O Estado de S. Paulo - 01/08/2012 |
Ajoelhou, tem de rezar. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, avisou na quinta-feira que "faria de tudo para salvar o euro". Logo em seguida, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, apoiaram Draghi e pareceram avalizar tudo o que ele fizesse para impedir que a área do euro despencasse abismo abaixo. Nesta terça-feira, o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, juntamente com Hollande, reafirmaram o apoio ao BCE. Os mercados festejaram na semana passada ou porque acreditaram ou porque lhes convinha acreditar. Falta começar a reza. Falta saber quais serão as medidas heroicas em gestação no BCE para tirar o euro da encalacrada em que está. O problema imediato vinha sendo a iminência do colapso da capacidade de financiamento das dívidas da Espanha e da Itália. Se a quebra ou de um ou de outro acontecesse, seria desastre de vastas proporções. Os tomadores de títulos estavam tão desinteressados que as novas emissões de bônus da Espanha e da Itália precisaram pagar juros já acima de 7,0% ao ano para encontrar compradores. Acima desse nível, começa a contagem regressiva para a quebra. Para esta quarta-feira, está agendada nova reunião do BCE para definir pelo nível dos juros básicos. É para quando se esperam ou novas atitudes ou alguma indicação do que fará Draghi para cumprir o prometido. Mas, afinal, o que o BCE pode fazer e quais seriam os riscos dessas providências? Uma ideia é reduzir ainda mais os juros básicos que, atualmente nos 0,75% ao ano, estão no menor nível histórico. Em princípio, não seria recomendável porque a inflação do bloco está em torno de 2,5%, além dos 2,0% que constituem a meta de inflação. O problema é que somente juros um quarto de ponto porcentual mais baixos parecem pouco para o pretendido. Recomendação insistente de analistas de várias tendências é de que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), e, futuramente, a instituição que suceder-lhe, o Mecanismo Europeu de Estabilização (ESM), seja autorizado a operar como banco. Assim, poderia levantar recursos ilimitados no BCE (o que um tesouro não pode fazer)e, portanto, recomprar os títulos de dívida que não encontrassem mercado. Variação do mesmo movimento, mas sem intermediários, seria o BCE voltar às compras de títulos no mercado financeiro, prática da qual se ausentou nas últimas 20 semanas. Essas duas opções esbarram com obstáculos sérios. Essas recompras de títulos teriam por objetivo criar mercado para eles e, em consequência disso, derrubar seu rendimento (yield), para que os lançamentos de dívida nova pudessem ser realizados com juros bem mais baixos. À medida que o BCE fizesse essas intervenções, derrubaria artificialmente os juros, impedindo que se estabelecesse a percepção do que fosse título bom e título ruim. Em outras palavras, o BCE estaria agindo para que os títulos de países encrencados parecessem tão bons (ou quase) quanto os da Alemanha. E, se os títulos de pior qualidade fossem equiparáveis aos de boa qualidade, ficaria também prejudicado o nível adequado de capital exigido dos bancos que carregassem essas dívidas em seus balanços. É por isso que certos analistas avisam que se o EFSF (ou o ESM) ou o BCE se pusessem a recomprar títulos de dívida da área do euro, teriam de formar com uma "cesta neutra", que não gerasse deformações. Ou seja, teriam de recomprar títulos de toda a área do euro (não só de Espanha e Itália), na proporção de suas economias ou de sua participação no capital do BCE. Se a exigência da "cesta neutra" fosse cumprida, a grande beneficiária seria a Alemanha, que já paga juros baixíssimos. Outra opção do BCE seria uma nova Operação de Refinanciamento de Longo Prazo (LTRO, na sigla em inglês). É um empréstimo de volume ilimitado aos bancos da área, por três anos, para que usem os recursos assim obtidos na recompra de títulos no mercado financeiro. Dois problemas: (1) o BCE já lançou duas LTRO, uma em dezembro e a outra em fevereiro, no valor total de 1 trilhão de euros, e, aparentemente, não conseguiu mudar o quadro geral da área; e (2) corresponde a gigantesca emissão de moeda que poderá contribuir para empurrar a inflação. O risco é que, ajoelhado ou não, o BCE não puxe nenhuma reza. Se não fizer nada, como não vem fazendo hoje, a esperança tem tudo para se transformar em gigantesca decepção. |
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
quarta-feira, agosto 01, 2012
Falta cumprir — Celso Ming
Arquivo do blog
-
▼
2012
(2586)
-
▼
agosto
(339)
- Supremo reforça independência entre Poderes - EDIT...
- Privatizações do PT - ROBERTO FREIRE
- O mensalão e o cavalo de Tolstoi - FERNANDO GABEIRA
- Não esqueçam, Brasil é com "s" - CLAUDIO CEZAR HEN...
- Luzes na ribalta - RODOLFO LANDIM
- O Copom se transformou em instrumento do governo -...
- O outro lado da moeda - MÍRIAM LEITÃO
- Os rumos do STF - MERVAL PEREIRA
- O início do fim dos meios sujos - NELSON MOTTA
- Tortuosos caminhos da política fiscal do PT - MAIL...
