresce menos do que a Bolívia e o Paraguai. Para muitos, o resultado da disputa eleitoral foi pior do que perder para a Alemanha de 7 a 1.
Enfim, neste segundo universo a ansiedade é maior. Ao contrário daqueles que demonstraram comodismo, e parecem achar que tudo deve continuar como está, os perdedores da eleição preocupam-se com o que poderá acontecer não só com o próprio País, mas com cada um de nós.
A ausência de crescimento econômico tem sido a tônica dos quatro anos anteriores do governo Dilma, mas como tanto ela como o Partido dos Trabalhadores continuarão a mandar as esperanças ficaram reduzidas. As mesmas pessoas, com os mesmos pensamentos, foram mantidas no poder e isso não provoca entusiasmo algum, causando a impressão do mesmo marasmo, da mesma água morna.
A toda hora se ouve que o País é um só e que não se deve raciocinar em cima do resultado das eleições. A presidente da República falou várias vezes ao longo da campanha eleitoral que vai tomar atitudes em favor da educação, da saúde, dos transportes e da segurança pública. Mas como ela já podia ter feito isso, e não fez, é normal que existam descrédito e desconfiança.
Na verdade, sempre se mostrou notória a fragilidade da presidente Dilma na forma de governar. Essa incapacidade lhe é intrínseca, ou seja, vem do seu interior, do seu intelecto e, quem sabe, até mesmo do seu coração. Por força da inaptidão, acabou por produzir um governo de encolhimento do País e de florescimento do sentimento de revolta dos que não se conformam com o marasmo.
Nos Estados em que ela perdeu as eleições a sede por desenvolvimento é muito mais expressiva, porém se mostra bloqueada pela pequenez da conduta governamental. Veja-se que a presidente, na tentativa de fazer um bom governo, chegou ao absurdo de constituir 39 ministérios, como se a presença maciça de mais políticos no poder resultasse em melhora.
O efeito foi contrário, tudo piorou, e esse número vergonhoso de ministérios serviu unicamente para inchar ainda mais a máquina pública e aumentar os gastos com pagamentos a servidores. Houve algum benefício? As reuniões da presidente da República com seus 39 ministros deveriam ser transmitidas pelas TVs oficiais e assim demonstrar aos brasileiros a inutilidade de tanta gente no governo.
Mas por que a presidente convocou tantos políticos para fazer parte de seu governo? Foi a forma que encontrou de anestesiar os partidos políticos no Congresso Nacional e cobrar cada um desses ministros nos momentos de votação de projetos de interesse da administração federal.
O absurdo dessa conduta conduziu a um resultado muitas vezes pior: o avanço no dinheiro público para satisfazer as baixas necessidades dos políticos que não são capazes de apoiar a presidente em função de ideias, mas somente de vantagens pessoais e econômicas.
Esse comportamento condenável levou à eclosão do escândalo do mensalão e, mais recentemente, ao da Petrobrás, que agora não é mais nossa, é deles.
Nessa realidade, em que a presidente reeleita tem como traço característico inaptidão tão expressiva e o Partido dos Trabalhadores continuará com mais força ainda, o sonho de um Brasil melhor, que crescesse mais e produzisse mais, ficou outra vez adiado.
A inabilidade de Dilma Rousseff nos últimos tempos foi tão marcante que chegou ao extremo de anunciar previamente a substituição do ministro da Fazenda, circunstância que introduziu mais insegurança ainda entre empresários, industriais e comerciantes. A repercussão no exterior foi péssima e se converteu na previsão, feita pela maior parte dos economistas, de que dificilmente esse Brasil petista atrairá investimentos externos, podendo, ao contrário, resultar na fuga de capitais.
Outra circunstância que desautoriza previsões otimistas está na segurança interna, ou seja, na falta dela. Parece inacreditável que continuem a ingressar no Brasil, pelas fronteiras de países vizinhos, as armas e drogas que alimentam o crime organizado e matam os nossos filhos e netos. Não se vê o menor esforço governamental para se aliar a esses vizinhos no necessário combate à produção das drogas e à entrada de armas, produzidas, sobretudo, nos Estados Unidos e na Europa. Esses países vizinhos, ocupados por governantes amigos do ex-presidente Lula, continuam a produzir cocaína e a permitir a entrada de armas a fim de serem exportadas clandestinamente para o Brasil.
Não se pode compreender a insensibilidade do atual governo para um problema dessa grandeza. A percepção que se tem é de que tudo continuará assim mesmo e que o companheiro Evo Morales continuará a dizer que a cocaína não é um problema na Bolívia. E não é mesmo: é um problema nosso. E para ele, um cocaleiro, isso não faz diferença alguma.
Sempre é bom lembrar que algum tempo atrás, quando a Petrobrás ainda era nossa, Evo Morales submeteu o Brasil e os brasileiros a uma odiosa humilhação, bloqueando as atividades da empresa na Bolívia da forma mais torpe. E nada lhe aconteceu.
*Aloísio de Toledo César é desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. E-mail: aloisio.parana@gmail.com