Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 26, 2013

Mais um sinal de esgotamento - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 26/07


Um mercado de trabalho mais acomodado deve ajudar o Banco Central a combater a inflação


Os dados sobre o emprego formal divulgados nesta semana reforçam o quadro de esgotamento do modelo de crescimento do governo Lula, que teve continuidade com Dilma.

O aumento do desemprego registrado no ultimo mês pelo IBGE é o resultado do crescimento econômico medíocre dos últimos dois anos. Usando uma imagem popular, ele é mais uma carta de um castelo de baralho a ruir em razão de fatores econômicos que vêm ocorrendo há algum tempo. E o governo não se deu ainda conta disso.

Colocadas por André Muller, economista que trabalha comigo na Quest, em um mesmo gráfico, as taxas de desemprego mensal de cada um dos últimos quatro anos compõem uma figura interessante e muito esclarecedora.

Pela primeira vez, desde 2009, a curva que une os dados mensais da taxa de desemprego do ano corrente (2013) cruza a linha do ano anterior (2012).

Em outras palavras, pela primeira vez em mais de quatro anos a taxa de desemprego em um mês do ano corrente é maior do que a verificada em mesmo mês do ano anterior.

Outra forma de olhar a mudança de sinal na dinâmica do mercado de trabalho é a de comparar o volume de novos postos formais criados no período de 12 meses no ano (t) com o mesmo número do ano (t-1).

Nos 12 meses até junho passado, foram criados apenas 667,5 mil novos postos formais de trabalho, um número inferior ao de novos entrantes no mercado nesse mesmo período. Essa mesma estatística era de 2,15 milhões na passagem de 2010 para 2011, momento em que se inicia um processo continuado de queda até se chegar a junho último.

Mas esse aumento da taxa de desemprego, motivado pela menor geração de postos formais de trabalho, não deve chegar a algo dramático nos próximos meses.

O crescimento econômico atual --próximo de 2% ao ano-- é suficiente para manter a população ocupada crescendo a taxas bem modestas, com o aumento do desemprego vindo da entrada de um número maior de novos trabalhadores no mercado.

Mas esse descompasso será suficiente para diminuir a pressão dos sindicatos sobre as empresas na busca de ganhos reais de salários e, indiretamente, sobre a inflação.

Esta descompressão já está chegando ao mercado de serviços pessoais, segmento que tem mostrado uma inflação acima dos 8% ao ano nos últimos anos.

A menor pressão vinda de um mercado de trabalho em acomodação deve ajudar a tarefa do Banco Central no combate à inflação.

Depois de um ajuste forte nos preços dos alimentos --que ainda está ocorrendo--, uma menor taxa de inflação nos mercados de serviços pode dar continuidade à descompressão do IPCA na parte final de 2013 e em 2014.

Com isso, o cenário de catástrofe, pintado pelos mais afobados há alguns meses, deve ser substituído por um olhar mais calmo para o comportamento dos preços, com reflexos sobre as previsões para 2014 e que já se encontram abaixo do número mágico de 6% ao ano.

Fica no ar apenas a questão da taxa de câmbio. A continuidade da especulação com o valor das moedas emergentes, em razão de um dólar forte e do crescimento mais fraco da China, vem provocando uma desvalorização adicional da moeda brasileira.

Pelo menos temos agora um Banco Central que olha para a taxa de câmbio não como um fator para ajudar no crescimento econômico, mas como um preço que pode atrapalhar seus esforços de estabilizar os índices de inflação em níveis mais próximos do centro da meta em 2014.

Aliás, foi a desvalorização forçada do real, inclusive pela ação da mesa de câmbio do Banco Central, um ano atrás, que fez com que a inflação mudasse de patamar.

A pressão de hoje sobre nossa moeda tem origem externa, e a ação do BC vendendo dólares nos mercados de câmbio é muito mais limitada. A eficácia de suas ações na tentativa de estabilizar o real depende da dinâmica de outros mercados, principalmente os de juros nos Estados Unidos.

Resta-nos apenas rezar para que o banco central americano tenha sucesso na transição de sua política monetária, algo que deve começar a acontecer em setembro.

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