- Reincidência - DORA KRAMER
- Quando o preço alto ajuda - ALBERTO TAMER
- Polêmica natimorta faz um ano - VINICIUS TORRES FR...
- Um marco no caminho - MÍRIAM LEITÃO
- Faroeste cambial - CELSO MING
- Lógica perversa - DORA KRAMER
- O réu ausente - DEMÉTRIO MAGNOLI
- Farsa desmontada - MERVAL PEREIRA
- Verdade processual, mentira real - CARLOS ALBERTO ...
- Esqueceram, outra vez - CELSO PINTO DE MELO
- Gastos públicos serão previsíveis por três anos - ...
- CLAUDIO HUMBERTO
- Dever de coerência - DORA KRAMER
- Provas e indícios - MERVAL PEREIRA
- Cartas na mesa - EDITORIAL FOLHA DE SP
- Sobra milho, falta milho - EDITORIAL ESTADÃO
- Convergência no Supremo - EDITORIAL ESTADÃO
- A nota de Mercadante - EDITORIAL da FOLHA
- Grevismo anarquista - RICARDO VÉLEZ RODRIGUEZ
- Emitir moeda para salvar - CELSO MING
- Os efeitos do silêncio - FERNANDO LEAL
- Risco e chance do novo gás - MIRIAM LEITÃO
- É hora de pensar na oferta - ROLF KUNTZ
- CLAUDIO HUMBERTO
- Legado do padim Ciço de Garanhuns em jogo - JOSÉ N...
- Relatório perdido - RUY CASTRO
- Uma carta, talvez uma decisão - ROBERTO DaMATTA
- Quem nos navega é o mar - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
- E aí? O que fazer? - ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ
- As razões do otimismo do governo - CRISTIANO ROMERO
- Pensões também precisam de reforma - EDITORIAL O G...
- A mágica não funcionou - EDITORIAL O ESTADÃO
- A desmoralização da política - Marco Antonio Villa
- Relações de Lula e Campos por um fio Raymundo Costa
- Mensalão: o equilíbrio na decisão histórica - SÉRG...
- O Brasil vai mudando - MERVAL PEREIRA
- Meu avô entrou no "Face" - JAIRO MARQUES
- A Ásia e a estratégia de defesa dos EUA - RUBENS B...
- Dilma, Lula e a cumbuca - EDITORIAL O ESTADÃO
- Efeito detergente - DORA KRAMER
- O Brasil perdeu a graça? - VINICIUS TORRES FREIRE
- Perseguição e combate à livre negociação - JOSÉ PA...
- Semana de juros e PIB - MIRIAM LEITÃO
- Caminho suave - JOSÉ PAULO KUPFER
- Poupança e juro baixo - CELSO MING
- Por quê? - EDITORIAL ZERO HORA
- CLAUDIO HUMBERTO
- O bom juiz - RICARDO NOBLAT
- Dilema da escova de dente - RUY CASTRO
- Pequena história de um grande equívoco Marco Antôn...
- Lewando... para onde? Paulo Guedes
- A piada, os marcianos e as institui;cões Denis Ler...
- Tá tudo dominado, por Mary Zaidan
- Jacques Loussier Play Bach trio
- O tranco da carroça Dora Kramer
- Copa: um quadro desolador Editorial Estadão
- Matando com eficácia João Ubaldo
- O STF corre perigo Marco Antonio Villa
- Primavera Árabe e inverno no Itamaraty Marcelo Cou...
- O custoso Legislativo municipal Gaudêncio Torquato
- O abismo entre ricos e pobres Suely Caldas
- As coisas boas também acontecem Elio Gaspari
- BCs voltam à carga Editorial da Folha
- Conversa fiada Ferreira Gullar
- E a CPI do Cachoeira? Danuza Leão
- Cenas da miséria americana Vinicius Torres Freire
- Monopólio indefensável Editorial da Folha
- Um prego no caixão do Mercosul Editorial Estadão
- Metas demais - CELSO MING
- : Os autos e a vida Merval Pereira
- Tempo para entender Míriam Leitão
- As razões de Lewandowski Merval Pereira
- Greve contra o público -Editorial da Folha
- A carga dos tribunais superiores - Editorial Estadão
- Os trapalhões Celso Ming
- Contrastes do mensalão Walter Ceneviva
- Galt, o ouro e Deus Paul Krugman
- Pior para o mundo Ruy Castro
- Sem nexo Merval Pereira
- : Quando setembro vier Míriam Leitão
- Não usaram black-tie Dora Kramer
- Ódio para todos -Nelson Motta
- É a poupança externa Celso Ming
- A política comanda a economia - LUIZ CARLOS MENDON...
- Quem calcula os custos do automóvel nas cidades? -...
- Condenação do futuro - ROBERTO FREIRE
- Greve do funcionalismo: leis a favor da minoria J...
- Pobre América Latina EDITORIAL FOLHA
- Brasil depende cada vez mais do capital estrangeir...
- Galeão e Confins podem ser vítimas do corporativis...
-
▼
agosto
(339)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA