O chavismo muda de rumo
Desde 1992, quando o coronel Hugo Chávez ingressou na atividade política com um golpe sangrento contra um governo democrático, os venezuelanos passaram a viver no que os chineses denominam "tempos interessantes". A partir de 1999, quando Chávez chegou ao poder por via eleitoral, até o final de 2012, a Venezuela esteve submetida às experiências políticas e econômicas que iam surgindo da febril imaginação do caudilho. Anunciou-se o início do desenvolvimento endógeno; ofereceu-se levar a Venezuela ao mesmo mar de felicidade no qual navega Cuba; e decidiu-se implantar o socialismo do Século XXI.
O regime que esteve vigente durante 14 anos acabou se denominando chavismo. A centralização das instâncias decisórias na figura do Comandante e o controle governamental sobre os meios de comunicação contribuíram para estimular o culto à personalidade. O auge do preço internacional das commodities pôs à disposição do governo um fluxo de recursos sem precedentes. O resultante aumento do nível do gasto público, sem um coerente programa de investimentos, de auditoria ou prestação de contas, veio acompanhado de aumentos comparáveis de desperdício e corrupção.
A bonança petrolífera permitiu a Chávez implementar programas sociais cujo propósito era consolidar uma base política, mais do que reduzir a pobreza.
A prosperidade se esvaiu em meio à desordem fiscal, ao excessivo endividamento externo e à frouxa política monetária. A doença de Chávez dificultou fazer os ajustes necessários.
O governo de Nicolás Maduro enfrenta o dilema de retificar os descalabros econômicos de Chávez, ao mesmo tempo em que rende homenagens ao Comandante Eterno. A magnitude do fracasso macroeconômico herdado levou o aparato produtivo do país à beira do colapso. Pôs-se em evidência a necessidade imperiosa de modificar a política econômica.
As forças armadas se converteram num corpo politizado a serviço do chavismo. O Tribunal Supremo de Justiça permitiu aos militares participar de atos proselitistas. No início do mês, 229 oficiais foram promovidos a generais e almirantes. A cerimônia teve lugar ante o túmulo de Chávez, no Quartel da Montanha. Militares da reserva governam vários estados e ocupam altos cargos na administração. O ministro da Fazenda é um general de brigada e o comandante que está deixando a força aérea dirige a Corporação Venezuelana de Comércio Exterior. Está se consolidando, dessa maneira, um regime militar sob uma fachada civil.
Abandonou-se o modelo soviético de planejamento centralizado. Desapareceu o propósito de arruinar a empresa privada. Deseja-se reduzir a severidade do sistema de controles. Enquanto se dá essa virada, o regime está disposto a reprimir as manifestações de inconformidade popular com a brutalidade requerida.
Ainda resta saber se o governo tem suficiente apoio e capacidade técnica para executar essas mudanças. Porque o que se propõe é desenhar uma versão um pouco menos primitiva do chavismo.
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia
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