FOLHA DE SP - 26/07
Investigação nos EUA começa a desmontar outra rede criminosa no centro da finança mundial
Faz pelo menos um quarto de século que a grande finança mundial organiza quadrilhas, comete crimes grossos e contravenções à granel. Corrompe ou compra "legalmente" a elite política. As instituições privadas de "autorregulação" são cúmplices de inépcias e bandalheiras.
A finança mundial fabrica leis a fim de dispor livremente de seu capital, o que faz frequentemente com ganância incompetente e/ou criminosa. Como resultado, provoca crises abissais periódicas.
A sujeirada é limpa com dinheiro público. Grandes acionistas e credores muita vez saem ilesos. Na finança, o livre mercado é o reino da livre arbitrariedade.
Ontem, a empresa de uma das maiores estrelas da finança mundial, a SAC, de Steven Cohen, foi acusada pelo governo americano de usar "informação privilegiada de modo substancial, amplo e sem precedentes conhecidos no negócio de "hedge funds". Isto é, uma firma de aplicações financeiras complexas que atende clientes muito ricos ganhava dinheiro usando ilegalmente informação sobre empresas negociadas em Bolsa.
Há seis anos promotores do Ministério da Justiça dos EUA, o FBI e a SEC (a CVM deles) investigam dezenas de financistas ligados a Cohen e a vários fundos de hedge. Vários admitiram culpa, alguns foram condenados. O governo parece não ter prova contra Cohen. Mas seu fundo, que rendeu 30% ao ano por muito tempo, está à beira de ir à breca.
Não se trata de "caso isolado" ou de bandidos nas bordas do sistema. O crime grosso é sistemático. A bandalha engrossou com a desregulamentação financeira nos EUA, a partir dos anos 1980. O primeiro colapso espetacular ocorreu em meados daquela década, com as caixas de poupança (Savings & Loans).
A bolha financeira dos anos 1990, que explodiu em 2001, provocou uma maré baixa que revelou quanta gente nadava nua com a mão no bolso. Auditores então famosíssimos (Arthur Andersen e cúmplices na banca) ajudavam empresas a fraudar o mercado (casos Enron, WorldCom, Tyco, GlobalCrossing, Lucent e Adelphia).
Nos anos 2000, bancões suíços se declararam culpados de formação de quadrilha para ajudar clientes a fraudar o Imposto de Renda nos EUA; outros bancões europeus assinaram acordos de centenas de milhões de dólares a fim de evitar processos criminais do mesmo tipo.
Além de ter sido uma das alocações de capital mais estúpidas da história, o caso dos empréstimos imobiliários que deram origem à crise de 2008 teve também origem em fraudes na concessão de empréstimos para o Zé Mané da esquina, afora outros rolos com o papelório financeiro complexo e gestão temerária, para dizer o mínimo.
No entanto, o crime maior mesmo foi o de arrebanhar o sistema político e legal para legitimar o financismo estéril. A conta é paga pelo público americano e cai no lombo dos cidadãos do mundo afora, esfolados por "pacotes de ajuste" da crise criada por essa gente.
A finança não precisa ser assim, claro. No cabresto (relativo), serviu bem à grande expansão do capitalismo mundial entre 1945 e 1973. Faz 30 anos, desembestada, poderosa demais, tornou-se uma casta corruptora, promotora de desigualdade, de crises recorrentes e de degradação ainda maior da democracia.
Investigação nos EUA começa a desmontar outra rede criminosa no centro da finança mundial
Faz pelo menos um quarto de século que a grande finança mundial organiza quadrilhas, comete crimes grossos e contravenções à granel. Corrompe ou compra "legalmente" a elite política. As instituições privadas de "autorregulação" são cúmplices de inépcias e bandalheiras.
A finança mundial fabrica leis a fim de dispor livremente de seu capital, o que faz frequentemente com ganância incompetente e/ou criminosa. Como resultado, provoca crises abissais periódicas.
A sujeirada é limpa com dinheiro público. Grandes acionistas e credores muita vez saem ilesos. Na finança, o livre mercado é o reino da livre arbitrariedade.
Ontem, a empresa de uma das maiores estrelas da finança mundial, a SAC, de Steven Cohen, foi acusada pelo governo americano de usar "informação privilegiada de modo substancial, amplo e sem precedentes conhecidos no negócio de "hedge funds". Isto é, uma firma de aplicações financeiras complexas que atende clientes muito ricos ganhava dinheiro usando ilegalmente informação sobre empresas negociadas em Bolsa.
Há seis anos promotores do Ministério da Justiça dos EUA, o FBI e a SEC (a CVM deles) investigam dezenas de financistas ligados a Cohen e a vários fundos de hedge. Vários admitiram culpa, alguns foram condenados. O governo parece não ter prova contra Cohen. Mas seu fundo, que rendeu 30% ao ano por muito tempo, está à beira de ir à breca.
Não se trata de "caso isolado" ou de bandidos nas bordas do sistema. O crime grosso é sistemático. A bandalha engrossou com a desregulamentação financeira nos EUA, a partir dos anos 1980. O primeiro colapso espetacular ocorreu em meados daquela década, com as caixas de poupança (Savings & Loans).
A bolha financeira dos anos 1990, que explodiu em 2001, provocou uma maré baixa que revelou quanta gente nadava nua com a mão no bolso. Auditores então famosíssimos (Arthur Andersen e cúmplices na banca) ajudavam empresas a fraudar o mercado (casos Enron, WorldCom, Tyco, GlobalCrossing, Lucent e Adelphia).
Nos anos 2000, bancões suíços se declararam culpados de formação de quadrilha para ajudar clientes a fraudar o Imposto de Renda nos EUA; outros bancões europeus assinaram acordos de centenas de milhões de dólares a fim de evitar processos criminais do mesmo tipo.
Além de ter sido uma das alocações de capital mais estúpidas da história, o caso dos empréstimos imobiliários que deram origem à crise de 2008 teve também origem em fraudes na concessão de empréstimos para o Zé Mané da esquina, afora outros rolos com o papelório financeiro complexo e gestão temerária, para dizer o mínimo.
No entanto, o crime maior mesmo foi o de arrebanhar o sistema político e legal para legitimar o financismo estéril. A conta é paga pelo público americano e cai no lombo dos cidadãos do mundo afora, esfolados por "pacotes de ajuste" da crise criada por essa gente.
A finança não precisa ser assim, claro. No cabresto (relativo), serviu bem à grande expansão do capitalismo mundial entre 1945 e 1973. Faz 30 anos, desembestada, poderosa demais, tornou-se uma casta corruptora, promotora de desigualdade, de crises recorrentes e de degradação ainda maior da democracia.