O GLOBO - 26/07
O economista-chefe do Credit Suisse, Nilson Teixeira, que tinha a posição mais otimista do mercado, vai divulgar nova previsão com bem menos crescimento e mais inflação. A projeção de 4% de alta do PIB para 2013 foi revista para 2%. A inflação foi de 5,5% para 5,8%. A indústria: de 3,5% para 1,5%. As causas são internas: perda de confiança na política econômica e inflação.
No ano passado, Nilson Teixeira foi o primeiro a prever que o PIB de 2012 ficaria em torno de 1%. Na época, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou a projeção de piada. Mas Teixeira estava certo, e o resultado acabou sendo 0,9%. Para este ano, o economista sustentou um otimismo destoante. Ainda em março, em entrevista ao meu programa na GloboNews, manteve a projeção de 4% para 2013, quando muitos bancos e consultorias já haviam cortado drasticamente o número. Ele justifica a mudança radical: houve muitas surpresas negativas, quase todas da própria economia brasileira.
- Não revemos o PIB com muita frequência e essa projeção de 4% foi feita antes da divulgação do resultado fraco do primeiro trimestre, que também trouxe revisão dos números de outros trimestres de 2012. Houve muita coisa nova no período: inflação mais alta, aumento de juros, perda muito grande de credibilidade da política fiscal, queda na confiança de empresários e consumidores - disse Nilson.
O economista argumenta que parte do projetado aconteceu: os investimentos foram fortes no início do ano, puxados pelas máquinas agrícolas, tratores e caminhões. A agricultura teve o crescimento alto esperado e as exportações para a Argentina também cresceram no primeiro semestre - 5% segundo dados do MDIC - e isso ajudou a indústria, porque 7% da produção de manufaturados vão para lá.
Mas as decepções foram maiores. O consumo foi muito impactado pela inflação, que se manteve alta por um período prolongado. Principalmente as famílias de baixa renda foram afetadas com a alta dos alimentos. A desvalorização do real estava fora do radar e agora vai impedir que os preços caiam de forma mais acentuada no final do ano. Nilson previa que os alimentos fechassem com alta em torno de 5%, depois de baterem na máxima de 14%. Agora, fala num número na casa de 8%:
- A inflação dos alimentos demorou mais a cair do que se esperava. Agora, com a desvalorização do real, esperamos um repasse para os preços que pode chegar a 0,6% do IPCA num período de 12 meses. Também está preocupando a defasagem do preço da gasolina e do diesel, que não está na conta e pode obrigar a um novo reajuste mais à frente.
A balança comercial teve uma forte redução do saldo, por causa das importações de petróleo e derivados. Isso não era previsto. No mercado de trabalho, a equipe econômica do Credit Suisse projeta aumento do desemprego médio este ano, para 5,7%. A taxa ainda é muito baixa, se comparada com os países em crise. Mas, explica Nilson, será o primeiro ano de alta desde 2004, quando se exclui 2009, atípico pela crise internacional. O aumento do salário real, que vinha oscilando ano a ano entre 2,7% e 4%, ficará na casa de 1,5%.
Nilson não acha, no entanto, que tenha havido uma mudança estrutural na economia brasileira que coloque o país condenado a uma taxa de crescimento de apenas 2%. Estima alta de 3% em 2014 e mantém o otimismo de que é possível voltar a crescer 4%. Mas avalia que houve perda de confiança muito grande na política econômica, por parte de empresários, investidores e famílias. Pelo lado externo, a ameaça de retirada de estímulos do Fed e a desaceleração da China também contribuíram para aumentar as incertezas.
- As principais causas são internas. O governo tomou algumas medidas corretas, reduziu o spread, custos setoriais, preço da energia. Mas é praticamente consenso que o intervencionismo está alto, e que se enfraqueceu a instituição da política fiscal. Isso afeta a confiança e os investimentos, que precisam crescer - disse.
Nilson Teixeira não vê nenhum gargalo novo na economia brasileira que já não estivesse presente quando o país cresceu 7,5%, em 2010. O que mudou, segundo o economista, foi a percepção sobre os problemas, por causa da perda de confiança na política econômica. Espera que haja uma mudança forte na postura do governo.