Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 19, 2014

Exceções e excelência - Celso Ming

Exceções e excelência - Economia - Estadão

Exceções e excelência

CELSO MING - O Estado de S.Paulo

19 Julho 2014 | 02h 02

A indústria vai afundando no marasmo e no desânimo. Ontem, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial chegou ao nível mais baixo desde 1999 (veja o gráfico).

Isso não tem de ser assim. E não é assim em pelo menos dois outros segmentos do setor produtivo brasileiro, o agronegócio e a Embraer, que seguem esbanjando excelência e resultados, embora operem nas mesmas condições adversas dos demais.

Nos últimos três anos, o governo Dilma tinha um diagnóstico: falta de demanda. Com base nele, deu corda aos experimentos chamados de Nova Matriz Macroeconômica. Tudo o que pode ser afrouxado nas contas públicas foi afrouxado, os juros foram derrubados na marra, o Banco Central foi levado a desvalorizar o real, o governo fez de tudo para esticar o crédito e os empresários foram convocados a investir e soltar seu espírito animal.

As coisas deram errado, a atividade econômica está se prostrando e a inflação vai para 7% ao ano. De todos os cantos, a queixa é de que o sistema produtivo brasileiro está perdendo competitividade. Apesar da sucessão de pacotes de bondades feitos de isenções fiscais, desonerações, reservas de mercado e proteção comercial nunca vista, a indústria está se desmilinguindo, não inova e não investe. Até a presidente Dilma parece convencida de que tudo tem de ser feito para aumentar a produtividade, embora não seja capaz de indicar o caminho.

O agronegócio bate um recorde atrás do outro, em volume de produção e produtividade. Todos os dias incorpora tecnologias de ponta em biogenética, manejo do solo e mecanização que, por sua vez, exigem conhecimento e treinamento de mão de obra especializada. Seus resultados são cada vez melhores, mesmo operando nas mesmas condições climáticas adversas que prostraram o setor energético; mesmo tendo de abastecer-se de insumos e escoar sua produção pela mesma rede de infraestrutura sucateada e cara; mesmo enfrentando um dólar barato demais, que derruba as receitas com exportação; e mesmo numa conjuntura de queda das cotações internacionais de commodities.

A Embraer, por sua vez, não conta mais com a proteção do governo desde 1994, quando foi privatizada. Enfrenta concorrência externa atroz, que nem sempre joga limpo. Mas fecha um contrato atrás do outro. Seu aviões incorporam os maiores avanços tecnológicos e, por isso, podem apresentar os menores índices de custo operacional na sua faixa. A Embraer tem autonomia para comprar peças, componentes e setores inteiros de aeronaves em qualquer lugar do mundo, nas melhores condições. Seus engenheiros não se preocupam com índices de conteúdo local nem com proteções especiais ao setor de aeronáutica.

Que tal se os encarregados de formular novas políticas para o Brasil, seja de que partido e para que candidato forem, olhassem mais atentamente para esses dois exemplos e tirassem daí os ensinamentos para o resto da economia?



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